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Eu Ensino! Ele Aprende! Eu Aprendo! Ele Ensina!

Autor: Gláucia Petry Dorneles, Lenir Luft Schmitz
Data: 29/06/2017

ALGUMAS REFLEXÕES ACERCA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO CONTEXTO DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
    
RESUMO
O presente estudo apresenta algumas reflexões acerca das práticas pedagógicas desenvolvidas no contexto dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, compreendendo características culminantes do paradigma passivo/tradicional, na perspectiva de elencar os desafios da consolidação do atual paradigma educacional, com ênfase na interatividade. Torna-se importante repensar as práticas pedagógicas escolares, uma vez que, ao analisar os aspectos educacionais do modelo tradicional, aponta-se a necessidade de ressignificar o processo educativo pela adoção de um novo paradigma com foco na interatividade.

Palavras-chave: Paradigmas educacionais; Professor-aluno; Família-escola.

 INTRODUÇÃO

Este texto é resultado de uma pesquisa teórica acerca das práticas pedagógicas desenvolvidas nos Anos iniciais do Ensino Fundamental, no intuito de resgatar alguns aspectos da educação tradicional passiva para adentrar, num segundo momento, no contexto interativo do processo educativo.

Ao enfatizar a educação contemporânea, faz-se necessário buscar referências constituintes dos modelos educacionais do passado, uma vez que estes podem estar integrados às práticas pedagógicas vivenciadas atualmente. Desta forma, pensar nas práticas pedagógicas nos desafiou a compreender as características passivas e interativas presentes no cotidiano escolar.

Neste contexto, o desenvolvimento desta pesquisa teórica, buscou compreender e refletir sobre algumas inquietudes em relação às práticas pedagógicas vivenciadas no cotidiano escolar, partindo da interrogativa: De que forma as ações de passividade ou de interatividade estão presentes nas práticas pedagógicas desenvolvidas no contexto dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental? 

Nesta perspectiva, entrelaçaram-se alguns objetivos norteadores para o desenvolvimento da temática estabelecida, uma vez que esta visava analisar as pesquisas realizadas acerca das práticas pedagógicas desenvolvidas no contexto dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, de modo a pesquisar a passividade e a interatividade presentes no paradigma tradicional, bem como destacar a necessidade de superação destas práticas no atual cenário educacional.

Pretendeu-se, portanto, pesquisar a percepção dos diferentes autores (aqui mencionados) acerca da presença das práticas pedagógicas passivas e interativas no contexto escolar, no intuito de refletir sobre as configurações do espaço escolar utilizadas no passado e atualmente, elencando aspectos que redimensionam as práticas interativas na escola, e ainda, compreender as estratégias que estimulam os educadores a construir práticas de interatividade na sala de aula.

UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PASSIVA/TRADICIONAL

A educação brasileira, desde os primórdios da colonização, estabeleceu aspectos relativos à concepção formativa dos jesuítas, compreendendo sua estrutura e organização de acordo com os preceitos sociais instituídos. Assim, o contexto educacional buscou oferecer condições humanísticas e mundanas, sendo estas aprimoradas através da abrangência vivencial de cada geração.

No contexto da educação brasileira, relembra-se dos primeiros indícios educacionais apresentados pelos jesuítas na condição de formalizar a estrutura social e econômica da época, levando em consideração a concretude do ser humano a partir da religiosidade. A esta perspectiva cabe adicionar Neto e Maciel (2008, p. 171), quando salientam a ideia de que "os jesuítas tornaram-se uma poderosa e eficiente congregação religiosa, em parte em função de seus princípios fundamentais, que eram a busca da perfeição humana por intermédio da palavra de Deus e a vontade dos homens."

Para tanto, tornou-se necessário estabelecer condições de desenvolver aspectos significativos à aprendizagem da colônia brasileira, e para isso, foram implantadas novas escolas e métodos de ensino baseados na educação tradicional, conhecida também como educação liberal. Esta, por sua vez, concretizou uma nova forma de propostas veiculadas à realidade até então dominante, caracterizando-se culturalmente pelo autoritarismo, pela formação moral e intelectual dos indivíduos, através da lapidação destes à convivência social (SAVIANI, 1999).

Contudo, direcionar um olhar às condições e relações dos alunos e professores da época, desencadeia a formalização social e educacional que estes estabeleceram através de suas vivências. Com isso, tornou-se indispensável ressaltar a relação entre escola e família, refletindo sobre as funções de cada uma no contexto da educação tradicional, de modo a formalizar o modelo educacional da época, ao relacionar aluno (família), o professor (escola) e os papéis estabelecidos por ambos.

