Por que é tão Difícil ser Mestre ou Doutor no Brasil?
Autor: Marinho Celestino de Souza Filho
Data: 03/12/2010
Estudar hoje não é como antigamente, parece óbvia essa afirmação. Antigamente, pelo que se sabe, as condições para se estudar eram muito mais áridas, segundo relatos de nossos pais, avós, mães e até alguns de nossos irmãos, estudar era um suplício. Primeiro: a distância era uma barreira muito grande, andava-se quilômetros para ir à escola, segundo: o acesso ao material didático-pedagógico também se tornava complicado, poucas pessoas podiam comprar livros, cadernos, há quem diga, inclusive a minha mãe que naquela época se escrevia em pedras com carvão.
Além disso, somente poucos indivíduos privilegiados estudavam, porque as escolas públicas, daquela época, foram construídas para uma camada abastada e privilegiada da população, ou seja, apenas os ricos poderiam frequentar a escola, dessa forma, a maioria sem privilégio ficava fora. Por isso, muitos afirmam hoje que a escola antigamente era melhor do que a escola atual, também esta questão parece muito óbvia, já que poucos abastados podiam ir à escola, logo a escola era constituída por uma pequena camada burguesa da sociedade, dessa maneira, diz-se que a escola era melhor, em consequência a vida dos profissionais que atuavam na educação também. Por quê? A resposta é simples, uma vez que uma minoria rica frequentava a escola, nesse aspecto, também existiam poucos professores, por conseguinte, esses profissionais, daquela época, ganhavam bem e eram tão respeitados quanto hoje é respeitado um médico, um dentista, um juiz.
Nesse sentido, a maioria menos favorecida não tinha acesso à escola. Entretanto, o que tem acontecido atualmente? Será que a escola pública de hoje é pior do que a daquela época?
Penso que não, na verdade o que se tem apregoado ultimamente é que não vale à pena estudar, por quê? Ora é óbvio, hoje um mecânico, um pedreiro, um feirante, um contador, um administrador ganha muito mais do que um professor, todos trabalhadores merecem ganhar bem, porém, os professores também merecem um salário melhor, mas, a questão é muito mais ampla do que parece: os indivíduos que estão no poder, aqueles que podem mais e, por isso, "choram menos", não querem que a população mais carente também consiga chegar ao topo da pirâmide, o que os poderosos querem e conseguem é que no máximo um filho de pedreiro seja ajudante de pedreiro, quando muito chegue a pedreiro e, assim ocorra sucessivamente com um filho de um metalúrgico, de um marceneiro, mecânico, etc.
Contudo, quanto ao filho de um médico, ou de um advogado, ou de um dentista, ou de um juiz, por exemplo, serão médicos, advogados, dentistas, juízes. Sendo assim, a camada mais privilegiada da sociedade, isto é, a minoria propala uma falsa ideologia: estudar não vale à pena, desse modo, a maioria dos alunos matriculados, principalmente na escola pública, não está se importando muito em estudar, essa falsa ideologia inclusive tem o poder de até contaminar os pais, as mães de muitos alunos que os tiram da escola para trabalhar, os genitores acham que não vale a pena estudar, estudar para quê se um professor ganha uma mixaria e, ainda tem que na maioria das vezes trabalhar em várias escolas e até em três turnos para sobreviver.
Nesse aspecto, além dessa desvalorização do docente, os poucos docentes que querem estudar, se especializarem melhor para também ensinarem melhor, são castrados pelo sistema, cabe aqui retomar a questão proposta no título desse trabalho: por que é tão difícil ser mestre ou doutor no Brasil?
É isto que tentarei responder agora, as Universidades Brasileiras dificultam bastante a entrada de profissionais da Educação ou de outra área ao Mestrado e ao Doutorado. Por que isso acontece? Será que o Mestrado ou Doutorado foi planejado para poucos seres iluminados? Ou para ser Mestre ou Doutor em nosso país, o sujeito tem que ser gênio? O que realmente acontece?
Na verdade, o que acontece especialmente na Educação é que o acesso a esses programas de ensino é dificultado, porque parece que os poucos Mestres ou Doutores que existem têm medo da concorrência, ou o sistema é excludente justamente para talvez mostrar que no Brasil são Mestres ou Doutores os gênios mesmo, isto é, poucos privilegiados de uma inteligência e um conhecimento supostamente superiores aos demais sujeitos.
Nessa perspectiva, alguém poderia objetar: os programas de Mestrado e de Doutorados do Brasil pretendem formar realmente pessoas com conhecimento, por isso, o acesso a esses programas é para poucos privilegiados que realmente possuem conhecimento. Isto talvez possa apresentar um fundo de verdade, entretanto, não acontece na maioria dos casos, aliás, sabemos que existem muitos sujeitos que possuem curso superior, mas não sabem discorrer adequadamente sobre a própria área, inclusive Mestres e Doutores, isto não sou eu quem afirma, segundo um pesquisador da USP que defendeu sua tese de Doutoramento nessa área, há muitas pessoas com títulos, diplomas que não sabem ler nem escrever, ler no sentido de interpretar, de entender e de poder falar e escrever com propriedade sobre certo assunto, além ainda daquelas pessoas que encomendam, compram trabalhos acadêmicos, aliás, durante o período em que eu fazia o Mestrado, um de nossos professores solicitou uma dissertação sobre um dos temas que naquele momento estudávamos: Morfologia, a turma quase matou a professora, somente dois dos vinte e cinco mestrandos foram a favor desse tipo de avaliação.
Entretanto, esses fatos não são suficientes para dificultar o acesso dos sujeitos que sonham com um Mestrado ou um Doutorado. Por que na Argentina, no Paraguai é tão fácil ser Mestre ou Doutor? Será que os programas de Mestrado ou Doutorado deles são piores do que o nosso? Ou as Universidades Brasileiras é que realmente dificultam a entrada nesses programas?
Portanto, é preciso urgentemente que se repense a maneira, a forma de ingressar num Mestrado ou num Doutorado no Brasil, por que não tornar a seleção desses programas mais humana e mais coerente com a realidade que vivemos em nosso país?
