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Parece, mas não é.

Autor: Flávia Francisco
Data: 17/04/2014

Era uma segunda-feira, todos com cara de cansados por conta do final de semana, mas infelizmente tinham que trabalhar. Após bater o sinal de entrada, comecei a conferir os cartões de ponto e perceber que um dos funcionários não havia "batido" o cartão.

Passada uma hora, este funcionário chegou alegando ter "perdido a hora", lamentando o ocorrido. Como meu patrão - que é meu pai - estava ausente, eu apenas conversei com o funcionário, pedindo-lhe que não ocorresse novamente essa situação desagradável, afinal, tal problema estava ocorrendo com muita frequência.

Após a volta do período do almoço, este mesmo funcionário se atrasou novamente, mas desta vez meu pai estava presente e, ao saber que ele já havia chegado atrasado no período da manhã, aplicou uma advertência no funcionário e me culpou pelo ocorrido, dizendo:

- A culpa de tudo isto é sua, pois se no período da manhã você já tivesse aplicado uma advertência nele, isto não teria se repetido. Não sei como você quer ser uma diretora de escola, pois nem administrar a própria empresa do seu pai você consegue!

Tal comparação feita entre Administração Escolar e Administração de Empresas é constante, afinal, ambas se iniciam com a mesma palavra, Administração, que remete à burocracia, hierarquia, poder, organização. Essa assimilação se dá por conta da existência de uma visão universal de Administração, considerando que a mesma pode ser aplicada a qualquer contexto com adaptação de suas técnicas. (MAIA; MACHADO, 2005, s.p.).

Por sua história e contexto histórico terem se baseado em diferentes escolas de Administração de Empresas, os objetivos distintos da Administração Escolar permanecem de forma implícita, não se levando em conta a necessidade de uma construção teórica própria.

José Querino Ribeiro (1907-1990) foi um educador brasileiro com notória carreira no estado de São Paulo, criou a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras na cidade de Marília e no período 1957-58 foi diretor dessa faculdade, defendeu a ideia de que a Administração Escolar fosse uma das aplicações da Administração Geral em que os aspectos, tipos, processos, meios e objetivos são semelhantes.

O Estado e as empresas privadas encontraram nos estudos de administração os elementos para remover suas dificuldades decorrentes do "progresso" social e a escola não precisou mais do que inspirar-se neles para resolver as suas, sendo então, a ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR encontra seu último fundamento nos estudos gerais de administração. (RIBEIRO, 1952, p. 78).

Para este autor, os fundamentos da Administração são: "racionalização do esforço, divisão do trabalho e complexidade do trabalho", sendo a Administração "meio e não fim em si mesmo".

Em seu texto, Ribeiro (1968) esclarece seus pontos de vista referentes à relação entre Administração Escolar e Administração Empresarial:

A escola moderna é um empreendimento destinado à totalidade das populações, por isto mesmo, é um empreendimento de interesse público, uma empresa do Estado, uma grande Empresa [...], como correios e telégrafos, estrada de ferro, energia elétrica. (RIBEIRO, 1968, p. 27).

O termo empreendimento, utilizado pelo autor, em minha opinião, é o que mais marca a sua ideia, afinal tal termo recorda o contexto empresarial. A semelhança defendida por Ribeiro se da por ele alegar que os mesmos aspectos que fundamentam uma gestão de empresas fundam a Administração Escolar.

A escola é grande empresa enquanto visa atender clientela de milhões; reúne grupos de trabalhadores que somam centenas de milhares; exige financiamentos astronômicos; exige "produção em massa". "Alta produtividade" para atender as mais variadas exigências do "mercado social", [...] Na administração da grande empresa escolar o objetivo direto é o trabalhador, a estrutura, o financiamento, tudo, é claro, a serviço do educando que, sem embargo no caso, coloca-se como objeto indireto. Nesse sentido a empresa escolar é semelhante às demais: a hospitalar, a bancária, a de transporte, e a que outras grandes empresas se possam lembrar. (RIBEIRO, 1968, p. 27-28).

Enfim, o pensamento do autor referido anteriormente assimila uma perspectiva empresarial de aperfeiçoamento de métodos e técnicas resultantes do desenvolvimento do capitalismo, reforçando a relação entre Administração de Empresas e Administração Escolar, relação não apenas teórica, mas que o modo de produção capitalista determina as relações sociais de produção. (FELIX, 1989)

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Como referenciar: "Parece, mas não é." em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 19/04/2024 às 08:40. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/parece_mas_nao_e/