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A Inclusão Social do Portador de Epilepsia na Educação Infantil (página 3)


2.2. O PAPEL DO EDUCADOR FRENTE À INCLUSÃO

É notável o fato de que o processo de ensino e aprendizagem tem sofrido consideráveis mudanças ao longo dos últimos anos. A partir da Revolução Industrial e o advento das máquinas e, posteriormente, o gigantesco salto tecnológico, a educação passou a assumir um perfil muito mais dinâmico e bilateral, fugindo do pragmatismo e da posição "intocável" do educador no ato de ensinar, enquanto que ao educando cabia o papel de aprender, sem maiores questionamentos.

Tal mudança de pensamento ocorre devido às necessidades apresentadas pelo mercado de trabalho e, principalmente, à velocidade com que as informações correm nos dias atuais. Se antigamente o educando chegava à escola em busca do "aprender", hoje este chega em busca do "dividir", através de comparações e questionamentos.

A Internet causou, de fato, uma revolução social e, a educação, evidentemente, não ficou de fora desta realidade. Conforme o acesso à rede mundial de computadores foi criando braços e se ampliando, a tarefa da escola e do educador foi ficando cada vez mais árdua e importante. O aluno não é mais aquele ser estático, pronto para ouvir e absorver. Agora, este passou a trazer consigo as vivências provenientes das suas experiências de vida e das informações por ele adquiridas, principalmente através das mídias, sendo a maior delas a Internet.

Para Lia Raquel Oliveira, o "saber é o resultado de uma gestão criativa da informação". O que significa gerir criativamente a informação? Ainda segundo a autora, "a informação é um bem de consumo e uma mercadoria de massas"; o saber, pelo contrário, exige "um labor do pensamento humano que transforma a informação (de que todos podem dispor) em saber criativo".

Pode-se inferir, assim, que o saber é diferente do conhecimento. Trata-se de um conhecimento que vai além, contextualizado, cabível dentro de um determinado tempo e etapa e, principalmente, que tenha significado na vida de quem aprende.

Neste interim, o educador exerce uma função primordial: a adequação. Compreende-se que, em sua maioria, as pessoas que trabalham com educação já possuem dentro de si a boa vontade e o desejo de se fazer entender e ter um trabalho verdadeiramente eficaz, o que significa a boa formação do indivíduo e a aquisição do seu "saber". No entanto, essa boa vontade, apesar de ser condição importante, não é a única. Marchesi (2004) apresenta uma visão semelhante ao comentar que criar escolas inclusivas requer muito mais que boas intenções, declarações e documentos oficiais, requer que a sociedade, escolas e professores tomem consciência das tensões e organizem condições para criação de escolas inclusivas de qualidade. Além disso, para este autor, a preparação do professor também se constitui condição necessária para o processo de inclusão dos alunos com necessidades especiais:

"É muito difícil avançar no sentido das escolas inclusivas se os professores em seu conjunto, e não apenas professores especialistas em educação especial, não adquirirem uma competência suficiente para ensinar todos os alunos." (MARCHESI, 2004, p. 44)
    
Infelizmente, é verdade que boa parte dos professores ainda é fruto de um processo de formação tradicionalista e tecnicista, que não estimula o raciocínio e a aprendizagem significativa. Para estes, o processo de adequação às novas necessidades é um pouco mais complexo, no entanto, essencial. Diante das questões acerca da inclusão educacional, cabe a este educador a reflexão não apenas relacionada ao sentido de repensar suas técnicas de ensino, mas de variá-las e adaptá-las ainda mais profundamente quando se trata de lidar com as crianças portadoras de necessidades especiais.

