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Um Olhar sobre a Atuação do Coordenador Pedagógico (página 3)

O COORDENADOR PEDAGÓGICO E A GESTÃO DEMOCRÁTICA: UMA PRÁXIS EM MOVIMENTO

A gestão da escola faz parte da própria natureza do ato pedagógico. É notável que a forma de gerir a educação requer um clima em que todos contribuam com ideias, críticas e encaminhamentos, pois gestão e participação pedagógica pressupõem educação democrática. Entretanto, construir um ambiente de gestão democrática não é tarefa fácil para quem ocupa o cargo de coordenador pedagógico. Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança na mentalidade de todos os membros da comunidade escolar. Assim, destaca Heloísa Luck (2006, p.81) a importância e a responsabilidade de todos no processo de gestão:

No caso da gestão da escola, corresponde a dar vez e voz e envolver na construção e implementação do seu projeto político-pedagógico a comunidade escolar como um todo: professores, funcionários, alunos, pais e até mesmo a comunidade externa da escola, mediante uma estratégia aberta de diálogo e construção do entendimento de responsabilidade coletiva pela educação. (HELOÍSA LUCK, 2006, p. 81).   

O coordenador pedagógico sozinho, por mais que seja competente, não mudará a escola, não conseguirá projetar as marcas de sua dinâmica pedagógica, se os seus componentes não estiverem totalmente comprometidos coletivamente, envolvidos e conscientes dos princípios pedagógicos que este profissional busca concretizar perante seu grupo de trabalho. Sua atitude democrática é necessária, mas não é suficiente. É preciso coordenar o efetivo exercício da democracia, que também requer um aprendizado, que demanda tempo, atenção e trabalho. Na escola, o coordenador pedagógico assume responsabilidade legal frente à gestão democrática, para gerir grandes ideias de forma coletiva como também apontar possíveis caminhos no decorrer do processo educativo. Através de sua ação interativa vai estabelecendo um clima de respeito mútuo e, sobretudo, de sensibilização para com os envolvidos no processo viabilizando satisfação e prazer no desenvolvimento do projeto pedagógico da escola.
        
O artigo 206, inciso VI, da Constituição Federal, prega a exigência de uma gestão democrática de ensino público. Entretanto, o exercício da democracia na escola exige do gestor liderança, competência, agilidade, convivência, criatividade e entusiasmo. Nem sempre encontramos, no cotidiano, um coordenador que junto com o gestor apresente todo este conjunto de características ora, podem surgir com maiores ou menores variações no processo de gestão. Nesse sentido, a gestão democrática na escola configura-se como parte indissociável do processo mais amplo de democratização da sociedade. Ela ultrapassa os limites da simples representatividade. Todavia, realizar a gestão democrática tem sido um grande desafio a gestores e a coordenadores pedagógicos, pois exige participação coletiva em todas as atividades ao efetivar-se a socialização de decisões e a divisão de responsabilidades. Assim, estar coordenador pedagógico viabiliza estimular sempre e efetivar a participação de todos na definição de objetivos desejáveis, na seleção e implementação dos meios eficazes para buscar constantemente a solução de problemas para os quais a coordenação pedagógica da escola, e mesmo os professores, sentem dificuldade em resolvê-los. Dessa forma, a comunidade em geral dá suporte ao enfrentamento dos vários problemas e às tomadas de decisões que implicam a definição e a construção dos rumos da escola. E assim, a gestão escolar democrática emerge mais facilmente quando bem organizada e orientada, a partir de uma concepção clara e definida de papéis onde permite ao coordenador os instrumentos necessários para transitar entre interesses externos e internos que regem a escola. Entretanto, Libâneo assinala que é preciso:

(...) reconhecer que sua ocupação tem uma característica genuinamente interativa, ou seja, está a serviço das pessoas e da organização, delas requerendo uma formação específica a fim de buscar soluções para os problemas, saber coordenar o trabalho conjunto, discutir e avaliar a prática, assessorar os professores e prestar-lhes apoio logístico na sala de aula. (LIBÃNEO, 2009, p. 350).

