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Sala de Aula: Espaço de Construção Textual (página 2)

É nessa dinâmica de intercâmbio humano e meio social que a criança torna-se ser ativo, construtor e produtor do seu saber. Ao aprender uma língua não o bastante para aprender as palavras, mas entender, "interpretar e representar os significados culturais de acordo com o meio sociocultural, e com eles, promover experiências significativas de aprendizagem da língua". (RCNEI, 1998, p.127).

Investigar o conhecimento que os alunos já têm antes de ir para a escola tem que ser ponto de partida para o planejamento da prática escolar, realizando em sala de aula atividades que contribuam para o desenvolvimento das habilidades de falar e ouvir. É relevante considerar as suas vivências no ato de planejar, para que se possa desenvolver um trabalho coerente com a sua realidade.

As diferenças de contexto sócio-econômico e familiar fazem com que as crianças tenham maiores ou menores oportunidades de participar de atividades sociais mediadas pela escrita. Kato (1988, p. 15) reforça essa concepção quando diz:

Ao aprender a escrever, a criança aprende formas e linguagem, processos de escritas e usos da linguagem. É de se supor, portanto, que quanto maior a vivência com o material escrito, tanto maior a facilidade em compreender os usos da linguagem escrita.

Esse perfil da realidade endossa a necessidade e a importância do aprender a ler e a escrever como garantia para uma participação mais significativa dos alunos na vida social.  Além disso, não se pode esquecer que a aprendizagem se realiza através do confronto entre o que se sabe (conhecimento prévio) e a nova experiência que se vive (elemento novo - conteúdo escolar). Kleiman (1986, p. 13) lembra:

O leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto.

Desse modo, é interessante ressaltar que o processo de construção da leitura e escrita aconteça nesse "ato de conhecer", no processo de interação que o sujeito efetua com o objeto e vai tentando captar do objeto a sua lógica, a possibilidade de expressá-lo conceitualmente, assim se dá o processo de produção do conhecimento de forma prazerosa em que a leitura e a escrita devem fazer parte da vida da criança e para isso é preciso que ela entenda seus diferentes usos e funções.

A leitura e a escrita devem ser vivenciadas como meios de comunicação necessários à interação social, dando-se ênfase aos seus diferentes usos e funções através de temas que façam parte do universo da criança. Em função disso, tanto é importante explorar o lúdico e a tradição cultural infantil, selecionando-se diferentes tipos de textos, como parlendas, trava-línguas, poesias, histórias, cantigas de roda, quanto textos de jornais, de bilhetes, cartas, placas, avisos, receitas, propagandas, entre outros.

Ao colocá-la em contato com os diversos usos da escrita, estaremos possibilitando que a criança compreenda para que se escreva e para que se leia. A contextualização dos trabalhos é um pré-requisito fundamental no sentido de que a leitura e a escrita tenham verdadeiramente um significado e um sentido. Um significado que ultrapasse o caráter do meramente escolar. É isso que a escola deve fazer e não ficar presa a textos escritos de forma mecânica e artificial através de livros e cartilhas em que se cultivam os textos criados para ensinar as correspondências grafo - fônicas existentes na nossa escrita alfabética.

Dessa forma, podemos considerar que ao se iniciar o processo formal e escolar da aprendizagem da escrita, essas crianças não partam do zero (como a perspectiva empirista nos fazia acreditar). Ao contrário, já são possuidoras de um determinado nível de conhecimento acerca do que seja a escrita, considerando esse conhecimento como ponto de partida para nova reformulação, atualização e expansão de suas concepções sobre a escrita, o que não dispensa a necessidade de uma ação sistemática e competente por parte da escola e do professor em levá-la a compreender seus aspectos mais complexos e arbitrários.

À criança se deve oportunizar ambientes que dêem prioridade ao uso da língua escrita, como bem alerta Kramer (1986, p. 18):

A prioridade do trabalho pedagógico deve estar colocada nos usos da língua escrita e nas interações (transações) que a criança faz com os escritos no seu cotidiano. Na medida em que a linguagem escrita não é vista como código a ser decifrado, mas muito mais do que isso, como um objeto de conhecimento a ser construído, na prática escolar são enfatizadas as atividades que favorecem o convívio da criança com o escrito e são valorizadas tanto as suas produções quanto as hipóteses explicativas que vai desenvolvendo sobre a escrita.

A prática de leitura e de escrita deve ser fonte de prazer para a criança. Num ambiente alfabetizador, a criança deve ser estimulada a realizar leituras de histórias, de poesias, parlendas, notícias de jornal e outros. O contato com uma diversidade de textos, ainda que não consiga decodificar o material escrito, mas possibilitem ao avanço no conhecimento das suas estruturas, usos funcionais e aspectos gráficos, elementos essenciais para o desenvolvimento da leitura compreensiva. Possibilitam também o acesso a novos conteúdos, aos aspectos sonoros da linguagem, além das questões culturais e afetivas também ali presentes.

Antes mesmo das crianças estarem aptas a desenvolverem os processos de maneira autônoma, o professor deve realizar leituras e escritas de textos diversificados para as mesmas, como por exemplo: lendo histórias ou assumindo o papel de escriba ao escrever as histórias que a criança dita. Permitindo-lhes serem sujeitos participativos na busca da compreensão e composição de texto, o professor estará assim favorecendo a formação de verdadeiros leitores e escritores.

O trabalho com a produção de textos tem por objetivo formar escritores competentes que sejam capazes de produzir textos bem-elaborados eficazes quanto aos seus objetivos. A esse respeito, é adequada a definição de texto, apresentada por Koch (2002, p. 9):

[...] se você pensar o texto como lugar de constituição e de interação de sujeitos sociais, como um evento, portanto, em que convergem ações lingüísticas, cognitivas e sociais (Beaugrande, 1997), ações por meio das quais se constroem interativamente os objetos-de-discurso e as múltiplas propostas de sentidos, como função de escolhas operadas pelos co-enunciadores entre as inumeráveis possibilidades de organização textual que cada língua lhes oferece.

[...] Então você compreenderá que o texto é um construto histórico e social, extremamente complexo e multifacetado, cujos segredos (quase ia dizendo mistérios) é preciso desvendar para compreender melhor esse "milagre" que se repete a cada nova interlocução - a interação pela linguagem, linguagem que, como dizia Carlos Farachi, é atividade construtiva.

Nesse sentido, antes de solicitar a produção de um texto ao aluno, faz-se necessário, portanto, despertar e/ou ampliar seus conhecimentos acerca do assunto que será tratado, por meio de leituras e discussões. Reflexões sobre a intencionalidade com que o texto será escrito, a estrutura e a linguagem apropriada a esse tipo de texto também são fundamentais para que o processo de escrita seja bem sucedido na sua construção.
No processo textual na escola faz-se necessário também esclarecer aos alunos a respeito de questões como: o assunto, o tipo e o gênero do texto a ser elaborado, a escolha do interlocutor (real ou imaginário), o grau de formalidade que precisa ser utilizado e o objetivo pelo qual o texto está sendo escrito. Tais cuidados são de extrema relevância para garantir o "sucesso" dos textos produzidos.

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Como referenciar: "Sala de Aula: Espaço de Construção Textual" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 24/04/2024 às 08:51. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/saladeaula/?pagina=1