Como dito anteriormente, além de reconhecer a necessidade de novas práticas pedagógicas que estimulem o pensar, é necessário buscar meios de incluir as crianças especiais no processo de aprendizagem e na vida social da escola e fora dela. Do professor espera-se que desempenhe de forma adequada sua prática pedagógica e promova de fato uma educação de qualidade, considerando a heterogeneidade do grupo. (Freitas, 2006, p. 40)

"[...] preventivamente, cabe examinar a formação inicial de todos os professores, de modo a assumirem a perspectiva da educação para todos ao longo de toda a trajetória profissional, aliando qualidade com equidade." Pensamos que não basta receber tais alunos para a mera socialização, o que seria mais uma forma de exclusão, é necessário um atendimento que oportunize o desenvolvimento efetivo de todos, para isso, torna-se primordial que o professor tenha uma prática reflexiva e fundamentada. Que busque capacitar-se, visto que somente a formação inicial pode não ser suficiente para o enfrentamento de questões tão sérias e por vezes difíceis de lidar. O art. 18 Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica dispõe sobre os professores e sua formação para atuar no contexto inclusivo: "[...] professores capacitados e especializados, conforme previsto no artigo 59 da LDBEN [...] a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura de graduação plena. (BRASIL, 2001, p.77).

As diretrizes e políticas de inclusão do Estado brasileiro definem metas e práticas pedagógicas que devem proporcionar a inclusão e estimular a união da comunidade escolar em torno de tais objetivos. No entanto, este processo é complexo por sua própria natureza. Fala-se muito em capacitação dos professores e, deve-se ressaltar, já há um avanço significativo neste sentido. Porém, o que tem sido feito neste sentido é muito pouco. Lidar com alunos de necessidades especiais não é simples. Exige, acima de tudo, conhecimento. Desnudar-se das práticas corriqueiras e buscar novas formas de reconhecer o aluno especial como alguém que deve ter as mesmas possibilidades que os demais. Para tanto, é preciso estrutura física e de pensamento.

Prova de tal complexidade é que, nos dias de hoje, ainda há pensadores e estudiosos que compreendem que o aprendizado efetivo cabe apenas ao aluno: Silva (2004 p. 34) defende que "é o aluno que se adapta ao novo conhecimento e só ele é capaz de regular o seu processo de construção intelectual". O equívoco deste pensamento é evidente. Se assim fosse, não haveria que se falar em adaptações no fazer pedagógico, nas bases curriculares e na própria estruturação da escola, como fatores preponderantes para que o processo de inclusão seja efetivo. Dentro da perspectiva do autor, os professores estariam isentos de responsabilidade neste processo, cabendo apenas ao aluno a responsabilidade por seu sucesso escolar.

Não se pretende aqui, no entanto, rejeitar a responsabilidade do aluno na busca do seu conhecimento. Tencionamos apenas demonstrar que, essencialmente no caso dos portadores de necessidades especiais, é fundamental um estímulo diferenciado para que eles possam atingir seus objetivos, tanto no cerne da educação, quanto no do convívio social, como no acesso ao mercado de trabalho.

Ao professor cabe, essencialmente, compreender que incluir é tornar o indivíduo parte de um todo. É claro que a heterogeneidade vai estar sempre presente em qualquer ambiente educacional, porém, está se dá normalmente nas questões do como e quando aprender e não, essencialmente, na necessidade do aprender. Como mediador do conhecimento, o educador deve relacionar todos os conhecimentos prévios, as características individuais e os aprendizados trazidos das vivências, tudo em prol de um bem comum. Não é possível ao aluno especial trilhar este caminho sozinho. No caso específico do epilético, é ainda mais latente esta necessidade, tendo em vista as sombras dos estigmas e preconceitos ainda hoje presentes, frutos da ignorância e da falta de informação.

Apenas relacionando os conhecimentos, assumindo o papel de mediador, proporcionar atenção e respeito e incentivar a mesma atitude dos demais membros do ambiente escolar - especialmente dos demais alunos - é que será possível ao educador incluir de fato uma criança especial e trazê-la de volta a uma realidade onde todos são iguais e, principalmente, capazes. É preciso ressaltar que o aprender é um processo, não um produto. Para atingir tal finalidade, os processos devem ser adaptados de maneira coerente e adequada. Esta é, basicamente, a função do professor na inclusão escolar.
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Como referenciar: "A Inclusão Social do Portador de Epilepsia na Educação Infantil" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 26/04/2024 às 04:32. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/inclusaoepilepsia/?pagina=2