A Utilização de Tecnologias Digitais como Ferramenta Inovadora para a Aprendizagem Educacional: do Hipertexto a Hipermídia (página 4)

Como vimos as relações que são estabelecidas entre as mídias digitais (hipertexto, hipermídia e internet, por exemplo) e o leitor favorecem a aquisição de conhecimento de uma forma bem diferente daquela a qual estamos condicionados.

Moran (1994, p. 39) explica que essa relação que temos com o conhecimento sempre foi condicionada pelo racional, este, por sua vez, muito influenciado pela teoria positivista. Segundo ele:

O positivismo retoma modernamente esse racionalismo no conhecimento, separando como racional o que é demonstrável, quantificável e jogando para o mundo do irracional todas as dimensões não quantificáveis do ser humano e do universo (crenças, inconsciente, conhecimento paranormal). Não supera o dualismo corpo mente, mas introduz a valorização do material (que pode ser medido) e desvaloriza o "espiritual", o que não pode ser quantificado.

"Nossa relação com o conhecimento é fruto da leitura, da escrita e do cálculo" (Moran, 1994). Neste sentido, o sensorial-afetivo é desprezado na aquisição do saber.

A instituição escolar, por exemplo, acaba reforçando essa visão dualista, enfatizando sempre o conhecimento lógico-matemático e o linguístico (com o objetivo de poder organizar a vida de forma mais racional) e deixando de lado as dimensões sensório-motoras, que são aquelas pelas quais, de forma mais natural, iniciamos o processo de conhecer. Afinal, sentimos por meio de nosso corpo em movimento, do tato, do paladar, daquilo que vemos e ouvimos.

As imagens são partes imprescindíveis do emaranhado de conexões que estabelecemos com o mundo.  Ou seja: os caminhos para a aquisição do conhecimento vão além de uma aquisição linear e sequencial.

A escola não trabalha com as diferentes fontes de aquisição de conhecimento. Por essa razão, para cumprir seu papel social, a escola não pode ignorar as tecnologias, "declarando guerra" a elas, e continuar utilizando uma linguagem distante da realidade dos jovens (Sampaio, 1999).

Para Greenfield (1988 apud Sampaio):

A televisão e a mídia eletrônica, se usadas com inteligência, espírito crítico e orientação, têm grande potencial para contribuir com a aprendizagem e o desenvolvimento da criança (adolescentes ou adultos) (grifo meu) porque propiciam habilidades mentais diferentes das desenvolvidas pela leitura e a escrita. [...] Além disso, ela acredita que uma abordagem multimídia de um assunto pode ser um modo mais eficaz de ensino do que um único meio.

Neste sentido, Moran afirma que os meios de comunicação operam imediatamente com o sensível e o concreto, principalmente a imagem em movimento. Combinam a dimensão espacial com a cinestésica. Ao mesmo tempo, utilizam a linguagem conceitual, falada e escrita. Imagem, palavra e música se integram em um contexto comunicacional afetivo, de forte impacto emocional, que facilita e predispõe a conhecer mais favoravelmente.

As novas linguagens geram novos modos de compreensão e expressão, e a hipermídia reúne condições para facilitar a aquisição de conhecimento em sua totalidade, pois permite ao leitor ou ao estudante vivenciar situações simuladas que estão distantes fisicamente ou que poderiam ser difíceis de experimentar, envolvendo sensações visuais, táteis e auditivas e favorecendo a interatividade e formas de pensamento não linear com uma narrativa que não se baseia na lógica convencional, mas em uma lógica mais intuitiva e subjetiva.

A hipermídia pode combinar uma multiplicidade de imagens, ritmos, sons, falas, músicas e textos, em um imenso jogo de combinações de linguagens que, "sacode nosso cérebro, atingindo-nos sensorial, afetiva e racionalmente". Moran (1994). Mais adiante veremos alguns exemplos interessantes de hipermídia e multimídia e como essas ferramentas podem ser utilizadas no ensino.