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O Lúdico e o Papel do Jogo na Aprendizagem Infantil (página 2)

O PAPEL DO JOGO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

A teoria de Piaget sobre o desenvolvimento e aprendizagem destaca a importância do caráter construtivo do jogo no desenvolvimento cognitivo da criança.
Segundo Piaget (1971), "existem três formas básicas de atividade lúdica que caracterizam a evolução do jogo na criança, de acordo com a fase do desenvolvimento em que aparecem".

Jogos de Exercício Sensório motor - Caracterizam a etapa que vai do nascimento até o aparecimento da linguagem. Os exercícios sensórios motores constituem a forma inicial do jogo na criança (esses exercícios motores consistem na repetição de gestos e movimentos tais como: o bebê estica e encolhe os braços e pernas, agita mãos e dedos, toca objetos, produz ruídos e sons, etc.).

Salientamos que estes exercícios não são específicos dos dois primeiros anos de vida ou da fase de condutas pré-verbais, eles reaparecem em toda a infância e mesmo na fase adulta, "sempre que um novo poder ou uma nova capacidade são adquiridos" (PIAGET, 1971, p. 149).

Jogo Simbólico - Período compreendido entre os 2 a 6 anos, a tendência lúdica se manifesta, predominantemente, sob a forma do jogo simbólico, isto é, jogo de ficção, imaginação e imitação. Nesta categoria está incluída a metamorfose de objetos, por exemplo: um cabo de vassoura se transforma em um cavalo, uma caixa de fósforos em um carrinho, um caixote passa a ser um caminhão ou trenzinho, também ocorro o desempenho de papéis: brincar de mamãe e filho, professor e aluno, médico e paciente etc.

Nesse sentido, para Piaget (1969), o jogo simbólico é, simultaneamente, um modo de assimilação do real e um meio de auto expressão, pois à medida que a criança brinca de casinha, representando papéis de mamãe, papai e filho, ou brinca de escola, reproduzindo os papéis do professor e aluno, "ela está, ao mesmo tempo, criando novas cenas e também imitando situações reais por ela vivenciadas" (p. 29).

A função desse tipo de atividade lúdica, segundo Piaget (1969, p. 29) consiste em satisfazer o eu por meio de uma transformação do real em função dos desejos: "a criança que brinca de boneca refaz sua própria vida, corrigindo-a a sua maneira, e revive todos os prazeres e conflitos, resolvendo-os, ou seja, completando a realidade através da ficção".

Destarte, o jogo simbólico, tem como função assimilar a realidade, seja através da resolução de conflitos, da compensação de necessidades não satisfeitas, ou da simples inversão de papéis.

Jogos de Regras - A terceira forma de atividade lúdica a surgir é o jogo de regras, que inicia por volta dos 5 anos, mas se desenvolve principalmente na fase que vai dos 7 aos 12 anos, predominando durante toda a vida do indivíduo.

Os jogos de regras são combinações sensório-motoras (corridas, jogos com bolas) ou intelectuais (cartas, xadrez) em que há competição dos indivíduos (sem o que a regra seria inútil) e regulamentadas quer por um código transmitido de geração em geração, quer por acordos momentâneos. (PIAGET apud RAU, 2007, p. 75).

O que caracteriza o jogo de regras é o fato da regulamentação por meio de um conjunto sistemático de leis (as regras) que asseguram a reciprocidade dos meios empregados.

Na teoria de Piaget (1969), o jogo de regras, é uma conduta lúdica que supõem relações sociais ou interindividuais, pois a regra é uma ordenação, uma regularidade imposta pelo grupo, sendo que sua violação é considerada uma falta. Portanto, essa forma de jogo prevê a existência de parceiros e de "certas obrigações" comuns (as regras), o que lhe confere um caráter eminentemente social.

