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Gestão Democrática: Fatores que Dificultam a Realização (página 2)

Metodologia

Com enfoque na questão sobre a participação da comunidade no processo de tomada de decisão. Decidimos neste estudo utilizar a pesquisa qualitativa etnográfica, com observação no ambiente escolar e na comunidade que comparecia ao local, aleatoriamente, para diversos fins.

A coleta de dados a priori se deu pela escolha de três unidades escolares de diferentes regiões da cidade de São José dos Campos, após foi realizado a visita ao local de estudo para conhecimento do campo e apresentação dos observadores, logo em seguida foram direcionadas as entrevistas aos diretores, professores e alunos. Em um terceiro momento, entrevistamos os pais que compareciam à unidade escolar para buscar seus filhos, utilizar os serviços de secretaria entre outros assuntos.

Observamos por meio das entrevistas fatores que dificultam a participação da comunidade no processo de gestão democrática. Como estudado na bibliografia, o processo democrático se dá pela participação efetiva de todos que o compõe.
Primeiramente, queremos levar em consideração que o primeiro passo para que a comunidade se sinta atraída em participar da escola é necessário que a escola também participe da comunidade, conheça sua população, esteja sempre em contato com a comunidade local.

É importante ressaltar que uma escola para ser realmente democrática não deve apenas abrir espaço para a comunidade sem mesmo divulgar essa participação como um direito.

"Não basta, entretanto, ter presente a necessidade de participação da população na escola. É preciso verificar em que condições essa participação pode tornar-se realidade?. (PARO, 2002 p. 40)

A escola não deve permitir-se ser uma ilha, que isoladamente vive por si só. É importante um planejamento linear em que as necessidades da comunidade estejam em pauta como um dos principais planos em uma discussão que envolva a própria comunidade na tomada de decisão.

É através dessa interação que a comunidade pode além de cobrar e exigir melhorias, participar e ver pessoalmente como realmente são os processos escolares, fazendo assim acontecer a democracia.

A participação da comunidade na escola é previsto por lei, conforme artigo 12º, inciso VI da LDB nº 9.394/96:

"Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola." (BRASIL, 1996)

É fato que quando os pais conhecem verdadeiramente a escola que seus filhos estudam, nota-se mais responsabilidade e comprometimento.

Durante as entrevistas realizadas aos professores, dentre suas respostas, vimos que estes também consideram a participação dos pais como peça fundamental no processo de democratização. Podemos citar como exemplo a fala de uma professora dos anos iniciais, que ao ser questionado sobre o que faria se fosse diretora de sua escola, respondeu:

"ouviria pais, professores e funcionários, pois a escola não é feita só da equipe gestora". (RENATA , Professora da E.E. João Paulo).

No comentário supracitado é possível afirmar que para a participação da comunidade tornar-se um plano concreto é necessário que haja iniciativa por parte da gestão da escola, em querer este envolvimento.

Ao questionarmos os alunos, não identificamos respostas que relacionassem a participação da comunidade na escola, talvez por desconhecerem o que realmente é a democracia na escola.

Suponhamos que um diretor que compareça a unidade escolar para cumprir sua carga horária de trabalho e dentro deste tempo fique apenas sentado em sua cadeira delegando e atendendo o que precise dentro de sua própria sala. Nesse caso, o que o principal intermediador do processo democrático está fazendo para participar ativamente na comunidade? Se a escola não participa da comunidade, então como atrair a mesma para participação?

Como diz Vitor Henrique Paro:

"Isto deveria alertar-nos para a necessidade de a escola se aproximar da comunidade, procurando auscultar seus reais problemas e interesses. A falta dessa aproximação, dessa postura de ouvir o outro, parece explicar em grande parte o fracasso de iniciativas paternalistas de gestão colegiada e de participação que, por mais bem intencionadas que sejam, procuram agir "em nome da comunidade", sem antes ouvir as pessoas e os grupos pretensamente favorecidos com o processo e sem dar-lhes acesso ao questionamento da própria forma de participação? (PARO, 2002, p. 27).

