Leitura no Primeiro Ano das Séries Iniciais: uma construção de significados (página 2)
Escrita e leitura: Natureza e desenvolvimento do processo
Inicialmente, se faz imprescindível antes de analisar a Escrita e leitura: sua natureza e desenvolvimento do processo, constatar o conceito de alfabetização, levando-se em conta que essa conceituação tem sido pontuada por diferentes análises e enfoques, privilegiando, em alguns casos, a abordagem mecânica do processo de aquisição da língua escrita, fundamentada na racionalidade técnica, cuja preocupação central é o como fazer (que métodos e técnicas utilizar), ao invés de direcionar-se, também, para o aspecto de como o aluno aprende. E, em outros casos, destacando tanto o caráter processual, complexo, quanto à necessidade de articulação entre os diferentes enfoques sobre o tema (contribuição das diferentes áreas: Lingüística, Sociolingüística, Psicolingüística, dentre outras).
Na análise de Soares (1998), observamos referências às significativas mudanças em relação à concepção do que é a alfabetização a partir da década de 80 (século XX), fundamentadas nas contribuições das Ciências Lingüísticas e na influência da teoria psicogenética da escrita (a partir das pesquisas de Emília Ferreiro, dando conta que criança aprende a escrever num processo de interação/ação com a língua escrita, construindo e testando hipóteses sobre a relação fala/escrita).
Assim se configura como sendo primordial o pensamento de Paulo Freire que é na interação com o contexto que a criança aprende, ou seja se faz prudente levar em consideração que "a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele". Assim linguagem e realidade se prendem dinamicamente.
Para o melhor esclarecimento, podemos dizer que quando a leitura da palavra está vinculada a leitura do mundo da criança, há maiores chances de essa ser entendida, compreendida.Isto constatada por todos os autores antes mencionados.
Entretanto precisamos considerar algumas alusões quanto a natureza e o desenvolvimento do processo de leitura e escrita, sem deixar de evidenciar que há muita controvérsia a respeito da temática.
A idéia apresentada por Barthes e Marty apud Matencio dizem que a palavra escrita não tem necessariamente uma relação com a oralidade. Barthes e Marty dizem que se o homem tem uma natureza necessariamente mediada pelo simbólico, ela não implica anterioridade da fala.
É nesta perspectiva que nos fala Vigotshy apud Matencio que a aprendizagem da criança, principalmente quando a escrita acontece antes mesmo de do início de sua aprendizagem sistematizada, esta muitas vezes estar embutida por um patrimônio de habilidades e destrezas, que muitas vezes se perde em visão da cultura elaborada.
Desse ponto de vista, Luria apud Matencio afirma que, há muita importância de se valorizar o conhecimento anterior da criança, esse conhecimento estaria vinculado, então ao reconhecimento do estágio de aprendizagem em que a criança se encontra.
Todos os autores antes mencionados comprovam a importância de se levar em consideração os conhecimentos prévios do educando, tão abordados e ratificados por Freire, quanto ao ato de ler.
No que se refere às questões cognitivas envolvidas na leitura, Kleiman (1993) ressalta que o processo de leitura passa por níveis, que se dá relacionado em primeiro lugar ás unidades lexicais, posteriormente aos mecanismos de agrupamentos lexicais até a sua interpretação semântica.
Nesse sentido precisamos conhecer o processo de leitura como uma prática de atribuição de significados que ultrapassa o momento em que é realizada e sua compreensão relaciona-se diretamente aos objetivos, interesses, conhecimentos, referenciais temáticos e textuais do leitor. Sendo necessário estabelecer por meio da leitura uma interação entre autor e leitor, mediado pelo texto.
No tocante a isso,vê-se a necessidade do processo ser vinculado ao contexto, proporcionando nesses termos mais conhecimentos, uma vez que quando estudamos o nosso meio, temos um interesse maior e consequentemente o aprendizado se dá de forma mais elaborado.
Portanto, o que se entende é que a leitura e a escrita na alfabetização transcende a mecânica do ler e do escrever (codificação/decodificação), ou seja, a alfabetização é um processo histórico-social multifacetado, envolvendo a natureza da língua escrita e as práticas culturais de seus usos. "Alfabetizar não é só ler, escrever, falar sem uma prática cultural e comunicativa, uma política cultural determinada" (Frago, 1993, p. 27).