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Educação: um Processo de Inclusão?

Autor: Rosania Soares Carminati
Data: 14/10/2008

"Na Grécia antiga, a finalidade da educação era a formação de cidadãos para o exercício da vida na pólis". (HENTZ, 2000, p. 09)

Na citação acima, os cidadãos mencionados eram representados por homens que detinham o poder, ou seja, os homens livres. Somente eles tinham direito de participar da vida pública, excluindo-se  mulheres e escravos. À mulher cabia a função de parir e cuidar da casa; já os escravos, eram destinados ao trabalho braçal.

Nas cidades gregas, durante muito tempo não foi de interesse  dos homens livres  que todos exercessem a cidadania. No entanto, para que eles se mantivessem no poder, outros precisariam desenvolver os serviços burocráticos de que o Estado necessitava. Sendo assim, foi permitido a alguns o direito à escolarização. (Lembrando que o trabalho bruto dos escravos e o doméstico exercido pelas mulheres não exigia escolarização para que fosse exercido.)

Inspirados na organização da sociedade grega, algumas questões referentes à escolarização foram reformuladas. Com os devidos cuidados em manter a massa populacional alheia à cultura, algumas pessoas da classe subalterna foram selecionadas para serem formalmente educadas, a fim de que  servissem ao Estado. Portanto, desde a antigüidade até o final da idade média, a educação escolar serviu para preparar uma classe dirigente da sociedade.

No século XVI, parte da população européia, não aceitando os valores impostos pela Igreja de Roma, romperam, criando novas igrejas cristãs, passando a ter novas posturas frente à educação escolar. Entendendo que o predomínio do latim, privilégio da minoria, não poderia continuar ocorrendo, as escrituras sagradas passaram a ser traduzidas para os idiomas nacionais. Este fator  representou o fortalecimento da autonomia das nações.

Martinho Lutero, frente ao fortalecimento das igrejas reformadas, exerceu uma postura em favor da educação. Para ele, a educação deveria ser direito de todos, a fim de que cada um pudesse compreender as escrituras sagradas, alcançando assim, a salvação individual e a vida eterna. Com o tempo, a educação deixou de ser exclusividade apenas de nobres governantes, de seus filhos, dos plebeus responsáveis pelas funções ligadas ao Estado e dos eclesiásticos.

No início da Ditactica Magna, escrita por Comênio, defendeu-se a idéia de que tudo poderia ser ensinado a todos. Assim, houve a necessidade da construção de escolas em todas as comunidades, oferecendo educação para ambos os sexos. Mesmo parecendo que a partir de Comênio a educação teria uma abertura inclusiva, houve restrições. A educação desta época excluía os cretinos, ou seja, pessoas com algum tipo de deficiência mental ficavam novamente sem direito à escolarização.

"A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra em 1750, no contexto econômico, e a Revolução Francesa, que ocorreu a partir de 1789, no contexto político..." (HENTZ, 2000, p. 19) foram movimentos que causaram impacto no contexto educacional.

A falsa idéia de que todos seriam iguais e livres, novamente reforçou a exclusão. A Igreja, sendo proibida de educar, e o Estado, assumindo que todos teriam os mesmos direitos perante a escolarização, fizeram com que os interesses políticos se contradissessem. Com a introdução de uma reforma que defendia a idéia na qual classes mais privilegiadas tivessem uma educação diferenciada, comprovou-se que os princípios anteriores eram falsos, surgindo, a partir daí, o movimento da Escola Nova.

Gramsci critica os princípios de Escola Nova, que privilegia o conhecimento para a classe dominante. Em contrapartida, defende a idéia de uma escola Unitária, com o compromisso de romper com a hegemonia existente. O que se pregava na educação até então, era que não seria possível exigir dos menos privilegiados que se esforçassem intelectualmente na escola, pois eles não conseguiriam aprender, ou até mesmo sofreriam se não conseguissem acompanhar o que o professor ensinasse, uma vez que já eram "sacrificados" pela sociedade elitizada. Gramsci defende o contrário, dizendo que a educação é um processo ativo, ou seja, que o sujeito só aprende à medida que elabora para si o saber.

O pensamento socialista na educação foi, durante as décadas de 1980 e 1990, fator decisivo na recuperação dos sistemas públicos de ensino. Educadores brasileiros apropriaram-se da idéia de vários pensadores como Gramsci e Vygotsky para defender que a educação não é apenas utilitária, mas que, antes de tudo, representa um patrimônio da humanidade. Sendo assim, todos os seres humanos têm direito de tê-la. Pensar em inclusão é rever questões que, na maioria das vezes,  restringiram-se a introduzir portadores de alguma deficiência no meio educacional. Estar incluído não significa apenas fazer parte do ambiente físico educativo, mas sim, aprender na relação e mediação com os sujeitos.

Mesmo com todas as contribuições de pensadores no decorrer da história da educação, ainda hoje não parece estar claro o conceito de inclusão como direito a todos (sem restrições).  

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Como referenciar: "Educação: um Processo de Inclusão?" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 28/04/2024 às 22:48. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/educacaoinclusao/