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Alunos Cegos e de Baixa Visão no Meio Escolar (página 4)



4. PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Passemos agora a análise mais específica acerca da pessoa com deficiência visual, de forma a aquilatar seu real significado, e assim enfrentar pontos mais específicos.

4.1. Conceito

Recorrendo ao termo deficiente, no dicionário da Língua Portuguesa, temos: "[...] em que há deficiência; imperfeito; falho".

No que se refere a imperfeito, contamos com inúmeros paradigmas, sendo que o que sobressai diz respeito ao conceito que as "pessoas", ainda hoje, detém do termo deficiente.

O Decreto nº 914/93 trazia em seu artigo 3º a conceituação a respeito de quem deveria ser considerado portador de deficiência.

"Art.3º Considera-se pessoa portadora de deficiência aquela que apresenta, com caráter permanente, perdas ou anormalidades de sua estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, que gerem incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano. "

Não obstante, a melhor conceituação sobre deficiência é dada por Luiz Alberto David Araujo, vejamos:

"[...] o que define a pessoa portadora de deficiência não é a falta de um membro nem a visão ou audição reduzidas. O que caracteriza a pessoa portadora de deficiência é a dificuldade de se relacionar, de se integrar na sociedade. O grau de dificuldade para a integração social é que definirá quem é ou não portador de deficiência."

De acordo com a Lei n. 7853, de 24 de Outubro de 1989, que dispõe sobre a Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define deficiência visual da seguinte forma, "cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica, os casos nas quais a somatória do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60, ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.

Mas, todos nós temos várias habilidades que se destacam, o mesmo acontece com o deficiente visual. Destacaremos agora os graus de limitação visual, que variam desde a cegueira total até a visão mais perfeita. A Organização Mundial da Saúde (Resolução SE nº 246/86) define e classifica o portador de visão subnormal com Acuidade visual de 0,05 a 0,3, em ambos os olhos.

Acuidade visual é à distância entre um ponto e outro, numa linha reta. Em se tratando da pessoa com baixa visão ou visão subnormal, o processo educativo se desenvolverá por meios visuais ainda que seja necessária a utilização de recursos específicos, como óculos, lupas, etc. Campo inferior a 10º.

No que se refere à cegueira total, a Organização Mundial da Saúde OMS, considera como portador de cegueira à pessoa com acuidade visual inferior a 0,05 em ambos os olhos, após máxima correção. Campo inferior a 20º.

Já, em relação ao processo educativo a pessoa com cegueira é posicionada com ausência total de visão até a perda da projeção de luz. O processo de aprendizagem será através da integração dos sentidos: tátil cenestésico - auditivo, olfativo, gustativo, utilizando o Sistema Braille como meio principal de leitura e escrita. Torna-se, nesse contexto, imprescindível levar em conata a percepção e cognição do indivíduo, uma vez que a pessoa com deficiência visual detém uma dialética específica dos sentidos para interagir com o mundo.

Para o deficiente visual a experiência perceptiva que ocorre no corpo, traduz os sentidos como uma fonte de significados, assim, esses sentidos são responsáveis pela interação do d.v. com seu o outro e seu meio social.

Em 1975 a ONU no artigo 1º da Declaração de Direitos das Pessoas Deficientes aprovada em 9 de dezembro dispõe que pessoas deficientes, a saber, é deficiente qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não. 

A deficiência congênita pode ocorrer ao nascer, enquanto a deficiência adquirida pode ocorrer em qualquer situação em determinada fase da vida, sendo esta ocasionada por algum evento. É preciso observar que a visão é uma das maneiras mais importante de se relacionar com os outros e o mundo exterior, visto que vivemos em uma sociedade onde a diversidade visual (textos, propagados, etc.) persuadem e direcionam as pessoas em seu dia-a-dia.

Hoje, contamos com a avaliação funcional, que acontece na visão de um especialista pedagogo, onde é observada o potencial de crianças portadoras de cegueira e visão subnormal, contemplando as funções de comunicação e linguagem, funções simbólicas e outras. Observa-se também o desenvolvimento psicológico, a interação, atividades diárias- Orientação e Mobilidade.

