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ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio e sua Trajetória: de Avaliação Sistêmica ao Vestibular Unificado (página 2)

A LDB/1996 propõe um currículo interdisciplinar e traz como objetivos do Ensino Médio: a consolidação das aprendizagens do Ensino Fundamental e a continuidade dos estudos; o aprimoramento das habilidades cognitivas, visando à autonomia intelectual e a compreensão dos conteúdos acadêmicos. Esses objetivos são cobrados na prova do ENEM, e, para resolvê-la, o candidato deve mobilizar sua competência de estudante, que deverá ser desenvolvida ao longo de sua escolaridade.

E que competência é essa que qualifica e identifica um sujeito como estudante? É a de mobilizar saberes construídos ao longo de sua vida e da escolaridade, aplicando-os com autonomia para resolver situações inseridas em contextos. E como os saberes não são estanques e nem vazios, mas, sim, carregados de conteúdos, de saberes disciplinares que se comunicam, caracterizando a interdisciplinaridade.

O Novo ENEM solidifica demandas já existentes, mas relegadas a segundo plano. Exige das escolas uma série de posturas, que antes não eram priorizadas. Valoriza a necessidade de leitura e atualização constante por parte dos estudantes, o estudo das atualidades passa a ser suporte para o desenvolvimento dos conteúdos. As Ciências Humanas, ganha papel de destaque nos currículos, pois o contexto social é estudado a partir dessas Ciências. Propõe, através de suas questões, o desenvolvimento do raciocínio, da capacidade de se relacionar, da possibilidade de ir além da mera memorização de fórmulas e dados.

A interdisciplinaridade sai do discurso pedagógico e vira realidade nas salas de aula, entra em cena. A necessidade de ir "além dos muros da escola", trazendo o cotidiano mundial através de: viagens, leituras, filmes, exposições, músicas, poesia, artes plásticas, navegação por sites com conteúdo inteligente e desafiador, entre outras ações, se torna premente e permanente. O conteúdo escolar passa a ter sentido desde que aplicado. E o desenvolvimento da habilidade da  metacognição  para a ser objetivo primordial de um projeto pedagógico.

Diante disso, podemos constatar que as provas do ENEM virão recheadas de conteúdos, portanto, devemos ter a clareza de que o desenvolvimento do  conteúdo escolar é fundamental, além de abandonarmos, de vez, a concepção de que conteúdo é resquício da escola tradicional e que está "fora de moda". O degrau a ser escalado é o desenvolvimento de um saber contextualizado e o oferecimento aos alunos de situações onde a aplicação do conteúdo escolar e interdisciplinar se torne constante.

As competências só são desenvolvidas se estiverem fundamentadas em conteúdos. Só é possível aplicar aprendizagens para quem aprendeu o construto. Exemplificando: um cirurgião cardiovascular só terá a competência para realizar uma operação no coração de seu paciente, se conhecer bem a anatomia do coração, dominar o construto, ter o conhecimento, ter conteúdo. É claro que só ter domínio do conteúdo não qualifica ninguém para realizar uma cirurgia, uma vez que o biólogo também conhece bem a anatomia do coração, mas não tem a competência para aplicar esse conteúdo e realizar uma cirurgia. Assim, a competência é a capacidade de articular e utilizar os conteúdos.

E, às escolas, não basta treinar alunos para realizarem provas do ENEM. É necessário atuarmos como profissionais responsáveis e garantirmos o desenvolvimento da competência que qualifica o estudante, e, para isso, será necessário construirmos um currículo, da Educação Infantil ao Ensino Médio, que seja interdisciplinar e propicie condições para o estudante aplicar os conhecimentos adquiridos.

É certo que tudo isso é grandioso se analisarmos a realidade educacional do país. Mas ainda assim, tendo essa perspectiva, é necessário o movimento de mudança e o desenvolvimento real de um currículo interdisciplinar que proporcione a formação ampla, crítica, cidadã e ética do sujeito.
Ir além da concepção estanque e meramente disciplinar vigente nas escolas e entender que os saberes não são dissociados, implica em uma mudança de postura frente à maneira de se fazer educação. Reunir os conhecimentos em grupos como Ciências Humanas, Matemática e Ciências da Natureza, Códigos e Linguagens é uma ação  que traz qualidade à educação.
A proposta do Novo Enem só contribuirá para a formação dos nossos estudantes se as alterações não se limitarem simplesmente à aplicação de um novo instrumento de avaliação. É preciso desenvolver na equipe de docentes a habilidade de trabalhar em equipe, reformular os materiais didáticos existentes, repensar e aplicar novos currículos, é fazer da escola um celeiro de construção real de conhecimento, onde todos se percebam como peças fundamentais de algo maior, a proposta pedagógica da escola, e em conjunto desenvolvam o exercício da docência.

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Como referenciar: "ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio e sua Trajetória: de Avaliação Sistêmica ao Vestibular Unificado" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 19/04/2024 às 00:55. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/enem/index.php?pagina=1