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O Ensino da Matemática nas Classes de Alfabetização: Como é? Como deveria ser? (página 7)

O bom desempenho da criança nas primeiras séries e sua conseqüente permanência na escola subentendem um longo e cuidadoso trabalho anterior de coordenação motora, de percepção visual e auditiva, de conhecimentos verbais para comunicar-se e se expressar, de atenção e capacidade para seguir corretamente instruções, de atividades que desenvolvem o pensamento lógico, de reconhecimento e representação de pequenas quantidades, de atividades em grupo que visem a socialização e o desenvolvimento de hábitos de higiene e saúde...  A finalidade da pré-escola é, exatamente, dar condições para que as crianças, através de atividades orientadas, atinjam o máximo de suas potencialidades neste estágio, tornando-se preparadas, prontas para o ingresso no 1° grau. (DANTE, 1996, p. 8 e 9)

Emilia Ferreiro, uma pesquisadora sobre as questões da alfabetização, vai além da afirmativa de Dante. Ela que foi orientada por Piaget na conclusão de seu doutorado tem, também, os ensinamentos de Vygotsky impregnados nas suas pesquisas e conclusões. Ela afirma que:

A pré-escola deveria cumprir a função primordial de permitir às crianças que não tiveram convivência com adultos alfabetizados [...] obter essa informação básica sobre a qual o ensino cobra um sentido social (e não meramente escolar): a informação que resulta da participação em atos sociais onde o ato de ler e o de escrever têm propósitos explícitos.  (FERREIRO, 2001, p. 101 e 102)

Observa-se, então, as grandes contribuições que a educação infantil oferece às crianças e conseqüentemente às etapas seguintes da educação básica, tornando-a indispensável na formação do ser humano.


6. PROPOSTAS PEDAGÓGICAS DE LIVROS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA NA PRIMEIRA ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA

São várias as propostas de editoras para o ensino na educação infantil. Elas oferecem uma variedade de elementos que podem ajudar o profissional no seu trabalho e, também, encantar as crianças com as cores que o material traz.

Entretanto ao avaliar estes livros o professor deve observar a formação do autor, suas experiências na área educacional, o tipo de corrente filosófica em que ele se baseia para fundamentar a formulação do material didático.

É raro encontrar no ramo editorial autores de livros didáticos para a educação infantil em matemática, profissionais com formação na mesma disciplina. Na grande maioria são graduados em Pedagogia ou em Letras que formulam materiais para todas as etapas da educação infantil ou as ditas como principais: natureza e sociedade, linguagem e matemática. Contudo, podemos encontrar matemáticos que formulam livros de Matemática para essa fase da educação básica. Não se está dizendo que outros profissionais são incapazes de organizarem materiais sobre o tema, mas quando existe essa organização, são muitas as lacunas matemáticas existentes. Está sendo exposta uma necessidade de um olhar matemático, de alguém que esteve em contato permanente com os conteúdos, suas variações de conceitos...  O estudioso da Matemática pode escolher com propriedade o significado mais adequado para cada tema abordado e sobre tudo, conhece intimamente as implicações matemáticas sobre o desenvolvimento da criança. E é esse o ponto em que pedagogos e especialista em educação infantil questionam. A maioria dos licenciados em Matemática, não se interessa no estudo da criança, não gostam do trabalho miúdo, de estar observando como as crianças formulam seus conceitos sobre temas matemáticos. Claro que há exceções.

Para tentar resolver ou amenizar esse problema, há editoras que reúnem especialistas das diversas áreas e que possuem competências didáticas sobre a educação como um todo para elaborarem coleções de livros na educação infantil. São pedagogos, licenciados e/ou bacharéis em Matemática, Ciências, História, Geografia, Letras e Comunicação Social. Eles possuem especializações, sejam na área em que realizaram seus estudos acadêmicos ou na própria educação infantil e experiência na educação básica, ministrando aulas no ensino fundamental e médio em rede particular e/ou pública ou prestando assessoria pedagógica para escolas e/ou prefeituras.