Esta questão é o ponto de partida para diversos pensamentos e análises, que de fato geram os fatores, estes quais, alguns deles estão representados neste artigo.

Nas entrevistas realizadas com os pais de alunos que compareciam a unidade escolar, foram identificadas diversas respostas que nos permitiu uma reflexão mais assertiva sobre a relação dos mesmos com a escola.
Em muitos dos casos, os pais alegam não participar devido ao exercício do trabalho que não os dispõe de horário para tal ação, submissos ao capitalismo em que os empregadores visando lucros não cedem esses momentos.
Outrossim, tivemos pais que disseram participar as vezes, quando se é permitido. Neste sentido vemos um dos principais fatores, a visão distorcida da escola sobre a gestão democrática.
Como disse Vitor Henrique Paro:

"se a participação depende de alguém que dá abertura ou que permite sua manifestação, então a prática em que tem lugar essa participação não pode ser considerada democrática, pois democracia não se concede, se realiza" (PARO, 2002, pp. 18 e 19).

Essa visão distorcida é embasada no autoritarismo praticado pela própria escola que coloca a equipe gestora como suposta dona e não como facilitadora do processo democrático. Pode-se notar no relato da diretora Joana em uma das questões em que se fala sobre as atribuições do diretor:

"Delegar funções, administrar o prédio escolar, a parte pedagógica e financeira da escola." (JOANA, diretora da E.E. João Elias).

Vemos que não foi citado seu principal papel como gestor democrático, mas sim de quem está no poder, do que toma conta. Portanto fica visível a cultura autoritária e não democrática vivenciada atrás dos muros da E. E. João Elias, bem como em outras unidades.

Essa cultura de autoritarismo é refletida nos próprios alunos, que pouco conhece o que é o processo democrático. Quando questionamos sobre o que eles fariam se fosse o diretor de sua escola, colocaram por sua vez atitudes de autoritarismo como colocar mais respeito, dar suspensões, "botar" ordem e ao falar sobre a relação do diretor com os alunos disseram ser de respeito entre ambas às partes e outros disseram que não a veem, exceto nos casos mais graves de confusão em que é necessária a intervenção.

Outro fator observado foi através dos pais que responderam que não participam, mas não justificaram sua ausência. Notamos que alguns deles relataram não conhecer o diretor da escola, então se percebe a ausência da escola na comunidade, trazendo a problemática: O que faz a escola em seu planejamento para atrair a comunidade na participação dos processos escolares?

Os diretores e professores não mencionaram nenhum tipo de planejamento que demonstre a busca da escola em atrair a comunidade afim da realização da democracia.
Em contato direto com um dos diretores, questionamos como era o planejamento escolar em que obtivemos uma resposta limitada apenas aos membros interiores da escola, referindo-se a uma equipe participativa, conselho ou matriz curricular, porém o ponto a ser visualizado no que se refere à comunidade participar não entra em pauta.

Salvo o fato de que existe o Conselho Participativo de Classe  e o Conselho Escolar  que exigem a participação da comunidade como membros, porém a questão se fecha em ambos.

As demais participações somente são consideradas nos casos de datas festivas em que a escola promove eventos e pede a colaboração de mão de obra da comunidade. Com isso vale lembrar que a participação da comunidade não se resume apenas a estes momentos, a democracia participativa exige muito mais que essa presença.

Afirmamos esta ideia com a voz de uma mãe de aluno, que considera de suma importância à participação dos pais quando questionada sobre o que faria se fosse diretor de sua escola:

"Solicitaria mais a participação dos pais na escola porque acho que a família e a escola andando junto é a educação ideal". (NEUSA, mãe de aluno).

Assim é possível ter a asserção que boa parte da comunidade conhece o seu papel e que são conscientes que essa parceria entre escola e família deve haver, cabe à gestão escolar proporcionar meios que vão além do que já é determinado pelos conselhos e que assim proporcione uma proximidade maior da escola com a comunidade.

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Como referenciar: "Gestão Democrática: Fatores que Dificultam a Realização" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 20/04/2024 às 01:46. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/gestao_democratica_fatores/index.php?pagina=1