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Professor, não entendi sua aula. Posso pesquisá-la na Internet?

Autor: Francisco Arquer Thomé
Data: 04/04/2014

Pensei em elaborar um texto que poderia ser útil para que os professores pensassem a educação, mas existem tantos livros e apostilas, tantas pessoas com opiniões prontas, tantos "tantos" que tive até o famoso "bloqueio de escritor".  Diante do desespero e após beber litros de café, criei três perguntas que julgo importantes: 1) É importante ter dinâmicas nas aulas? 2) Qual o papel do professor na era da comunicação acessível e rápida? 3) Interação e conhecimento. Os jornais em sala de aula proporcionam esta conexão?
 
Assumo que estas perguntas são boas, mas eu não me contentaria em dar respostas comuns e ver este texto desaparecer. Além do mais, quem sou eu diante de grandes mentes como Vygotsky e Paulo Freire? Não posso me comparar a eles, Vygotsky e Paulo Freire tinham muito menos cabelo.  

A primeira vez que fui dar aula vesti um guarda-pó e entrei na sala. Como professor de português, meu objetivo era muito simples, eu tinha que ensinar a mais de 40 adolescentes o que eram "conjunções adversativas". É um belo palavrão, não é mesmo? Quer saber o que significa? Pesquise no Google. Com a internet você terá uma linda explicação em segundos.

Bem, já que você ainda está insistindo neste texto, continuarei a história. Fiquei na frente de todos aqueles jovens e comecei a falar. Iniciei minha aula. Expliquei todo o conteúdo, li textos, dei exemplos e escrevi no quadro-negro. Os alunos estavam prestando atenção, terminei e fiquei muito feliz. Havia apenas um detalhe, tinha-se passado apenas 10 minutos. Diante daqueles olhares sedentos por conhecimento, resolvi fazer a chamada.  Ganhei 2 minutos, mas a minha aula era de 2 horas.

Eu olhava para os alunos, os alunos olhavam para mim, os alunos olhavam entre si. Um silêncio reinava na mesma proporção que minha vergonha aumentava. Eu tinha planejado uma aula de 2 horas e em apenas 12 minutos eu tinha passado tudo. Foi neste instante que um aluno levantou a mão e falou uma frase mágica, frase a qual veio acompanhada por  J.S. Bach cantada por moças nas tessituras de soprano, mezzo-soprano e contralto em plena harmonia. Ele disse: - Professor, eu não entendi nada.  Neste instante, misturando a criatividade ao conhecimento, pedi para que todos os alunos se levantassem e começamos a fazer dinâmicas.

Os alunos interagiram entre eles e o principal, eles interagiram com o conteúdo.  Passou o tempo e, no final da aula, alguns adolescentes se aproximaram de mim e assumiram que "viajaram na maionese" nos primeiros 10 minutos de aula.  Um dos jovens me disse: - A gente tava com vergonha de dizer que não tinha entendido, fessôr. Mas, depois que o senhor mandou todo mundo ficar de pé, nunca mais vou esquecer o que são conjunções adversativas.

Sim, leitor, ele aprendeu o que são conjunções adversativas antes que você. Não adianta correr para o Google agora. As dinâmicas em sala de aula proporcionaram uma interação com o conhecimento:

O papel do educador não é o de "encher" o educando de "conhecimento", de ordem técnica ou não, mas sim o de proporcionar, através da relação dialógica educador-educando, educando-educador, a organização de um pensamento correto em ambos.  (FREIRE, 1971, p. 53)

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Como referenciar: "Professor, não entendi sua aula. Posso pesquisá-la na Internet?" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 19/04/2024 às 13:10. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/professor_nao_entendi/