Na gestão democrática cabe ao coordenador pedagógico, junto com todos os outros membros escolares, possibilitar trocas de saberes e experiências, ou seja, aprender a aprender respeitando a individualidade de cada um, sem perder de vista a sua atribuição maior na convergência da formação de si e do outro. Deve, pois, ter o diálogo como método capaz de provocar mudanças no âmbito escolar, motivando professores, funcionários e alunos, valorizando-os, escutando-os e, posteriormente traçando um plano de ação focado no que é prioritário e real. Pode-se dizer que na gestão democrática o espaço do diálogo é essencialmente o fio condutor desse profissional que se coloca como articulador/formador/transformador, que cresce junto com o docente ampliando todos os olhares, sem perder de foco a responsabilidade de cada um no processo. Nesse movimento, Heloísa Luck (2006, p. 63) acrescenta que, "cada escola constrói uma experiência singular a ser valorizada como circunstância única e irreprodutível, a ser reconhecida pela observação e atenção às nuances e peculiaridades de sua manifestação...". Dessa forma, constrói-se sob a ótica fragmentada para a ótica organizada, fazendo-se sujeito atuante da gestão que, ao mesmo tempo em que a influencia, é influenciado por ela.
        
Cabe ressaltar que na gestão democrática são imprescindíveis ações voltadas à educação política, articulado diretamente com ações que se sustentam em métodos mais democráticos no cotidiano de atuação pedagógica. Na medida em que se cria e recria alternativas mais democráticas, em especial, na gestão pedagógica educativa, exercem-se relações de poder, mas que estas, de forma alguma podem deixar atrapalhar os vários segmentos de atuação da comunidade escolar. Esse entendimento pressupõe, portanto, que ação e participação na gestão de coordenador pedagógico, garantem a orientação e a construção de uma consciência coletiva compromissada, atento aos desafios educacionais, já que este profissional, não tem todas as respostas para todos os eventos que ocorrem em seu campo de trabalho. No entanto, este poderá problematizar e encaminhá-las de maneira mais viável possível dentro do que se defende como processo democrático buscando soluções no coletivo para as adversidades que surgem em seu ambiente escolar.
        
É pertinente ainda que neste contexto, o coordenador busque alternativas viáveis para motivar a ação docente, já que, hoje em dia, há várias formas de se obter informação e a escola é apenas mais uma; mostrar ao docente que é de suma importância ter conhecimento sobre a realidade do aluno para adaptar os conteúdos que serão trabalhados em sala de aula, isso tornará a relação professor-aluno mais amistosa e bem mais rentável para ambas as partes; reduzir a resistência dos professores que não aceitam intervenções em suas práticas, diminuindo a barreira entre professor e coordenador através de reuniões, capacitações e/ou formação continuada; e essencialmente, estimular os docentes a reflexão do ambiente escolar e da prática ensino despertando em si mesmos que as atividades realizadas em sala de aula deve haver um objetivo a ser alcançada, uma proposta de mudança e transformação. Assim, sem perder seu foco, buscar-se-á alcançar um processo de participação mais efetiva através das relações de diálogo, de cooperação e transformação, buscando melhorias coletivas dentro da escola. Portanto, mais do que agir assim, é necessário refletir sobre essas ações. Para esse autor (MACEDO, 1995, p. 35):

Reflexão significa envergar-se de novo, em outro espaço, em outro tempo, talvez em outro nível. Para isso, o que acontece no domínio da experiência, por exemplo, necessita ser mais bem observado, recortado, destacado e projetado em um outro plano. Reflexão consiste, pois, em um trabalho de reconstituição do que ocorreu no plano da ação. Além disso, trata-se de organizar o que foi destacado, de acrescentar novas perspectivas, de mudar o olhar, de se descentrar. A hipótese é que, assim, isso produzira benefícios para a ação. Então refletir é ajoelhar-se diante de uma prática, escolher coisas que julgamos significativas e reorganizá-las em outro plano, para, quem sabe, assim podermos confirmar, corrigir, compensar, substituir, melhorar, antecipar, enriquecer, atribuir sentido ao que foi realizado.

Embora essa caminhada do coordenador nem sempre seja feita com segurança diante das diversas transformações, informações e responsabilidades, do medo e da insegurança, também fazem parte dessa trajetória, que vão sendo enfrentados a partir dos conflitos existentes e de subsídios teóricos e metodológicos que se busca superá-los. Para tal, far-se-á a necessidade de leitura e estudos constantes, exigência essencial para a caracterização da profissão educativa que se tornou extremamente ambígua nos dias atuais.

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Como referenciar: "Um Olhar sobre a Atuação do Coordenador Pedagógico " em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 18/05/2024 às 17:24. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/olhar_sobre_atuacao/index.php?pagina=2