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Crianças Vítimas de Abuso Sexual: da Prevenção ao Assistencialismo (página 3)


3.1  O PAPEL DA ESCOLA FRENTE AO PROCESSO DE INCLUSÃO/EXCLUSÃO

A escola possui um papel importantíssimo para a erradicação da exclusão presente nela mesma, e necessita estar em constante processo de modificação da realidade presente, pois desde os seus primórdios, acaba por evidenciar as diferenças e excluir o diferente, o menos favorecido.

De acordo com Ariés (1983), durante vários séculos a organização escolar privilegiou e permitiu acesso a uma educação escolar de qualidade, apenas para as famílias que se encontravam em melhores condições financeiras e em um nível elevado da sociedade.

Dessa forma podemos afirmar que o processo de inclusão escolar não é um desafio atual, mas sim, construído historicamente, e que aos poucos, por meio de muitas lutas e dificuldades, busca-se transformar tal realidade.
Criada para dar educação básica a todos e à qual todos deveriam ter acesso, a escola pública tradicional desenvolveu práticas e valores que progressivamente contribuíram para acentuar as diferenças entre os alunos e que colocaram precocemente fora da corrida da aquisição de competência largos estratos da população escolar. Assim, o insucesso escolar, o abandono da escola, os problemas de disciplina, a rigidez dos currículos, etc., fizeram com que a escola que deveria integrar e acolher todos, fosse, ela própria, um instrumento de seleção que, em muitos casos, acentuava as diferenças culturais e de características e capacidades pessoais de que os alunos eram portadores (RODRIGUES, 2001, p. 24).
A inclusão é um processo que beneficia a todos os envolvidos na busca pelo conhecimento, ela favorece os que possuem necessidades especiais, pelo fato destes terem acesso ao ensino regular e exercerem efetivamente o direito da educação, favorece também aos demais alunos, que não possuem necessidades especiais, pois através desse convívio, aprendem a respeitar e valorizar as diferenças, e também favorece aos professores, pois, os mesmos aperfeiçoam suas experiências e conhecimentos.

Mantoan (2005, p. 25) nos mostra alguns dos benefícios trazidos à instituição pela inclusão.
A escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho, para todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos. A inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe social ou pela cor que, por direito, ocupem os seus espaços na sociedade. Se isso não ocorrer, essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida cidadã pela metade. Você não pode ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, valorizando o que ele é o que ele pode ser. Além disso, para nós, professores, o maior ganho está em garantir a todos o direito à educação.
Todavia, para que as escolas estejam aptas a efetivar a inclusão, as mesmas precisam realizar algumas mudanças significativas, em todos os âmbitos. Devem estar com seus ambientes físicos preparados, adequados e equipados para oferecer aos alunos com necessidades educacionais especiais uma melhor adaptação e acessibilidade, como também possuem o dever de elaborar um projeto político pedagógico, que envolva a comunidade escolar e que tenha como objetivo central uma educação de qualidade para todos, levando em consideração a vasta diversidade presente na instituição.
    
Cabe à escola também realizar mudanças no seu currículo, reformulá-lo, reestruturá-lo de acordo com a realidade que a escola vivencia, buscando a individualização do ensino, a fim de atender às diferentes necessidades dos alunos.
    
Para Moreira (2009, p. 6) "[...] currículo é um conjunto de experiências pedagógicas organizadas e oferecidas aos alunos pela escola, experiências essas que se desdobram em torno do conhecimento".
    
O autor defende a tese de que a matéria prima do currículo seja o conhecimento. Já Gomes (2007) dá ênfase à diversidade que, para ele, deve ser tratada como eixo central na formulação do currículo da escola. Vimos ainda em Roldão (2003) o conceito de diferenciação curricular, ou seja, que a ideia da criação de um currículo deva ser construída de acordo com a realidade na qual os alunos estão inseridos, que contemple as diferenças presentes no espaço escolar, respeitando todos os grupos inseridos na escola:
O conceito de diferenciação curricular [...] terá de ser central e estruturante na reconceptualização da aprendizagem escolar, na medida em que a diversidade social se acentua - ou se reconhece e nomeia - e num tempo em que o grupo social homogêneo e estanque não é e nem será mais o definidor único das pertenças sociais dos alunos das escolas de hoje e do futuro (ROLDÃO, 2003, p. 162).
Ao passo que temos importantes autores discutindo e apontando a importância da construção curricular adequada à inclusão, também é preciso dizer que, de igual modo, os diretores cumprem papel decisivo no processo de inclusão escolar, pois de acordo com o mencionado na Declaração de Salamanca:
Os diretores da escola têm a responsabilidade de promover atitudes positivas através da comunidade escolar e via arranjando uma cooperação efetiva entre professores de classe e pessoal de apoio (UNESCO, 1994, p. 8).
Sendo assim, é certo que para uma inclusão real, para que de fato ela aconteça, é imprescindível aceitar e reconhecer a escola com todas as diferenças que nela existem e desprender-se dos preconceitos relacionados ao diferente. E isto não acontecerá se não houver investimento em capacitação aos profissionais que nela atuam. Se estes profissionais não forem capacitados a inclusão não passará de apenas utopia.
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Como referenciar: "Crianças Vítimas de Abuso Sexual: da Prevenção ao Assistencialismo" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 27/04/2024 às 03:05. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/criancasvitimas/index.php?pagina=2