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A Abordagem Histórico-Crítica na Formação Docente (página 3)

Seguindo o caminho das pedras, temos a problematização como passo seguinte, a qual "[...] é o fio condutor de todo o processo de ensino-aprendizagem [...]" (ibidem, 49).  É agora que se inicia o trabalho com o conteúdo sistematizado, pois ele é entendido como uma construção histórica, não natural; ele serve para responder às necessidades humanas.

Em razão disso, podemos, com base nos estudos de Gasparin (2007, p. 35) afirmar que "a problematização é um elemento-chave na transição entre a prática e a teoria, isto é, entre o fazer cotidiano e a cultura elaborada. É o momento em que se inicia o trabalho com o conteúdo sistematizado". Esses conteúdos irão responder às dificuldades postas pela prática social, por isso deve haver uma seleção criteriosa acerca desses conteúdos que irão servir para mostrar a realidade.

Contudo temos que ter em mente que a problematização

[...] não pode ser apenas uma estratégia pela qual um conjunto de conteúdos preelaborados, dado ao professor, passaria por um processo de seleção em função das questões relevantes para a prática social. Haveria então um enlaçamento artificial entre os conteúdos necessários em uma determinada cultura e aqueles pontos que a prática social de um determinado grupo considera relevantes (WACHOWICZ, 1989, p. 100 apud GASPARIN, 2007, p. 38).


Então os principais problemas lançados pela prática social devem servir como trilho para amenizar os problemas existente no meio em que se está inserido, e quem vai ajudar nesta empreitada são os conteúdos preestabelecidos pelo currículo escolar e escolhidos pelo docente como necessários a serem dominados, ou os conhecimentos discutidos em uma unidade do programa da disciplina trabalhada que resolverão as questões postas pela prática social (SAVIANI, 2007).

Chegamos agora ao ponto onde os confrontos são essenciais no processo de ensino-aprendizagem. Na instrumentalização os estudantes e o objeto da sua aprendizagem são postos frente a frente através da mediação do educador. É constantemente um triângulo equilátero, visto que nos remete a uma relação triádica marcada pelas deliberações sociais e singulares que caracterizam os sujeitos aprendentes, o professor e o conteúdo (GASPARIN, 2007).

Esta relação se torna o ápice deste procedimento de ensino. Porque as dúvidas, as inquietações, os confrontos são pertinentes ao desenvolvimento do conhecimento e assim da sociedade por inteiro. O professor assume seu real papel de mediador ajudando seus estudantes a construírem sua representação mental do objeto do conhecimento.

Tendo em vista os dizeres de Saviani (2007, p. 71) a instrumentalização é o momento em que os estudantes se apropriam dos

[...] instrumentos teóricos e práticos necessários ao equacionamento dos problemas detectados na prática social [...] Trata-se da apropriação pelas camadas populares das ferramentas culturais necessárias à luta social que travam diuturnamente para se libertar das condições de exploração em que vivem.

Na atualidade esta máxima do "método" torna-se ímpar, pois a educação passou, por muitos, a ser concebida como um bem de produção, possuindo um valor econômico próprio e desse modo vem sendo colocado em determinação direta das condições de funcionamento do mercado capitalista: algo intolerável (SAVIANI, 2005).

O quarto passo é o trecho do percurso em que o educando sinaliza o quanto incorporou dos conteúdos trabalhados; qual seu novo grau de aprendizagem. Na prática é o resumo que o estudante faz do conteúdo aprendido, é sua manifestação acerca do novo conceito alcançado.

Saviani (2007, p. 72) explica dizendo que cartase é

O momento da expressão elaborada da nova forma de entendimento da prática social a que se ascendeu [...] trata-se da efetiva incorporação dos instrumentos culturais, transformados agora em elementos ativos de transformação social [...] Daí porque o momento catártico pode ser considerado o ponto culminante do processo educativo, já que é aí que se realiza pela mediação da análise levada a cabo no processo de ensino, a passagem da síncrese à síntese; em conseqüência, manifesta-se nos alunos a capacidade de expressarem uma compreensão da prática em termos tão elaborados quanto era possível ao professor. 

Valendo-nos da afirmação de Saviani podemos dizer que o estudante sai do senso comum, de suas concepções caóticas pra entrar no plano científico. Ele passa a entender a realidade com base em um olhar holístico, mais consistente e melhor estruturado. Segundo Gasparin (2007, p. 133), "[...] os conteúdos tornam-se verdadeiramente significativos porque passam a fazer parte integrante e consciente do sistema científico, cultural e social de conhecimentos [...]", para assim, realizarmos a elaboração teórica da nova síntese e a expressão prática dela.

Por último, temos a prática social final que é o mesmo nível de desenvolvimento real denominado por Vygotsky. Visto que, neste momento constatamos que o estudante já consegue realizar suas atividades sem ajuda da pessoa mais experiente. Através deste prisma, temos que

A Prática Social Final é a confirmação de que aquilo que o educando somente conseguia realizar com a ajuda dos outros agora o consegue sozinho, ainda que trabalhando em grupo. É a expressão mais forte de que de fato se apropriou do conteúdo, aprendeu, e por isso sabe e aplica. É o novo uso social dos conteúdos científicos aprendidos na escola (ibidem, p. 148).

Por isso que

Cabe ao ensino escolar, portanto, a importante tarefa de transmitir à criança os conteúdos historicamente produzidos e socialmente necessários, selecionando o que desses conteúdos encontra-se, a cada momento do processo pedagógico, na zona de desenvolvimento próximo [...] (DUARTE, 2007, p. 98).

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Como referenciar: "A Abordagem Histórico-Crítica na Formação Docente" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 25/04/2024 às 10:51. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/abordagemhistoricocritica/index.php?pagina=2