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Gramática da Língua Materna: História, Conceito e Ensino (página 2)


A primeira gramática elaborada pelo homem foi a do sânscrito cujo objetivo era o de descrever as categorias da língua para evitar "a corrupção" ou modernamente, as variações diatópicas e diastráticas.

Os hindus tiveram motivações religiosas ao descrever as categorias da língua. Panini foi o mais notável de todos os gramáticos hindus. Com o fim do mito grego, o mundo passa a ter novos "olhares", precisa de outras referências para compreensão do mundo, passa-se da contemplação para descrição, entre outros temas, a linguagem não escapou ao olhar grego que resultou na descoberta de algumas de suas categorias que influenciou a concepção de língua para além de sua época:

- Platão: discurso enquanto Logus, entidade que revelaria a relação entre agente e ação; - Aristóteles: acrescentou o artigo, pronome, preposição, categorias gerais do verbo e flexão nominal além de um "manual" de argumentação (Arte Retórica e Arte Poética);
- Estoicos: partes do discurso: verbo, conjunção; gênero. Estas descobertas, em algum sentido, prenunciavam a libertação da gramática do âmbito da filosofia, para deixar de ser uma mera contemplação e especulação.

Os romanos também deram sua contribuição:
- Dionísio da Trácia e Apolônio: ganhou relativa independência; refletiram sobre a sintaxe, das partes menores até ás partes maiores do discurso;
- Prisciano: descrição morfológica descobriu oito acidentes ou categorias: gênero e grau; - Varrão: primeiro gramático latino; preocupou-se com a etimologia, aspectos regulares e irregulares da linguagem; identificou as classes do nome, verbo, particípio, advérbio e conjunção. Já na Idade Média:
- São Tomaz de Aquino: estudou as classes gramaticais;
Port-Royal: sistematiza, conceitua gramática e as categorias gramaticais. Contemporaneamente:
- Barbosa (1871): influência iluminista, língua como instrumento analítico do pensamento. Foi muito complexo;
- João Ribeiro e Júlio Ribeiro: estudaram as palavras, reconheceram a disciplina lexicologia.

       Com Saussure, início do século XIX, pai da Linguística Contemporânea, a reflexão sobre a língua tomou outros rumos, tornou-se ciência e com ele todo um conjunto de abordagens conceituais e metodológicas que ainda não param de demandar "efeitos de sentido" (Pêcheux, 1997);

- NGB (13/8/52): Antenor Nascente. Clóvis Monteiro, Cândido Jucá (filho), Celso Cunha, Rocha Lima;
- Bidermam (1978) afirma que vigorou o aspecto político sobre o científico nas decisões. Assim, apesar da brevidade, é possível considerar o que consideramos gramáticas é apenas um dos aspectos da língua e não a sua totalidade, muito embora boa parte do ensino de língua para do pressuposto que o ensino de língua equivale ao ensino de gramática. Ensino de gramática Se ensinar já se constituiu por si só uma problemática teórica e "ideológica" (Pêcheux, 1997), o conteúdo e o que ensinar aumenta de forma substancial a polêmica, o que não quer dizer que seja algo negativo, mas sim o quanto ainda há uma tensão discursiva sobre o que ensinar na disciplina de Língua Portuguesa.

Assim, de forma simplista, o papel da escola é de ensinar à língua padrão a partir de certas condições aí consideradas as questões metodológicas; as outras normas o aluno já conhece, traz do seu espaço social. É de se lamentar que a escola além de ignorar e estigmatizar a norma em que o aluno se constituiu "sujeito" (Pêcheux, 1997). A escola promove abertamente a marginalização, o jogo da indiferença o que acaba também marginalizando o aluno e tudo que a sua norma representa em termos de "identidade e identificação" (Rodrigues, 2007). Nesse sentido, as aulas de língua deveriam ter como referência a leitura e produção de textos orais e escritos sem marginalizar a norma do aluno. De acordo com Geraldi (1993: 135),

a produção de texto (orais e escritos) como ponto de partida (como ponto de chegada) de todo processo de ensino/aprendizagem da língua. E isto não apenas por inspiração ideológica de devolução do direito à palavra às classes desprivilegiadas, para delas ouvirmos a história, contida e não contada, da grande maioria que hoje ocupa os bancos escolares.

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Como referenciar: "Gramática da Língua Materna: História, Conceito e Ensino" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 19/04/2024 às 14:51. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/gramtica_da_lngua_materna/index.php?pagina=1