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Trabalho e Organização (página 2)

1.2.2 O trabalho na antiguidade

Na antiguidade existe um sistema de castas estabelecido, que dita a organização do trabalho e impede a mobilidade social. Na sociedade grega, a concepção de trabalho está ligada à atividade manual e é considerada indigna do homem livre, o qual se destinava à meditação e à fruição dos prazeres da vida. Data desta época a distinção entre o esforço mental e manual. Desta forma, o trabalho intelectual dos sábios é altamente valorizado e o trabalho manual, dos escravos, desprezado.

Para os gregos, a prática material produtiva ocupava um lugar secundário.

Observe que o trabalho escravo era realizado por prisioneiros de guerra e por sujeição em função de dívidas. Acreditava-se que era indigno um homem que se entregava ao inimigo sem lutar até a morte. Em épocas de colheita, era comum a contratação de trabalhadores rurais, que recebiam remuneração em gêneros.

Os escravos eram utilizados para livrar os cidadãos das tarefas servis, permitindo à elite grega consagrar-se melhor à cidade, aos prazeres do corpo ou à investigação e à contemplação das coisas eternas do espírito (CARMO, 1997, p. 17).

Neste período surgem também as atividades artesanais, realizadas principalmente por mulheres e escravos, para atender a necessidades locais específicas.

Na antiguidade, o trabalho era executado somente por servos, pois era considerado indigno de homens livres, aos quais estavam destinadas as atividades intelectuais e de desfrute dos prazeres materiais.

Na Roma Antiga, existe uma clara divisão entre o patriciado, donos da terra, distribuída pelo Estado segundo a unidade de parentesco, e a plebe, a qual realiza atividade agrária em pequenos lotes de cultivo. Os patrícios, donos de grandes extensões de terra, dedicavam-se mais à pecuária. As atividades artesanais domésticas também ocupam um espaço importante neste cenário. Na antiguidade, aos filósofos e homens livres cabia o exercício intelectual.

1.2.3 O trabalho na idade média

Na idade média o trabalho tem uma estreita vinculação com a religiosidade e sua organização vincula-se fortemente às diretrizes da igreja. É sabido que a igreja tinha forte influência na manutenção da estratificação social. A concepção predominante é de que o trabalho exige sacrifício e desprendimento e que a docilidade para enfrentar as dificuldades físicas e materiais enobrece o espírito.

Assim, o trabalho é procurado como penitência para os pecados da carne. Deveria proporcionar cansaço para o corpo e distração para o espírito, afastando-o de tentações demoníacas.

Na idade média, a ênfase do trabalho recai na expiação dos pecados e no combate à fraqueza da carne, prestando-se à manutenção da estratificação social.
A sociedade medieval, marcada pelas diferenças sociais, mantinha um modo de produção característico da divisão entre senhores e servos.

A idade média se organiza segundo o modelo de produção feudal. Nesse modelo as relações sociais caracterizam-se por rígida hierarquia entre os senhores, proprietários das terras, e os servos, aqueles que as cultivavam. A esses últimos cabia, em troca do trabalho, apenas a parte da produção necessária à subsistência familiar. Os servos deviam obediência aos senhores, mas, diferentemente dos escravos, possuíam direito à vida e proteção dos senhores em caso de guerra. À igreja, detentora do saber competia à manutenção dos princípios de obediência que regulavam essas relações (GONÇALVES; WISE, 1997, p. 22).

A vida nos mosteiros sugeria uma rígida disciplina de orações e introspecção. Parece ter surgido aí, segundo Carmo (1997) a obrigatoriedade moral do trabalho, independente da sua necessidade material, para ocupação da mente, de vez que a desocupação é inimiga da alma. Assim, os monges dedicavam algumas horas dos seus dias aos ofícios manuais.

Nas sociedades medievais, o ócio (ótium) aparece como um termo associado ao não trabalho, ao estar desocupado ou livre de uma obrigação. Neste sentido, estar ocupado significa negar o ócio, daí o termo negócio - nec-otium - conhecido até os dias do hoje.

