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Metodologia Webquest: Apropriação e Utilização nas Aulas de Matemática no Ensino Médio

Autor: Sylmara Fagundes da Silva
Data: 17/03/2016

INTRODUÇÃO
    
Com a consolidação da Internet como importante meio de comunicação e interação entre seus usuários surgiram novas possibilidades e desafios para o professor inovar e tornar suas aulas mais atrativas. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) oferecem ao professor subsídios para facilitar a relação de seus alunos com os conteúdos abordados em sala de aula, bem como, permite buscar novos conhecimentos, metodologias e alternativas para o aprimoramento de suas práticas pedagógicas.

De acordo com Marc Prensky (2001) existem duas gerações de sujeitos que interagem com a tecnologia, os nativos digitais e os imigrantes digitais. No ambiente escolar os alunos são considerados "nativos digitais", pois nasceram em meio a tecnologia, enquanto os professores são ?imigrantes digitais?, que tiveram de se apropriar a essas novas tecnologias. Dessa maneira, os alunos dominam com mais facilidade os recursos tecnológicos, e desafiam constantemente os professores a repensarem suas práticas, no intuito de acompanhar as inovações educacionais que as TIC promovem, o que implica aos mesmos a apropriação e utilização pedagógica adequada das TIC em sala de aula.

No processo de ensino e aprendizagem da matemática as tecnologias oferecem importantes recursos nos quais os alunos aprendem a construir o pensamento matemático, experimentando, testando e criando estratégias próprias para resolver situações problema. A metodologia webquest é uma ótima opção para o ensino de matemática, pois promove um ensino e aprendizagem interativo. Funciona como uma pesquisa orientada, na qual o professor por meio de informações autênticas favorece aos seus alunos a criatividade, a aprendizagem cooperativa e colaborativa, estimula o pensamento crítico, a participação ativa, e o confronto de ideias, além de promover a pesquisa como relevante aliada na construção do conhecimento. É essencial que o processo ensino e aprendizagem de matemática aconteça de maneira interativa, no qual o conhecimento produzido seja fruto da investigação e construção do próprio aluno, tendo o professor como mediador e as tecnologias como importante recurso do processo.
    
ENSINO MÉDIO E A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

A educação básica brasileira sofreu grandes mudanças após a Constituição Federal de1988. Jamil Cury destaca que analisá-la não é fácil, uma vez que, vários fatores a cercam, como leis, políticas e programas nacionais. De acordo com art. 21 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) a educação básica é um nível da educação escolar nacional formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Ainda segundo a LDB a educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (art. 22).

O ensino médio, etapa final da educação básica, tem duração mínima de três anos, e se caracteriza pela fase em que os alunos devem ser preparados para o mercado de trabalho e para o exercício da cidadania. A garantia gratuita do fornecimento do ensino médio a toda população é dever do estado, que deve atender as exigências necessárias para o pleno desenvolvimento do aluno e garantir que todos os brasileiros que ingressam nesta etapa da educação básica o concluam. De acordo com Jamil Cury, ?O ensino médio, assim entendido, tornou-se constitucionalmente gratuito e também, por lei ordinária, "progressivamente obrigatório". O termo "progressivamente obrigatório" era constitucional e foi desconstitucionalizada pela emenda n 16/96.

Com o surgimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, Lei nº 9.394/96, houve uma alteração na redação oficial da Constituição de 1988, assim, de acordo com a LDB o Estado deveria garantir a "progressiva universalização do Ensino Médio gratuito". Tal alteração nesse texto foi responsável pela restrição dos direitos assegurados pela CF, reduzindo a oferta do Ensino Médio por parte do Estado. Desse modo, o que rege a educação no Brasil, embora comprometa a extensão da gratuidade da última etapa da educação básica é a ementa constitucional de 1996, que sustenta a LDB. (QUEIROZ et al. 2009)

A universalização do ensino médio integrando-o a educação básica, significa assegurar que toda a população que está no ensino fundamental tem acesso e seja incorporado ao ensino médio. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais no Brasil o Ensino Médio foi o que mais se expandiu, considerando como ponto de partida a década de 80. De 1988 a 1997, o crescimento da demanda superou 90% das matrículas até então existentes. Em apenas um ano, de 1996 a 1997, as matrículas no Ensino Médio cresceram 11,6%.

Do ponto de vista jurídico, Jamil Cury considera que o ensino médio apresenta três funções clássicas:

A função propedêutica, a função profissionalizante e a função formativa, é esta última que agora, conceitual e legalmente, predomina sobre as outras. Legalmente falando, o ensino médio não é, como etapa formativa, nem porta para o ensino superior e nem chave para o mercado de trabalho. Ele tem uma finalidade em si, embora seja requisito tanto do ensino superior quanto da educação profissional de nível técnico. (CURY, 2002, p. 182).

O que se percebe é que o ensino médio sempre apresentou uma divisão entre a preparação para o mercado de trabalho e o ingresso no ensino superior, assim, o ensino médio se destacava como um meio para alcançar uma dessas duas finalidades. Com a LDB o ensino médio passa a ter a característica da terminalidade, tendo como finalidades, de acordo com o art. 35:

I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando prosseguimento dos estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores;
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

O ensino médio tem passado por transformações, como a necessidade de modificar suas formas de conduzir as áreas do conhecimento para uma nova concepção de ensino e aprendizagem centrada no aluno, deixando de lado um ensino baseado em recursos tradicionais. Logo, a matemática tem um destaque importante nessas mudanças, na qual inovação tecnológica e educacional são fundamentos básicos para nortear os objetivos do saber para um novo ensino de matemática no ensino médio.     

