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Música e Educação: Contribuições da Prática Musical para o Processo de Formação do Indivíduo em Ambiente Escolar (página 3)


Para Paulo Freire (1987) a educação exerce esse papel quando promove o diálogo participativo baseado na humildade e no amor pelo mundo e pelos homens. A humildade valoriza a autenticidade do ser, não deixando espaço para a arrogância e para a alienação da ignorância; o homem humilde enxerga no próximo um "outro eu" também em processo de humanização e reconhece em si a ignorância que o impede de humanizar-se. O amor, por sua vez, consiste em ato de coragem e de compromisso, com os homens e para os homens, com o mundo e para o mundo, pois caracteriza-se pela valentia de libertar os homens de suas condições de opressor e oprimido rompendo com a relação patológica em que uns subjugam outros e em que o homem subjuga a si mesmo. Sem o amor pelos homens, pela vida e pelo mundo não é possível o diálogo radical paulofreireano.
     
Um terceiro elemento crucial para que o diálogo se estabeleça é a fé na humanidade que, segundo Freire:

Não há também diálogo, se não há uma intensa fé nos homens. Fé no seu poder de fazer e de refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens (FREIRE, 1987. p. 81).

Como consequência de tais paradigmas a confiança surge como ingrediente fundamental para a educação, que mais uma vez Freire defende como:

Ao fundar-se no amor, na humildade, na fé nos homens, o diálogo se faz numa relação horizontal, em que a confiança de um polo no outro é consequência óbvia. Seria uma contradição se, amoroso, humilde e cheio de fé, o diálogo não provocasse este clima de confiança entre seus sujeitos (FREIRE, 1987. p. 81).

A palavra sectário tem sua origem no termo latino sectus que significa cortado, cercado, amputado. Uma sectura é, portanto, um corte que divide em partes o que antes era um todo, sedo sectário aquele que segue cegamente uma parte de todo o sistema social. Radical por sua vez, vem de radix e refere-se à raiz. Radicalizar é conhecer a fundo a realidade para poder transformá-la, ir à raiz da questão, ao fundamento que a faz ser o que é.
    
O homem, em comunhão com seus pares, aprofunda a tomada de consciência da situação apropriando-se dela como realidade histórica possível de ser transformada por ele próprio, consistindo em ação violenta qualquer situação em que alguns homens proíbam outros de realizarem suas buscas. A sectarização leva à patologia da opressão entre os homens, onde há o sadismo dos opressores e o masoquismo dos oprimidos.
    
O conceito de "educação bancária" refere-se à forma sectária de depositar informações nos educandos que, por sua vez, tendem a repeti-las sem a reflexão crítica necessária para sua formação humana. Dessa maneira, Freire sinaliza:

Na visão "bancária" da educação, o "saber" é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão - a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro. (FREIRE, 1987. p. 58).

Essa pedagogia entende o processo formativo humano como uma adaptação, um ajuste à situação dada; visa mudar a mentalidade dos educandos ao invés de subsidiá-los a ler criticamente o mundo e nele lerem-se; apresenta-lhes uma realidade estática, imóvel e intransformável; marginaliza aqueles que discrepam da fisionomia geral da sociedade e que em nenhum momento estiveram do lado de fora realmente, senão por essa visão sectária e opressora de ver o mundo e os homens; faz com que "ser" seja "parecer", e "parecer" é parecer com o opressor; impõe uma consciência e um comportamento a outro ; enxerga o uso da força, controle e repressão em nome da ordem, uma vez que, nesse pensar, a rebeldia é sempre uma ameaça (FREIRE, 1987).
 
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Como referenciar: " Música e Educação: Contribuições da Prática Musical para o Processo de Formação do Indivíduo em Ambiente Escolar" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 18/05/2024 às 15:16. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/musica_educacao_contribuicoes/index.php?pagina=2