Segundo Piaget (1971, p.185) ?as regras é a atividade lúdica dos ser socializado e começa a ser praticado por volta dos 7 anos, quando a criança abandona o jogo egocêntrico das crianças menores, em proveito de uma aplicação efetiva de regras e do espírito cooperativo entre os jogadores?.

O jogo na criança, inicialmente egocêntrico e espontâneo, vai se tornando cada vez mais uma atividade social, na qual as relações individuais são fundamentais.

Já no que diz respeito aos estudos de Vygotsky (1984), o jogo é considerado um estímulo à criança no desenvolvimento de processos internos de construção do conhecimento e no âmbito das interações com os outros. O autor, que se aprofundou no estudo do papel das experiências sociais e culturais a partir da análise do jogo infantil, aponta que no jogo, a criança transforma pela imaginação os objetos produzidos socialmente.

A teoria de Vygotsky (1984) afirma que toda atividade lúdica da criança possui regras. A situação imaginária em qualquer forma de brinquedo já contém regras que demonstram características de comportamento, mesmo que de forma implícita. Para esse autor, o jogo é o nível mais alto do desenvolvimento na fase pré-escolar, e é através dele que a criança se move.

Nesse sentido, Vygotsky (Apud Rau, 2007, p.76) destaca que o jogo é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, pois "o processo de vivenciar situações imaginárias leva a criança ao desenvolvimento do pensamento abstrato, quando novos relacionamentos são criados no jogo entre significações e interações com objetos e ações".

A partir das teorias de Piaget e Vygotsky entende-se que é preciso refletir sobre o papel do educador ao utilizar o lúdico como recurso pedagógico, o que lhe possibilita o conhecimento sobre a realidade lúdica da criança, sobre seus interesses e necessidades.
Assim, ao utilizar o jogo como recurso pedagógico, o educador deve considerar a organização do espaço físico, a escolha dos objetos e dos brinquedos e o tempo que o jogo irá ocupar em suas atividades diárias na educação infantil. Esses pontos são definidos como requisitos básicos, fundamentais, para o trabalho com o lúdico no processo de desenvolvimento cognitivo infantil.

O entendimento sobre os aspectos favorecidos através do lúdico como recurso pedagógico vem ao encontro da necessidade de simbolização das vivências cotidianas pela criança, facilitando que diferentes linguagens, verbais e não verbais socializadas e idealizadas, transformem-se em um instrumento do pensamento. "Entende-se que o pensamento é formado por relações e que o homem passa por meio de símbolos, construídos nas relações dialéticas com o mundo cultural, social e físico". (RAU, 2007, p. 78).

Ao tratar desse assunto Vygotsky (1984) discorre que a criança precisa de tempo e espaço para identificar e construir sua própria realidade e a realiza por meio da prática da fantasia. Para o autor, a imaginação na ação, ou o brinquedo, é a primeira interação da criança no campo cognitivo o que permite ultrapassar a dimensão perceptiva motora do comportamento.

Na infância, as linguagens expressivas subjetivas dão formas às vivências cotidianas e as transforma em pensamento, numa construção dialética, sistematizando os processos primários, básicos ou elementares, em processos complexos. Ao passar por esse processo a criança apropria-se da cultura, tornando-se parte dela, e a representação simbólica, segundo essa teoria, possibilita a interiorização do mundo que a rodeia.

Os estudos de Kishimoto (1999, p. 37), apontam a "necessidade da criação de espaços como salas de jogos e cantos que permitam às crianças ter mais liberdade e possibilidades diferentes nos seus movimentos, bem como investir na atividade de exploração".

Os espaços criados, recriados ou construídos nas instituições educativas contribuem de forma significativa, oportunizando as crianças inúmeras aprendizagens. Neste ínterim, o espaço é considerado como algo que educa a criança, Edwards et al (1999).
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Como referenciar: "O Lúdico e o Papel do Jogo na Aprendizagem Infantil" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 23/04/2024 às 04:50. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/o_ludico/?pagina=1