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Nossas Crianças e o Anonimato

Autor: Marco Gregori
Data: 01/10/2014

Estamos acompanhando o crescimento das primeiras gerações que estão tendo acesso a manifestações públicas anônimas na Internet, mais especificamente nas redes sociais.   Trata-se de um fenômeno que transcorre paralelamente ao esforço de pais e educadores para atualizar os sistemas de ensino, aproximando-os das demandas, características e oportunidades do século XXI ? entre elas, o maior protagonismo dos indivíduos na condução de suas vidas e carreiras.  Provavelmente a maior novidade educacional deste novo século seja a comprovação do quanto é importante focarmos intencional e estrategicamente a questão das habilidades socioemocionais de nossos alunos.

Acredito que em pouco tempo esse quociente seja acrescentado à equação educacional oficial, regulada pelo Ministério da Educação. Pois não faz mais sentido, diante de todos os recursos da tecnologia, ocupar o tempo dos nossos alunos e professores com conteúdos que pouca relação têm com suas vidas.  As habilidades socioemocionais, ao contrário, são empregadas 100% do tempo em todas as relações humanas, da família ao trabalho.  Neste último, aliás, elas têm importância fundamental e já comprovada em estudos, como o de James Heckman, prêmio Nobel em Economia, que provou o impacto altamente positivo das habilidades socioemocionais para o mercado de trabalho.  

O ensino de habilidades socioemocionais é talvez a forma mais eficiente de a escola acompanhar o amadurecimento dos alunos.  E de apoiar o desenvolvimento de projetos de vida baseados em suas reais aptidões e anseios, para que eles expressem sua personalidade de forma positiva e construtiva.  Isso significa não só reforçar os pontos fortes de cada um, mas também abrir espaço para que eles expressem seus medos, angústias, dúvidas e possam perceber que esses são traços inerentes à nossa condição humana.   

O foco nas habilidades socioemocionais coloca-nos diante de novos desafios. Por exemplo, como avaliar o desempenho dos alunos nesses quesitos?  Para todos ? pais, alunos, professores ? é um desafio bastante recompensador, pois estamos em uma seara onde a tão criticada padronização é impossível.  Cada aluno deve ser entendido como um ser humano único. E cada habilidade deve ser estimulada, respeitando a personalidade, os anseios e vocações.   

Ao deixar de enfatizar apenas as habilidades cognitivas e ampliar a possibilidade de reconhecer cada aluno como único, certamente ampliarão os avanços em conceitos como o respeito à individualidade e a tolerância ? antídotos naturais da necessidade de anonimato para expressar opiniões. Talvez um dos pontos mais relevantes que as redes sociais tenham trazido  para nós, pais e educadores, foi o alerta sobre a necessidade de ajudarmos nossos filhos e alunos a não precisarem do anonimato para se expressar.  

Não tenho aqui a pretensão de responder a essas questões, cuja complexidade exigirá tempo e o envolvimento de expertos de muitas disciplinas.  Mas acho importante, como gestor escolar e como pai, dar minha contribuição a um debate que está apenas começando.  Pois o anonimato é exatamente o oposto do que buscamos em ambiente escolar: iniciativa, capacidade de relacionamento, criatividade, empreendedorismo, responsabilidade, perseverança, resiliência ? traços que carregados para a vida, que usamos na vida pessoal e na profissional e que fazem muita diferença na forma como enfrentamos oportunidades e adversidades.  


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Como referenciar: "Nossas Crianças e o Anonimato" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 26/04/2024 às 08:09. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/textos/index.php?id=52