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As Funções Executivas e sua Importância no Bom Desempenho Acadêmico (página 2)

O desenvolvimento das habilidades executivas começa no primeiro ano de vida do bebê e vai se acentuar por volta dos 6 e 8 anos de idade, avançando até o final da adolescência e o início da fase adulta do indivíduo. ROTTA(2016).

Podemos aqui observar ao longo desse período, à medida que a criança cresce e se desenvolve, que as diversas habilidades executivas vão se aprimorando e quanto mais vivencio e experimento situações que demandem autorregulação e atenção vou amadurecendo essas habilidades e tendo ganhos comportamentais que me possibilitarão melhores aprendizagens.

As funções Executivas e suas habilidades tem sido alvo de muitos estudos e pesquisas por diversos autores que pontuam a existência de componentes diferenciados e de crucial importância. Para Miyake et al(2000), três componentes são fundamentais: o controle inibitório, a memória de trabalho e a flexibilidade cognitiva. Outros autores acrescentam a esse construto componentes de maior complexidade como a resolução de problemas e planejamento. ROTTA(2006)

Para entendermos a importância desse construto, vamos ver o que Rotta (2006), Diamond (2007) e Barkley (2001) nos falam dessas habilidades:

1-Controle inibitório: é a capacidade de pensar antes de agir, ou seja, inibir uma resposta comportamental impulsivamente, passando de uma resposta para outra melhor e mais considerada, adequada para a situação. É a maneira com que o cérebro modula o nosso comportamento.

2-Memória de trabalho é a capacidade de se armazenar temporariamente as informações e as incorporar a outros estímulos do meio ambiente ou seja, poder buscar uma informação na memória de longo prazo, facilitando seu resgate quando necessário. Tem um papal fundamental na capacidade de compreender o que se está lendo, o que se está a aprender e na capacidade de manter o raciocínio com logicidade. É ela que dá sentido aos acontecimentos, evocando eventos já armazenados e integrando com os novos que se está a prender. 

3-Flexibilidade cognitiva é a capacidade em alternar o foco, mudar de atividade ou de planos: se um caminho escolhido não traz resultados positivos, outro caminho é elaborado e percorrido. É a capacidade de mudar de planos em decorrência da demanda imposta pelo meio a que está inserido.

Como se pode observar nas falas de Rotta (2006), Diamond (2007) e Barkley (2001), as habilidades simples que se requer nas atividades escolares podem ser alteradas, por exemplo, por ausência do controle inibitório: se eu não paro, não presto atenção e assim a habilidade executiva que tem como função selecionar, dentre vários estímulos distratores o que é relevante (atenção seletiva), fica prejudicada e me distraio em sala de aula.

Outra habilidade que exerce grande influência no desempenho escolar é a memória de trabalho: ela me faculta a compreensão do que está sendo aprendido, por evocar o que já aprendi e me facilitar também a compreensão do que estou lendo.

Da mesma maneira, ser flexível me viabiliza novas possibilidade e planejar qual caminho ou rota devo seguir para obter sucesso. Se o comportamento é rígido, não saio do lugar, não aceito novas possibilidades e continuo fazendo do mesmo jeito, mesmo percebendo que o caminho escolhido não é o melhor a ser adotado. Outro comportamento observado na ausência de flexibilidade na escola é a dificuldade de me adaptar a mudança ou planos em sala de aula, em trabalhos em grupos onde escutar o outro e mudar planos se faz necessário para que obtenhamos sucesso. ROTTA (2006), DIAMOND (2007) E BARKLEY (2001)

A relação das habilidades executivas e o bom desempenho acadêmico tem sido evidenciado por diversos autores: Capovilla (2008), Dias (2010), Gathercole et al (2006) comprovaram que o controle da atenção e a autorregulação são predistores de bom desempenho escolar em disciplinas como as de matemática e linguagem.

Gathercole et al (2006) evidenciaram que a memória de trabalho influencia diretamente sobre a leitura, prejudicando a memória de curto prazo visoespacial, interferindo diretamente na linguagem, consciência fonológica e memória de curto prazo fonológica. Impacto que pode ser evidenciado no não cumprimento de uma tarefa escolar, por dificuldades de manter-se focado e terminá-la dentro do tempo estabelecido.

Outros estudos vieram comprovar a relação das habilidades executivas bem desenvolvidas e o êxito no contexto acadêmico. DIAMOND (2007), DIAS (2010)
Crianças na fase pré- escolar com controle inibitório e autorregulação já bem desenvolvidas conseguem compreender melhor ordens e seguirem regras, facilitando a aprendizagem e o desejo em realizar tais tarefas. DIAMOND (2012)

Com base nesses dados fica aqui um questionamento: por que não estimular as habilidades executivas em sala de aula? Não seria uma forma de preparamos nossos estudantes a terem sucesso acadêmico e em sua vida?

Na literatura vários métodos de estimulação das habilidades executivas já se encontram disponíveis e um estudo criterioso de qual melhor método a ser utilizado pelas escolas (inserido em sua metodologia) deveria fazer parte de discussões entre os educadores.
Fica aqui uma reflexão: a quem caberá esse novo olhar, aos terapeutas, aos pais ou a escola?

Uma ação em conjunto sem dúvida traria benefícios a nossas crianças e melhoraria o fazer acadêmico, evitando repetências e a evasão escolar.

Bibliografia

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Como referenciar: "As Funções Executivas e sua Importância no Bom Desempenho Acadêmico" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 26/04/2024 às 04:42. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/funcoesexecutivas/index.php?pagina=1