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Psicanálise Freudiana e Educação: os Professores enquanto Substitutos Paternos na Adolescência (página 2)

1 DESENVOLVIMENTO

1.1 Psicanálise e suas perspectivas psicológica e educacional


Não nos é estranho, ou pelo menos não deveria ser, o fato de que, ao iniciarmos a elaboração de determinado texto ou pôr em execução nossas escolhas e atividades profissionais, reportamos às vivências escolares concernentes ao período da adolescência, onde mudanças biológicas, físicas, psicológicas e sociais mais se manifestam. Não nos é estranho, também, o fato de que, simultaneamente, sejam despertadas em nossas psiques lembranças de os responsáveis por nos instruir: os professores., que há muito já tinham, em princípio, ficado no abismo do esquecimento.

Nessa fase da vida, sentíamos de modo geral uma forte afeição pelos nossos professores, ao passo que não sabíamos decifrar por qual razão.

Haja vista essa incógnita, esforcemo-nos por analisar, visando mais os fatores emocionais do que os intelectuais, o que representam os professores para adolescentes em fase escolar. Antes, porém, é necessário que depreendamos, a título de contextualização, alguns pontos importantes acerca da psicanálise.  

Elaborada pelo austríaco Sigmund Freud (1856-1939), a psicanálise, como ciência psicológica, visa à cura de determinadas doenças, as assim intituladas neuroses (Freud, 1996 [1913]), posto que seja recomendável ao tratamento de pessoas, por assim dizer, normais. Não uma cura que diz respeito à extirpação do sintoma, a que se dedicam ciências médicas, mas uma cura no sentido da restituição da palavra perdida do sujeito a ele próprio. A cura, em psicanálise, dá-se pela palavra¹, e cura significa, ao contrário de fragmentação, o preenchimento da lacuna existente na história do sujeito, causada pela suspensão de seu dizer, que fora provocada por uma carga forte de afeto não suportada por ele e que, em consequência, tornou-se inconsciente². Conforme expressou Freud (1996 [1905], p. 283):

É que as palavras são o mediador mais importante da influência que um homem pretende exercer sobre o outro; as palavras são um bom meio de provocar modificações anímicas [psíquicas] naquele a quem são dirigidas, e por isso não soa enigmático afirmar que a magia das palavras pode eliminar os sintomas patológicos, sobretudo aqueles que se baseiam justamente nos estados psíquicos (FREUD, 1996 [1905], p. 283).

Além de sua perspectiva psicológica, a psicanálise, por sua vez, devido ao aprimoramento em seus estudos, tem perspectivas outras não psicológicas, a saber, Filológica, Filosófica, Biológica, Desenvolvimentista, Histórica, Estética, Sociológica e Educacional. Seguindo o objetivo deste artigo, fiquemos somente com essa última perspectiva. Nela, a psicanálise tem por finalidade auxiliar os educadores, fornecendo-lhes recursos para melhor realizar o processo educacional. Com o auxílio de nossa ciência, são capazes de compreender mais profundamente o desenvolvimento das crianças e dos jovens, não se submetendo aos esforços de suprimir os impulsos sexuais à força. Como se sabe, essa possível supressão pode ser fonte de inúmeras doenças gravíssimas que, sem dúvida, promovem problemas que vêm a estorvar o progresso cultural (Freud, 1996 [1913]).

É fácil observar a severidade de que alguns educadores fazem uso ao interagir com crianças e adolescentes, visando a reprimir a todo custo quaisquer manifestações de sexualidade (Freud, 1996 [1913]) e, não menos, de agressividade (Freud, 2011 [1930-36]); isso nos faz compreender melhor por que, principalmente quando adultos, concluem ser difícil ter felicidade na cultura. Por consequência, podemos assegurar, sem receio, que esses educadores são os principais responsáveis pela produção das neuroses. Quanto a isso, a psicanálise pode contribuir e muito, a saber, auxiliando os educadores no processo de formação de caráter das crianças e adolescentes, tendo como orientação básica o fato de que os instintos sexuais perversos, ao invés de serem reprimidos, têm de ser direcionados à "Sublimação", isto é, direcionados a objetos não sexuais; a sublimação do instinto "é um traço bastante saliente da evolução cultural, ela torna possível que atividades psíquicas mais elevadas, científicas, artísticas, ideológicas, tenham papel tão significativo na vida civilizada." (Freud, 2011 [1930-36, p. 42]). Nesse sentido, podemos seguir a orientação freudiana de que:

A educação deve escrupulosamente abster-se de soterrar essas preciosas fontes de ação e restringir-se a incentivar os processos pelos quais essas energias são conduzidas ao longo de trilhas seguras. Tudo o que podemos esperar a título de profilaxia das neuroses no indivíduo se encontra nas mãos de uma educação psicanaliticamente esclarecida (sic) (Freud, 1996 [1913], p. 197-198).

Colocadas à disposição essas informações preliminares, já é possível tentar analisar o que os professores representam para adolescentes em fase escolar. Portanto, na seção seguinte, iremos compreender os conceitos "Complexo de Édipo", "Ambivalência de Sentimentos", "Castração" e "Identificação", nesta sequência.

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Como referenciar: "Psicanálise Freudiana e Educação: os Professores enquanto Substitutos Paternos na Adolescência" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 20/04/2024 às 06:44. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/psicanlise_freudiana/index.php?pagina=1