Com a reforma protestante, o trabalho aparece como a base e a chave da vida. "Há uma ênfase de que a fé deve ser reforçada pelo trabalho" (CARMO, 1992, p. 27).

Neste sentido, passa a ser exaltado o esforço pessoal e a dedicação ao trabalho, estimulando-se a poupança ou investimento do capital excedente obtido, condenando-se o desfrute de bens. Na idade média o trabalho servia para expiar os pecados da carne.

1.2.4 O trabalho na revolução industrial

Com o advento da revolução industrial o trabalho assume um sentido mais pragmático, sua importância se acentua e sua operacionalização modifica todo o sistema de produção e de acumulação de riquezas, bem como altera a vida das pessoas de uma forma profunda.

Frente à necessidade de que os operários operem as máquinas, aptas a produzirem em maior escala produtos industrializados, as relações assumem um novo formato e provocam modificações na vida do cidadão comum.

Um dos primeiros aspectos imediatamente observados é a aniquilação do artesanato e das manufaturas. Com as máquinas produzindo em larga escala, a produção manual fica destituída de sentido. O deslocamento dos operários, por sua vez, caracteriza um outro movimento, pois o trabalho artesanal era feito em casa ou na própria comunidade. Para trabalhar nas indústrias, os operários enfrentam longos percursos em transportes coletivos para chegarem até os locais de trabalho. Este aspecto afeta também a vida familiar e afasta os integrantes do convívio íntimo diário. O trabalho passa a ter um ritmo e um tempo pré-estabelecidos que determinem a vida do indivíduo.

No mundo industrial falta o vínculo entre o trabalho e o resto da vida. Para agir livremente deixa-se o tempo que sobra do trabalho. Assim se separa totalmente trabalho de lazer, de prazer, de cultura, de renovação das forças anímicas, que deverão ser buscadas no tempo que sobrar do trabalho (ALBORNOZ, 2000, p. 39-40).

No período da revolução industrial, há o aniquilamento das manufaturas e um deslocamento dos operários para as grandes indústrias, onde desempenham tarefas rotineiras e mecânicas.

A produção em larga escala, por sua vez, provoca a alienação do operário do sentido do seu trabalho. Sendo ele uma "peça da engrenagem", tendo sua participação restrita a uma limitada etapa do processo produtivo, o operário não reconhece no conjunto da produção o seu trabalho, não sabe quem é o consumidor do seu produto, bem como não participa das decisões referentes ao processo de produção. Na revolução industrial o operário é uma "peça da engrenagem". Exemplo: O filme - Tempos Modernos. Charlie Chaplin.

Os maiores problemas enfrentados nesta época referem-se às condições de trabalho, extremamente precárias e desfavoráveis. Acidentes de trabalho, ambientes insalubres, trabalham de crianças, jornadas de trabalho extensas e ausência de férias ou outros direitos trabalhistas são exemplos das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores das indústrias neste período. Os movimentos operários, após exaustivas iniciativas, conseguiram importantes conquistas nestes aspectos ao longo dos séculos XIX e XX.

A revolução industrial permitiu também um maior acesso a bens e produtos por parte de uma parcela maior da população. A produção em larga escala possibilitou a popularização de muitos produtos, que puderam ser adquiridos pelo cidadão comum. Por outro lado, multiplicou-se a oferta de novos produtos, criando novas necessidades de consumo, levando as pessoas a cada vez mais se sentirem obrigadas a ter um trabalho, como forma de acessar os produtos ofertados. Como afirma Albornoz (2000, p. 81), "as pessoas trabalham antes para poder consumir do que propriamente para produzir alguma coisa". Esta nova ótica de verdadeira obsessão pelo consumo passa a influenciar as relações do indivíduo com o trabalho na atualidade.

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Como referenciar: "Trabalho e Organização" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 23/04/2024 às 09:14. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/torganizacao/index.php?pagina=1