Compreendendo a matemática como uma ciência que possui características próprias, e a abstração como uma dessas características, requer do aluno que o conhecimento seja construído por meio de processos lógicos e dedutivos. Mas, a maioria dos alunos cria uma aversão à matemática passando a vê-la como uma disciplina chata. As aulas são monótonas e tradicionais e, para o aluno, o que está sendo ensinado não apresenta relação com o cotidiano do mesmo, desmotivando-o ainda mais. Segundo Piaget, no ensino de matemática o método tradicional é fracassado, uma vez que, a matemática é resultado do processo mental da criança em relação ao cotidiano, arquitetado mediante atividades de se pensar o mundo por meio da relação com objetos. Quando o aluno aprende a construir seu próprio conhecimento, seja individual ou por meio de atividades e trabalhos em grupos, a aprendizagem matemática torna-se mais fácil.

No entanto, o que se vê são alunos saindo do ensino médio sem um conhecimento básico adequado da matemática. Segundo o movimento Todos pela Educação no Brasil, mais de 90% dos estudantes terminaram o ensino médio em 2013 sem o aprendizado adequado em matemática. Tomando por base avaliações do Ministério da Educação, o movimento concluiu que apenas 9,3% desses estudantes aprenderam o conteúdo considerado adequado para o período. O índice é menor que o anterior, registrado em 2011, quando 10,3% aprenderam o considerado adequado pelo movimento. Quanto ao desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2014, a média nacional dos alunos em matemática foi de 473,5 pontos, tendo uma queda de 7,3% em relação ao ano de 2013. Na região nordeste a média foi ainda menor, 434,9 pontos. Os dados apresentados indicam que o desempenho dos alunos em matemática, ao término do ensino médio, está aquém do esperado. Logo, a realização desta pesquisa com professor e alunos do ensino médio justifica-se pela necessidade de propor novas metodologias educacionais que visam promover a aprendizagem dos alunos em matemática.

Considerando esses resultados, torna-se relevante verificar porque os alunos têm baixo rendimento em matemática. Se a matemática está viva e se produziu mais matemática nesses últimos 20 anos do que em toda a história da matemática (D' AMBRÓSIO, 2009), então por que o desempenho nesta disciplina é tão fraco?

No cotidiano da sala de aula, tanto alunos como professores enfrentam problemas diversos, e nem sempre o professor se sente preparado para resolver seus próprios desafios, bem como, os desafios que os alunos trazem para a sala de aula. Por tanto, é essencial que o professor busque alternativas para sanar as angústias de seus alunos e dele próprio enquanto educador, seja nas suas práticas pedagógicas, ou no modo como o aluno se apropria dos conteúdos propostos.    De acordo com os autores (ORTIGÃO, 2005; D' AMBRÓSIO, 2009) O professor deve encorajar os alunos na busca de soluções para os problemas propostos, valorizar os processos de pensamento e incentivar a comunicação matemática.

Dentre os vários problemas enfrentados em relação ao ensino/aprendizagem da matemática, a formação dos professores e as condições de trabalho merecem destaque. Azevedo (2011) em sua dissertação sobre a metodologia Webquest na formação dos professores de matemática, destaca que alguns desses problemas relacionados, em especial ao ensino de matemática, podem ser resolvidos no âmbito da escola por meio da prática docente do professor de matemática.

Os PCN (1998) definem o aluno como sujeito protagonista da aprendizagem e os professores devem auxilia-los na busca de resoluções de problemas que tenham significado para o dia a dia. Ortigão (2005) destaca como fundamental para a definição desses papéis a construção do conhecimento pelo aluno, o trabalho em equipe e a comunicação em sala de aula. No entanto, os professores enfrentam algumas dificuldades nesta relação de papeis de organizadores e protagonistas do ensino/aprendizagem em matemática.

É sobretudo pela iniciativa pessoal que se pode fazer de uma forma normal o desenvolvimento do espírito matemático: iniciativa do professor, iniciativa do aluno. A iniciativa do primeiro é, porém, muitas vezes impedida pela estreiteza e rigidez dos programas; o segundo, pelo seu lado, não tem geralmente iniciativa porque não lhe transmitiram o gosto por ela. Foi exercitado a trabalhar e aprender, muito pouco a compreender, e nada a procurar. (VASCONCELOS, 2009, p. 3)

Para promover um ensino/aprendizagem de matemática centrados no aluno os PCN sugerem alguns elementos, como a resolução de problemas, os jogos e a tecnologia da informação e comunicação.  A utilização das tecnologias da informação e comunicação como um conjunto de aplicações tecnológicas podem revolucionar o âmbito educacional.

O aparecimento de novas tecnologias como o computador, televisão e a internet tem levado educadores matemáticos a tentar utilizá-las no ensino. A partir da década de 90, surge então, uma nova terminologia no meio educacional: TCIs, resultam da fusão das tecnologias de informação, antes referenciadas como informática, e as tecnologias de comunicação, denominadas anteriormente como telecomunicações e mídia eletrônica. Elas envolvem a aquisição, o armazenamento, o processamento e a distribuição da informação por meios eletrônicos e digitais, como rádio, televisão, telefone e computadores. (LORENZATO; FIORENTINI, 2012, pp. 45-46)

É importante destacar que a tecnologia pode propiciar um ambiente interativo, além de proporcionar a circulação da informação e produzir conhecimentos variados. Por isso, o uso das tecnologias de informação e comunicação nas aulas de matemática exigem que o professor esteja preparado e tenha domínio das ferramentas e metodologias disponíveis por meio dessas tecnologias. Dessa maneira, a proposta de utilização da metodologia webquest pode ser uma alternativa para dinamizar o ensino de matemática.

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Como referenciar: "Metodologia Webquest: Apropriação e Utilização nas Aulas de Matemática no Ensino Médio" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 18/04/2024 às 13:36. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/metodologia_webquest/