Pedagogia hospitalar: refletindo sobre o papel do professor junto à criança hospitalizada (página 4)

O pedagogo hospitalar precisa preparar e dispor brinquedos e brincadeiras variadas, proporcionando atividades motoras, sensoriais, e cognitivas. Para isso, são excelentes recursos livros infantis, jogos de construção, lógicos, motores, de invenção, criatividade, bonecos e acessórios de fantasias para brincadeira simbólica, desde que sejam selecionados conforme a idade da criança e que traga desafios e/ou seja estimulador.

A brinquedoteca poderá ser organizada em diferentes cantinhos, para que atenda a necessidade de cada criança, conforme sua faixa etária. Deixaremos algumas sugestões baseando-se na experiência de Patrícia Percoraro e Dora Saggese da brinquedoteca terapêutica Senninha, em São Paulo (Citado por Viegas, 2008, p. 119-120).

Canto dos Bebês - Neste cantinho, a pedagoga atenderá crianças internadas de até dois anos de idade, deverá ser um espaço confortável e seguro com bonecos grandes, bichos, brinquedos sensoriais e de coordenação motora. Como sugestão de atividade a criança poderá tocar em objetos de diferentes texturas como algodão, lixa, massinha, gelatina entre outros para que a criança possa desenvolver seus sentidos e perceber-se como sujeito. Pode-se apresentar as cores por meio dos objetos que ela está brincando ou mesmo colocar tapetes de atividades neste canto, além de confortáveis e coloridos propõe estímulos como sons, textura do tecido e espelho. Colocar em garrafas pets diferentes conteúdos como água com glitter, areia, macarrão, arroz, feijão entre outros e pendurá-los com elástico ou barbantes em uma altura possível a todas as crianças (como móbile), poderá estimulá-las a brincar, escutar os diferentes sons e observar os conteúdos desenvolvendo a motricidade e sensibilidade.

Canto do Faz de Conta -  Piaget, (1976) afirma que o faz de conta faz parte da fase em que as crianças de três aos seis anos pertencem. Nesta fase a criança transforma o significado dos objetos, desempenha diferentes papéis sempre imitando e/ou representando. Para o epistemólogo, brincando de faz de conta, a criança refaz sua própria vida e a corrige a sua maneira, revivendo prazeres e conflitos resolvendo-os e compensando-os.

Neste cantinho poderá ter disponível materiais para o jogo simbólico como casinha e acessórios como panelas e talheres, equipamentos médicos em miniatura, bonecas, carrinho de bebê, cantinho do restaurante, lojinha entre outros. Poderá ter também blocos de encaixe e um espaço da história com uma diversidade de livros e CDs. Sugerimos que neste cantinho o docente esteja como facilitador do processo de desenvolvimento da criatividade da criança, disponibilizando itens e acessórios que auxiliem a brincadeira. Por exemplo, se a criança estiver brincando de lavar louças, disponibilize um pano para que seque-a e continue evoluindo em sua criatividade.

Canto do Teatro - Este canto também favorece a representação simbólica, com fantasias, roupas de super-herói, acessórios, palco, fantoches e cenários. Como sugestão a este espaço, podemos colocar entre as fantasias roupas e pinturas de palhaço, pois a criança se motiva a brincadeira e desfruta de sensações prazerosas como o risos, gargalhadas, fica alegre e se diverte, mudando seu estado emocional. A fantasia de palhaço, ainda, impulsiona a interação entre as crianças, pois elas se animam em brincar com a criança fantasiada. (Motta e Enumo, 2004 p. 24). Podemos também, colocar diversos fantoches, e entre eles um que pareça doente, por exemplo, colocar um band-aid no fantoche para ver qual a reação da criança, uns poderão trocar o papel e ser o cuidador, o médico, a enfermeira ou mesmo falar sobre seus sentimentos por meio a brincadeira.

Canto dos Adolescentes - Aqueles que possuem entre doze a dezoito anos são considerados Adolescentes pelo Estatuto da Criança e do adolescente (Brasil 1990). Estes estão em processo de constantes transformações e passam do processo de dependência ao da independência. Para eles podemos disponibilizar jogos de regras, de cartas, tabuleiros, jogos de sociedade, revistas e livros.  Como exemplo de jogos citamos o WAR, UNO, Banco imobiliário, Damas, Xadrez e Combate. Todos estes jogos citados são jogos de estratégias que possibilitam trabalhar a concentração, a interação entre os envolvidos no jogo, a paciência, regras, a criatividade entre outras possibilidades.  

Canto da Informática - com computadores e jogos interativos e educativos para as diferentes idades.

Além desses cantos a brinquedoteca terapêutica Ayrton Senna do Centro Infantil Boldrini em Campinas, por exemplo, dispõe do espaço com uma Oficina de artes utilizada como expressão artística entre crianças, adolescentes, pais e responsáveis. Dentre as possibilidades deste canto estão o trabalho com argila, pintura em tela, aquarela, confecção de bijuterias, dobraduras, entre outras. (Mazzon, Ferrer, Packer e Lisbôa, citado por Viegas 2008, p. 130).

Azevedo (2013 p. 72) nos descreve outros cantos possíveis dentro da brinquedoteca, dentre eles o canto da leitura ou canto de contar histórias. Este espaço é importante, pois, por meio da brincadeira podemos favorecer a proximidade da criança uma diversidade de livros, possibilitando o prazer pela leitura. Este canto deve dispor de um tapete e almofadas, assim, ela poderá ler deitada no chão. Sugerimos que estejam disponíveis livros de contos de fadas, gibis, fábulas, livros ou revistas de super-heróis, jornais, revistas, enciclopédias, entre outros.

Fontes (2010) deixa como exemplo que o pedagogo pode mostrar em um livro figuras ou imagens o corpo humano, conceituando a uma criança diabética sobre a insulina e a função do pâncreas, será uma prática em que o conteúdo curricular estará presente e trará um significado real a vida da criança/paciente.

É valoroso lembrarmos que Oliveira (citado por Viegas 2008, p. 28)  explica que espelhos dentro da brinquedoteca faz com que a criança se veja ativa, criativa e autônoma, isso é importante, pois substitui a imagem negativa da dependência e da invalidez que a doença causa para que possa internalizar positivamente a imagem de um "eu" mais saudável e independente.