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A Infância como Categoria Histórico-Social (página 2)

Outros estudiosos também buscaram e ainda buscam uma compreensão acerca da infância. Citando esses pesquisadores Müller e Redin (2007, p. 14) nos remete ao entendimento da infância no plural

Kuhlmann Jr. e Fernandes (2004) consideram, assim, que a infância, na pluralidade das suas configurações, é circunscrita a um discurso histórico, fruto de variados contextos. Temos a criança concreta, datada, situada, fazendo parte de um contexto favorável ou hostil a sua pessoa, contribuindo não só para a sua representação como fazendo parte de uma categoria social, mas também deixando marcas, forjando memórias. A partir daí a infância ou as infâncias estriam estão situadas nos lugares que as diferentes sociedades reservam para elas: infâncias múltiplas, diversificadas, constituídas em diferentes culturas, contextos sociais, tempos e espaços de vida. Por isso, ao mesmo tempo em que a infância se apresenta como única, como um período de vida que não volta mais, a não ser nas memórias dos poetas, também se mostra múltipla, marcada pelas diferenças de direitos, de deveres, de acesso a privilégios, de faltas, de restrições. Então, não pode ser vista como uma infância do passado e nem mesmo uma infância do futuro. Só pode ser vista a partir de um outro lugar, de um outro olhar. 

Percebemos que há sempre o olhar de alguém (o adulto) sobre tal categoria social. Não há a visão desta tenra fase a partir das opiniões dos seus sujeitos, o que é dado é sempre a partir daquilo que o adulto (o filósofo, o sociólogo, o psicólogo, o professor, o médico, o responsável por ela, o político, o arquiteto, o urbanista e tantos outros) entende que é bom (FREITAS; KUHLMANN JR., 2002).  Deveríamos investigar nossas crianças para compreendermos o que é realmente necessário para elas. Não estamos passando as decisões para os pequenos, estamos simplesmente buscando a participação deles, suas opiniões para a concretização das decisões.

Ainda sobre a puerícia no plural, Kuhlmann Jr. (1998, p. 30) vem nos alertar acerca de uma questão importantíssima sobre a mesma

É preciso considerar a infância como uma condição da criança [...] É preciso conhecer as representações de infância e considerar as crianças concretas, localizá-las nas relações sociais, etc, reconhecê-las como produtoras da história. Desse ponto de vista, torna-se difícil afirmar que uma determinada criança teve ou não teve infância. Seria melhor perguntar como é, ou como foi, sua infância. Porque geralmente se associa o não ter infância a uma característica das crianças pobres.

Ou seja, a condição sócio-econômica não determina a existência ou não existência da infância. Há crianças que nascem em "berço de ouro" e vivenciaram sua infância de maneira pífia; outras que estavam numa situação de extrema pobreza, contudo o "furto" da infância foi abrandado. Por isso que esta fase da vida do ser humano deve ser compreendida através da geografia que ela se constituiu, para tanto, "[...] é preciso ver a criança como um sujeito social que interage com a história de hoje, presente no tempo espaço, fazendo a sua história e sendo transformada por ela" (FRANCO, 2007, p. 129).    

Desse modo, podemos nos fixar ao que hoje a sociedade entende sobre infância, seus avanços legais e as contribuições de pesquisas para revelar o pensar e o agir dos pequenos. Para tanto, observamos que antes da promulgação da Constituição de 1988 já havia indicações para o cuidado com as crianças e a concepção que norteou o direcionamento da educação oferecida a elas. E ainda, mesmo esperando quase dez anos pela publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9 394/ 96), não podemos esquecer-nos dos diversos embates e lutas  que serviram de alicerce para sua real efetivação.

 A maneira como a infância é vista atualmente é exposta no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, v. 1, p. 21), o qual vem afirmar que "as crianças possuem uma natureza singular, que as caracterizam como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio [...]". Sendo assim, no decorrer do processo de construção e elaboração do conhecimento, "[...] as crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que procuram desvendar [...]" (ibidem). Este conhecimento constituído pelas crianças "[...] é fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação [...]" (ibidem, p. 22).

Podemos ainda salientar que

[...] compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais. Embora os conhecimentos derivados da psicologia, antropologia, sociologia, medicina, etc. possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil apontando algumas características comuns do ser das crianças, elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças (ibidem).

Por isso já existem muitas iniciativas para devolver às crianças suas potencialidades que lhes foram abrandadas devido ao crescimento urbano que teimamos em chamar de "progresso". Estamos buscando esta compreensão não só na escola, mas também no espaço geográfico que antes era dos pequenos e agora virou um amontoado de concreto e aço. Como afirmam Redin e Didonet (2007, p. 31)

Não se pode deixar que a expansão da cidade seja determinada apenas pelo modelo econômico; é preciso fazer esforços determinados para dotá-la de meios que atendam às várias dimensões da vida de seus habitantes e, em especial, que garantam uma infância feliz.

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Como referenciar: "A Infância como Categoria Histórico-Social" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 29/04/2024 às 15:28. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/infancia/index.php?pagina=1