Você está em Artigos

Gramática da Língua Materna: História, Conceito e Ensino (página 4)

        A "prática discursiva" (Pêcheux, 1997) que de uma forma ou de outra faz pressão sobre os sentidos de resistência diz respeito ao discurso da norma padrão como verdade absoluta, essa discursividade tem servido de "pretexto" ou referência evidente para o pensar o ensino da língua. A Gramática (herança helênica) foi e ainda resiste como arte, como técnica, como ciência e prática de ensino. Esta concepção, assim, afeta o sentido de língua que passa a ser concebida como meio e instrumento que os homens utilizam para representar o mundo. Mas o ensino da língua como gramática normativa encontra uma certa resistência também do lado de alguns poucos gramático.

       A exemplo disto, o prof. Evanildo Bechara usou como exemplo a metáfora do talher para exemplificar o que deveria ser o ensino de língua, ou seja, para cada situação de refeição utiliza-se específico, o que deveria/deve ser o mesmo para o ensino de língua, levar o aluno compreender as mais diversas variações e utilizá-la em seu contexto de enunciação. O prof. Evanildo é um dos poucos gramáticos que mais se aproxima da Linguística para pensar a gramática normativa. A gramática normativa enquanto conjunto de regras de devem ser seguidas, adotadas pelos livros didáticos, subentende e acredita-se que lendo as regras e internalizando-as os alunos aprenderam de forma competente a norma padrão. Cunha comenta o seguinte:

o que geralmente se tem por deficiência é a desorganização do dialeto, provocada pela interferência do poder repressivo do professor, que considera ilegítimas as suas normas. (...) aqueles que não dominam razoavelmente tal dialeto - melhor dizendo: a norma culta - sofrem restrições na progressão social. Daí ser de toda a conveniência que se propiciem condições ao educando para que ele se assenhoreie progressivamente do dialeto prestigioso sem que seja violentado com a desorganização ou a destruição do seu vernáculo, do qual continuará a servir-se nas situações mais íntimas (1985: 46-7).

      Assim, língua e a gramática normativa são formas de expressão produzida por pessoas "cultas" ou que tem acesso aos bens culturais de uma dada época, é a forma que funciona como modelo o que não que significar com verdade e nem tão pouco absoluta. Já as gramáticas descritivas orienta o trabalho do linguista, a preocupação é descrever os fatos da língua nas mais variadas situações. O suposto "erro" ou "desvio" da norma acontece de forma organizada e ás vezes se constitui em regras e normas. Para o gramático descritivista, a preocupação é explicar o fenômeno e não atribuir valor. Exemplo: formas que desapareceram, mas que continuam na gramática normativa: 2a pessoas do plural (vós fostes/ vós iríeis). Uso: vocês foram/ vocês iriam. Posição dos pronomes em início de oração, caso me: me dê motivo/dai-me motivo. As gramáticas internalizadas (Possenti, 1996) é um tipo de conhecimento que habilita o falante a produzir e interpretar frases, textos, discursos a partir de situações concretas de uso. O conhecimento linguístico está alicerçado em três pontos: no fonético/fonológico, no lexical e no sintático-semântico.

      O falante reconhece o som da própria língua e as diferencia das demais; lexical: o falante emprega palavras adequadas as situações; sintático-semântico: distribuição da palavras na sentença e o efeito de sentido que esta distribuição provoca. Exemplo: a raposa dizer algo para o corvo. Duas hipóteses: ou tem algo estranho na sentença ou faz sentido no mundo da fantasia, ficção, literatura. Hipótese para explicar a gramática internalizada: diz respeito a repetição (nós falamos o que falamos porque ouvimos). O que denominamos de regras diz respeito à obrigação (gramática normativa), como uma etiqueta, atribuição de valor social; como regularidade (não denota valor social), leis da natureza. Já o erro em termos de gramática normativa é a expressão que foge ao uso da "boa linguagem"; enquanto que para a gramática descritiva as formas de expressão que não fazem parte de forma sistemática, de nenhuma das variantes de uma língua.

Exemplo: os casas eles da objetos pegaram / eles pegaram os objetos da casa. Erro linguístico é a construção que não se enquadram. O ensino de gramática possui uma tradição histórica longa, pois a suposta desconstrução ou reflexão para que haja uma outra alternativa também deve percorrer um longo caminha não apenas de debate, mas sobretudo ideológico porque a questão de ensino não está apenas no que ensino ou como ensinar, mas preponderantemente a quem se ensina e o que isto pode demandar de efeitos de sentidos.
Anterior   Próxima

Voltar para a primeira página deste artigo

Como referenciar: "Gramática da Língua Materna: História, Conceito e Ensino" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 17/05/2024 às 05:28. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/gramtica_da_lngua_materna/index.php?pagina=3