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Professor, não entendi sua aula. Posso pesquisá-la na Internet? (página 2)


Então, professor. O senhor começou a fazer dinâmicas na sala de aula e foi feliz para sempre? Cale-se. Feliz para sempre é a Cinderela. Cada aula que eu comecei a preparar tinha que ter uma atividade especial. Ensinar não era mais o momento em que eu poderia mostrar que sou inteligente, inflando e expondo meu ego e meu saber aos alunos. Ensinar passou a ser a troca de conhecimentos. Toda aula preparada exigia a interação com o tema proposto, então sua elaboração era parte estratégica do conhecimento.

Comecei a suar para elaborar dinâmicas. Assumo que tentei dar uma escapadinha para a internet, mas de nada adiantou. As dinâmicas online que encontrei eram sobre Motivação e Relacionamentos. Se eu motivasse ainda mais os alunos, eles criariam asas e voariam sobre a minha cabeça. Então passei madrugadas atualizando todos os conteúdos de aula e criando dinâmicas. Como as fiz? Respondendo a uma pergunta básica: Se eu tenho internet e acesso a quase todas as informações que existem, por que eu deveria aprender este conteúdo que o professor está passando?O tradicional professor que despeja informações sem se preocupar com o aluno não está mais apto ao ensino do século XXI:

tanto as crianças como os professores vivem num espaço social midiatizado por mensagens televisivas, radiofônicas, jornalísticas, etc., capazes de provocar alterações nos comportamentos, criarem referências para o debate público, influenciarem na tomada de decisões, além de revelarem, muitas vezes, os próprios limites do discurso pedagógico. (CITELLI, 2000, p.140)

Por milhares de anos o conhecimento não era acessível, tornando-o raro e valorizado. Nos dias atuais, todas as pessoas têm acesso à informação que quiserem em alguns cliques do mouse. Comecei, então, a levar para a sala de aula uma proposta refinada, dentro da grade curricular e que era passível de interação. Um grande exemplo desta interação com o conhecimento foi a utilização de jornais em sala de aula. 

Você já experimentou levar dezenas de jornais para dar aula? No momento em que você entra na sala, vemos um monte de olhinhos brilhando e esperando. Explique a proposta e distribua aquele monte de papel com imagens e letras. Os alunos tocam, cheiram, cortam; eles se apoderam daqueles pedaços de papel, daqueles pedaços de conhecimento. Utilizando algumas palavras de Caetano Veloso (1998), eles começam a "amá-los do amor táctil".

Sim, isso é interagir com o conhecimento. Eles têm que debater e cabe ao professor ser o mediador. Vou para a sala de aula com um tema, coloco fogo nele, fico controlando e alimentando a chama com novas ideias. Assim, para o aluno, o conhecimento começará a ser prazeroso. Quando damos "poder" aos alunos, deixando-os com várias folhas de jornal nas mãos, com textos longos e com objetivos na mente, retomamos a possibilidade de ser gostar das palavras e retomar o prazer da leitura. Espera um pouco. Como assim "prazer da leitura" e o que é este troço de "textos longos"?

Quando eu era um menino serelepe, meu castigo era ficar sem recreio. Hoje em dia, noto que garotos pimentinhas e moças sapecas recebem como castigo escrever uma redação. Uma temerosa, comprida e demoníaca redação.

 "Você xingou seu coleguinha, Maria, então escreverá uma redação de 30 linhas!" - Grita aquela professora cheia de olheiras balbuciando desprezo e inveja.

Mariazinha terá um asco para com a leitura escrita. Em sua cabeça, textos longos só servirão para criar desgosto e obrigatoriedade para adquirir algum conhecimento técnico. Tchau prazer da leitura, vemo-nos em outra vida.

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Como referenciar: "Professor, não entendi sua aula. Posso pesquisá-la na Internet?" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 18/04/2024 às 22:30. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/professor_nao_entendi/?pagina=1