A escola tradicional visava à formação cultural e social dos indivíduos, ao mesmo tempo em que, as famílias incumbiam-se de instruir e educar seus filhos, por intermédio de ensinamentos e conhecimentos que, muitas vezes, os adultos estendiam sobre os mais novos, permitindo-lhes o desenvolvimento e convivência no meio social.
Além do mais, a escola tradicional objetivava "transmitir uma cultura geral humanística, de caráter enciclopédico", na medida em que, individualmente, os alunos permitiam-se, através dos conhecimentos adquiridos, inserir-se e conviver na sociedade. (LIBÂNEO, 1992, p. 94).

Portanto, percebe-se que, tanto a escola quanto a família, desempenhavam papéis sóbrios e pertinentes aos alunos/filhos, porém, evidenciavam-nos especificamente, conforme os preceitos exigidos e as ações estabelecidas. À escola cabia a missão de ensinar os conteúdos e às famílias a tarefa de educar e ensinar os valores.

Sobretudo, relacionar os papéis entre escola e família nos induz a refletir sobre a relação cultivada entre professor e aluno no processo ensino aprendizagem, no espaço escolar e na convivência entre ambos. E, em relação a esta concepção o paradigma  tradicional compreende a construção da relação professor e aluno, no qual incorporava-se o conhecimento de forma transmissível, e as iniciativas eram impostas pelo primeiro, tornando-se um "expositor" de conhecimentos; e o segundo de maneira receptível, estabelecia um processo de aprendizagem "passiva".

Nesta perspectiva, Saviani (1999), ressalta que o ensino tradicional
Se centra no professor, nos conteúdos e no aspecto lógico, [...] que domina os conteúdos logicamente estruturados, organizados, enquanto que os métodos novos se centram no aluno [...], nas motivações e interesses da criança em desenvolver os procedimentos que a conduzam à posse dos conhecimentos capazes de responder às suas dúvidas e indagações. (SAVIANI, 1999, p.51 - 52)
Entende-se que os alunos firmavam-se como expectadores/receptores de conhecimentos, obtendo-se conhecimento pelas estratégias, de repetição e memorização. O professor, por sua vez, assumia o papel de transmissor de conhecimentos, um ser autoritário que demandava os ensinamentos de acordo com seu conhecimento. A educação, no entanto, apresentava-se superficial à forma de ensinar/educar, respectivamente.

Sendo assim, ao conceber este modelo de educação, optou-se por direcionar ainda um olhar às práticas metodológicas e a organização do espaço escolar, observando a sua repercussão na aprendizagem dos educandos. Isso, porque esta concepção estabelece conceitos absolutos, impregnados ao trabalho do professor que "transmite, segundo uma graduação lógica, o acervo cultural aos alunos" (SAVIANI, 1999, p. 18).

Desta forma, as práticas pedagógicas da escola tradicional concretizam a relação entre conteúdo e o conhecimento do professor, instruídos de forma em que ocorriam no espaço da sala de aula, entre quatro paredes, com classes enfileiradas e com a ausência da interação entre os seus pares.

A organização da escola tradicional se dava a partir das iniciativas tomadas pelo professor e a organização do tradicional espaço da sala de aula, na medida em que este, na visão de Schmitz (2012, p. 83), caracterizava-se como "um espaço compartimentado, [...] com papéis definidos para o professor [...] e o aluno[...]. Um ambiente fechado e silencioso, com condições necessárias para a construção das aprendizagens".

O limite que se insere neste âmbito (da organização espaço-temporal) "ignora" a aprendizagem significativa dos discentes, pois, de certa forma, estes não interagem com o processo de desenvolvimento cognitivo, físico e afetivo educacional.

Deste modo, procurou-se direcionar nesta pesquisa, um novo olhar à educação. Um olhar que permitisse a abertura de novos paradigmas, de situações reais que direcionassem ao caminho do saber. Neste contexto, as práticas pedagógicas passam a estabelecer relações significativas no processo ensino aprendizagem, uma vez que interligam a interatividade e as inovações à construção de conhecimentos e ao desenvolvimento educacional.
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Como referenciar: "Eu Ensino! Ele Aprende! Eu Aprendo! Ele Ensina!" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 24/04/2024 às 01:07. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/reflexoesensino/index.php?pagina=0