4.2. Orientação e mobilidade para Deficientes Visuais

A pessoa que perdeu a visão parcial ou total precisa aprender a se deslocar e executar tarefas do dia-a-dia, inclusive aprender a aprender. Para aprender é necessário que o orientando de deficiência visual seja estimulado através dos órgãos remanescentes, como leciona Novi:

"Audição, sendo possível, através deste órgão, conhecer o ambiente e as pessoas. Quando a pessoa cega estiver acompanhada, dirija-se diretamente a ela identificando-se; ela somente não vê, mas não e surda e terá condições de compreendê-lo. Todas as vezes que você entrar em um ambiente onde tenha uma pessoa cega, não deixe de falar, isso anuncia a sua presença e a auxilia a identificá-lo. Quando uma pessoa cega anda sozinha, está alerta em todos os sentidos remanescentes; procure não ficar chamando sua atenção, pois ela poderá ficar nervosa e desorientar-se. A pessoa cega poderá se localizar através de saliências, depressões, ruídos e até odores, tudo ela observa para sua boa orientação. As pessoas cegas são iguais a todos os outros indivíduos, somente não podem ver; portanto, elas também são interessadas em saber o que você gosta de ver, ler, ouvir e falar. Se você encontrar uma pessoa cega fazendo compras sozinhas ofereça a sua ajuda, para ela é muito difícil localizar o que precisa e verificar preços. Com certeza ela agradecerá a sua atenção. Quando você está passeando com uma pessoa cega que já está acompanhada, não fique dando avisos e nem puxando-a, deixando-a ser orientada somente por seu acompanhante. Preste atenção ao indicar "à direita" ou "esquerda"; no momento de ajudar uma pessoa cega, tome como referência a posição dela e não a sua. Nunca deixe uma pessoa cega falando sozinha, se tiver que se ausentar, avise-a. E avise-a também quando retornar. Se houver alguma incorreção no vestuário de uma pessoa cega, não se constranja em avisá-la. Fique certo de que ela lhe agradecerá. Tato, sendo através deste que percebemos a dor, o quente, o frio, etc., envolve principalmente os lábios e a ponta dos dedos. As pessoas cegas podem consultar o relógio, discar o telefone, assinar o nome etc; portanto, não fiquem admirados. Com treinamento ela será tão capaz quanto a pessoa que vê. Quando for passear com uma pessoa cega de carro, no momento de fechar a porta nunca se esqueça de observar de que não vai lhe prender os dedos: eles são muito preciosos. Todas as vezes que encontrar uma pessoa cega nunca deixe de apertar a sua mão e fazer o mesmo no momento de despedir-se. O aperto de mão substituirá seu sorriso amável. Nunca você deve empurrar ou levantar uma pessoa cega no momento de subir ou descer do ônibus ou escadas. Basta orientá-lo colocando sua mão na laca vertical do ônibus ou no corrimão da escada. Para ajudar uma pessoa cega a sentar-se basta que você coloque sua mão no encosto da cadeira, que isso lhe indicará sua posição. Onde existe uma pessoa cega procure manter as portas bem abertas ou bem fechadas. A porta meio aberta é um obstáculo de perigo para ela. E procure também não deixar objetos jogados pelo chão onde ela costuma passar. Procure não esquecer de apresentar o seu visitante cego às pessoas presentes, assim irá facilitar a sua integração ao grupo. Olfato e Gustação, através do desenvolvimento desses órgãos o deficiente visual poderá distinguir diferentes odores/sabores e suas utilidades, podendo selecioná-los e até distinguir ambiente." (destaques inexistentes no original)

Lembre-se:
"A pessoa cega não é inútil e nem incapaz. Deixe-a realizar o que ela sabe, pode e deve fazer sozinha. Não sinta pena dela, ela somente necessita de oportunidades. Se uma pessoa cega quiser ajudar você colaborando de alguma maneira, não fique constrangido, ela não é tão incapaz que não tenha algo para dar. Quando você se oferecer para ajudar uma pessoa cega a atravessar uma rua não a desoriente cruzando a rua em diagonal, efetue um cruzamento em L, é mais seguro, inclusive para você."[15]
O treinamento de orientação e mobilidade é o melhor meio de ajuda para que o deficiente visual se comunique de forma segura, interagindo em sociedade, com todos e tudo que o cerca dentro do ambiente em que se encontra. No Brasil esse treinamento é feito em duplas (um guia vidente e um deficiente visual), com a bengala longa de alumínio, que pode ser inteiriça ou dobrável.
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Como referenciar: "Alunos Cegos e de Baixa Visão no Meio Escolar" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 18/05/2024 às 12:18. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/alunoscegos/index.php?pagina=3