Outro ponto observável é a linha pedagógica que o autor ou equipe de autores se baseiam para expressar os conceitos sobre cada conteúdo, as propostas de atividades e a maneira como o livro conduz o ensino.

Atualmente as escolas seguem, basicamente, três correntes pedagógicas: tradicional, construtivista e sócio-interacionista. E as instituições de ensino escolhem o livro didático de acordo com sua visão filosófica.

Veremos a seguir a concepção de cada abordagem, observando o ensino matemático enfatizado por cada uma delas.

6.1. Uma Visão Tradicionalista

Os principais expoentes intelectuais desta abordagem são J.B. Watson (1878-1958) e B. F. Skinner (1904-1990), por isso esta visão pode ser chamada também de Gestalt, Behaviorismo ou Ambientalista.

Essa corrente de pensamento pedagógico encara os conhecimentos como algo adquirido por intermédio do ambiente e privilegia a experiência como confirmação de conhecimento e formação de hábitos e comportamentos, e este mesmo conhecimento deve ser transmitido para o individuo fragmentalmente de caráter memorizador e cumulativo.

O ensino é pura transmissão de informações e o professor é a mola mestra do método. Enfatiza a disciplina e a repetição como formas de apreensão do conhecimento, valorizando o trabalho individual para tal feito. O ensino, se valendo de livros-textos com uma única visão de assuntos complexos, deve moldar o comportamento das crianças para viverem em uma sociedade pré-estabelecida. Aqui está a principal crítica a essa corrente filosófica:

Da fundamentação positivista, a teoria manteve a descrição mecanicista de homem, ser considerado passivo e cujo comportamento é totalmente explicável segundo um modelo simplista de causa e efeito, que faz lembrar o modelo científico da Física do século XIX, hoje abandonado até mesmo por esta ciência (GOULART, 2002, p. 57).

Para os tradicionalistas o professor deve ser um punidor, aquele que direciona as atividades não aceitando opiniões dos alunos, pois eles são receptores: uma folha em branco pronta para ser gravada a informação. O professor busca somente as respostas corretas para validar a aprendizagem, utilizando atividades didáticas padronizada, com exercícios sistematizados de fixação e cópia, os quais não possuem qualquer relação com o cotidiano do aluno e tão pouco com a realidade social. O erro é classificatório. Não importa como o aprendiz chegou a ele, ao erro, mas sim que ele não acertou.

Como a matemática pode estimular a criatividade, o desenvolvimento da cognição, facilitar as interações e assim o progresso da criança? Neste campo pedagógico não há espaço para tais feitos, pois os alunos serão puramente fazedores de contas, com um caminho já estabelecido. Eles não podem sair da regra, pois ela é o único meio aceitável para chegar à resposta desejada. Decora-se bastante no fazer de exercícios que só mudam o enunciado, mas a essência é a mesma: fazer com que o aluno decore o procedimento dos cálculos, sem que ele possa pensar sobre outros meios para alcançar o mesmo objetivo. Ou seja, é um trabalho com matemática pura sem aplicabilidade ao cotidiano do aluno.

Aqui se encaixam alguns livros não só para o ensino infantil, mas para toda a educação básica e também superior.  Todavia já vem diminuindo a oferta pelas editoras desse tipo de material. Isso porque a realidade na qual estamos vivendo não nos permite tal aquisição. A cobrança é cada vez maior  - dos pais e da sociedade, sobre as crianças - e cada vez mais cedo. Manter uma educação em que as pessoas se acumulam de conhecimentos, porém não saibam utilizá-los com criatividade e praticidade não faz parte do mundo contemporâneo. 

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Como referenciar: "O Ensino da Matemática nas Classes de Alfabetização: Como é? Como deveria ser?" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 25/04/2024 às 06:11. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/matematicanaalfabetizacao/index.php?pagina=6