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Significar a Educação: Da Teoria à Sala de Aula (página 2)


Olhando para nossa própria história de vida, como estudante, como pessoa,  concordamos com os teóricos de que:

  • o ser humano possui curiosidade e instinto exploratório;
  • a aprendizagem é fruto da necessidade e desejo de conhecer a verdade, compreender situações e resolver problemas;
  • no mundo atual, mais que nunca, é preciso ser essa pessoa capaz de detectar e compreender as situações, cada vez mais complexas, e buscar-lhes soluções; ser pessoa competente;
  • nessa lógica, o aluno não deve ir à escola para memorizar e repetir conteúdos, teorias, mas que esses são referenciais a utilizar na abordagem e solução dessas situações complexas;
  • para isso, ele necessita, também, desenvolver ao máximo as suas habilidades cerebrais;
  • para que o conteúdo tenha sentido, é necessário associa-lo ao contexto, associação que, com freqüência, não se faz;
  • no mundo cambiante de hoje, é fundamental o domínio do processo de busca autônoma de respostas, o aprender a aprender por si e sempre, o que supõe aceitar a provisoriedade dos saberes, o saber problematizar e pesquisar;
  • sobretudo graças aos meios de comunicação, os alunos vão à escola com um cabedal sempre maior de informações prévias, que é preciso ter presente, respeitar e ajuda-los a transformar em conhecimento; e
  • o professor precisa ter um perfil para ter a competência e poder dinamizar as práticas pedagógicas a partir desses referenciais

Trazemos essas referências, pois elas embasarão reflexões que a seguir faremos, na difícil busca de respostas para uma questão que nos intriga a todos como educadores: na teoria, tudo isso é muito bonito, mas e na prática?

 AS LIMITAÇÕES DO CONHECIMENTO HISTÓRICO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

Começamos nossas reflexões a partir de uma questão que pouco vimos ser abordada pelos pedagogos, ou teóricos de outras áreas quando estudam os entraves que têm limitado e, na grande maioria das vezes, impedem a concretização desses ideais teóricos apontados anteriormente. Trata-se do limitado domínio que os professores têm da história dos conhecimentos desenvolvidos com os alunos. Partimos do pressuposto de que é impossível significar algo, quando se  desconhece a sua origem e as transformações que sofreu no decorrer dos anos.

Ao trabalhar com grupos de professores, em projetos escolares (Projeto Pedagógico, Plano de Estudos e Plano de Trabalho) teoricamente bem fundamentados e coerentes entre si (Hengemühle, 2004: 213-236), percebemos que os professores até conseguem fazer um bom planejamento, mostram-se entusiasmados com os referenciais teóricos (significar o conteúdo, problematizar o conteúdo, instigar os alunos, ...). No entanto, na hora da prática, além das limitações teóricas e práticas da sua formação, eles não conseguem operar a significação e problematização dos conteúdos em contextos reais e significativos para os alunos.  Os próprios professores, entre eles eu também, refletindo nossa  história de vida relembramos, muitas vezes, o dilema diante de situações de aula, quando, como alunos, tínhamos as mesmas curiosidades que se manifestam hoje na sala de aula: "Professor, qual é o significado desse conteúdo? Onde vou usar isso na vida? Por que preciso aprender isso?"

Após muitos anos ouvindo colegas, refletindo com eles, desafiando-nos pessoalmente na sala de aula, chegamos a algumas hipóteses que podem apontar para a busca de soluções desse problema.


DESCONHECIMENTO HISTÓRICO DAS TEORIAS: A RAIZ DO PROBLEMA

"Não há conhecimento sem conhecimento do conhecimento" (Morin)

A referência dos teóricos, somada às nossas vivências profissionais na educação, indicam que nada acontece por acaso, e que para algo ser significativo no presente, é preciso conhecer sua  origem, sua história, o contexto em que surgiu. Vejam que não estamos usando o termo "aplicar algo no presente", mas sim "significar". Para nós, há uma diferença: nem tudo é possível  aplicar; mas tudo é possível significar. É importante a pergunta: Essa teoria surgiu para compreender que tipo de situação, ou para resolver que tipo de problema?

Nossas reflexões voltam-se para a importância do conhecimento da realidade que gerou a teoria - na escola costumeiramente chamado de conteúdo - e as limitações que o seu desconhecimento traz para sua significação no contexto contemporâneo, nesse caso para os alunos em sala de aula. Importa frisar que discordamos daqueles que dizem que os conhecimentos, ou os saberes, ou os conteúdos, ou os referenciais teóricos, para nós conceitos análogos, são apenas teóricos e como tais devem ser conhecidos, ou repetidos pelos alunos, pois não é possível dar-lhes uma significação.

Esses conhecimentos não foram trazidos de um outro planeta. Surgiram em um contexto histórico. Foram produzidos por pessoas humanas que, confrontadas com situações e problemas da sua época, por curiosidade, por necessidade ou até por acaso, tiveram a intuição, a sensibilidade, a  criatividade de encontrar respostas para que essas situações fossem compreendidas e os problemas resolvidos.

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Como referenciar: "Significar a Educação: Da Teoria à Sala de Aula" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 26/04/2024 às 19:14. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/significar/?pagina=1