A Lei n° 10.639: como a Inclusão de Conhecimento de Raiz Africana pode se dar acerca do Ensino de Matemática? (página 2)
Dada a obrigatoriedade legal da inclusão da temática "História e Cultura Afro- Brasileira"no âmbito de todo o currículo escolar da Educação Básica, surge a particularidade da inclusão de conhecimentos de raiz africana acerca dos conhecimentos matemáticos e dos modos didático-pedagógicos de desenvolvimento neste campo. O Programa Etnomatemática pode muito contribuir neste sentido.
Dentre os vários objetivos que se vinculam ao Programa Etnomatemática, está o estudo da Matemática e da História da Matemática a partir de uma consciência multicultural. Este programa foi proposto por Ubiratan D?Ambrosio em meados da década de 70. Para D'AMBROSIO (2005: p.17), "o grande motivador do programa de pesquisa Etnomatemática é procurar entender o saber/fazer matemático ao longo da história da humanidade, contextualizado em diferentes grupos de interesse, comunidades, povos e nações."
O Programa Etnomatemática motiva a realização de pesquisas sobre o ensino e o aprendizado da Matemática contido nos conhecimentos religiosos, nos mitos populares, nas construções, nas artes, nas danças, nos jogos, dentre outros.
D'AMBROSIO (MEC, Debates: Multiculturalismo e educação, 1998) afirma que,
Estamos passando por grandes transformações na sociedade, e em particular, na educação. As profundas transformações nos sistemas de comunicação, de informatização, de produção e de emprego surgem como um resultado da mundialização e, conseqüentemente, dão origem à globalização e ao multiculturalismo.
Ainda neste contexto, D'AMBROSIO (2005: p. 44), afirma também que "o multiculturalismo está se tornando a característica mais marcante da educação atual e a etnomatemática se enquadra perfeitamente numa concepção multicultural e holística da educação."
A África é um continente multicultural, com povos que pensaram, pensam e desenvolvem um raciocínio de natureza matemática, povos que têm suas próprias formas de 5 contar,inferir, mensurar, jogar, maneiras de desenvolver técnicas geométricas, dentre outras. No entanto, esses saberes não têm sido valorizados na realidade brasileira. Para que passem a ser, é fundamental um trabalho de pesquisa que contribua neste sentido. Esse é um dos fatores com o qual se compromete este projeto de pesquisa.
MIGUEL & MIORIM (2004: p. 54) assim afirmam:
Segundo os Parâmetros é de extrema importância que em situações de ensino sejam consideradas as contribuições significativas de culturas que não tiveram hegemonia política e, também, que seja realizado um trabalho que busca explicar, entender e conviver com procedimentos, técnicas e habilidades matemáticas desenvolvidas no entorno sociocultural próprio a certos grupos sociais.
Mesmo tendo uma cultura influente no mundo (no Brasil, por exemplo, temos influências africanas na formação linguística, nas manifestações culturais, carnaval, samba, capoeira, congadas, dentre vários outros aspectos) as pessoas ainda associam a África, de modo unilateral, generalista e preconceituoso, como um continente miserável, de aidéticos, crianças desnutridas, pessoas passando fome, etc.
A implementação da Lei nº. 10.639/2003 contribui para dar dignidade e fortalecimento à identidade étnica da população negra, influenciando a construção de um respeito efetivo em relação à população afro-brasileira.
As organizações que trabalham em prol das culturas negras, tais como Teatro Experimental do Negro (TEN), Movimento Negro Unificado (MNU), entre outras, vêm desenvolvendo um conjunto de experiências que buscam incluir efetivamente os negros na sociedade brasileira. Essas experiências visam, principalmente, a superação da discriminação a que os negros são cotidianamente submetidos.
As preocupações com as diferenças culturais, a pluralidade cultural e o multiculturalismo estão sendo mais enfatizadas nas diretrizes nacionais para a Educação Básica. Em uma sala de aula, especialmente na escola pública, se inter-relacionam indivíduos de diferentes grupos sócio-culturais, que terão que lidar com outros indivíduos, cujas raízes
são distintas das suas. Assim, fazer com que as diretrizes nacionais ? ao nível do respeito à diferença ? sejam efetivadas no cotidiano das escolas brasileiras é uma ação fundamental.
3. Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras e Africanas. ? Brasília: Secad / MEC, 2004.
GARCIA, Renísia Cristina. Identidade Fragmentada: um estudo sobre a história do negro
na educação brasileira. ? Brasília-DF: Inep, 2007.
D'AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática ? elo entre as tradições e a modernidade. ? 2.
ed. 1ª reimp. ? Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Debates: Multiculturalismo e educação. ? Brasília: INEP / MEC, 1998.
MIGUEL, Antonio. MIORIM, Maria Ângela. História na Educação Matemática: propostas e desafios. ? 1. ed. 1ª reimp. ? Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
4. Bibliografia
D'AMBROSIO, Ubiratan. Da realidade à ação: reflexões sobre educação e matemática. - São Paulo: Summus; Campinas: Ed. da Universidade Estadual de Campinas, 1986.
D'AMBROSIO, Ubiratan. Educação matemática: da teoria à prática. ? São Paulo; Campinas: Papirus, 1996.
D'AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática: arte ou técnica de explicar e conhecer. ? São
Paulo: Ática, 1990.
GERDES, Paulus. Geometria Shona. ? Maputo: Instituto Superior Pedagógico, 1993.
GERDES, Paulus. Vivendo a matemática: desenho da África. ? São Paulo: Scipione, 1990.
GLEASON, Judith. OYA: Um louvor à Deusa Africana. ? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil
Editores, 1999.
MUBUMBILA, V.. Sciences et Traditions Africanes. Les Messages du Gran Zimbabwe. ?
Paris: L'Harmattn, 1992.
PCN's: Parâmetros Curriculares Nacionais.
ZASLAVSKY, Claudia. How African count. In: African counts, numbers and patterns in African culture. ? Boston, Prindle: Weber and Schimidt, 1973.
ZASLAVSKY, Claudia. Africa Counts. Number and Pattern in African Cultures. ? Third Edition: Chicago: Lawrence Hill Books, 1999.
ZASLAVSKY, Claudia. Jogos e atividades matemáticas do mundo inteiro. ? 1ª. Ed.: Artmed, 2000.
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