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A matemática e sua implicação na escolha da carreira

Autor: Ana Maria Antunes de Campos
Data: 05/04/2024

Recentemente conheci um rapaz que cursava administração. Um jovem prestativo, esforçado e que tinha objetivos de crescer na vida profissional. Por esse motivo, ele se matriculou em um curso que pudesse abrir fronteiras e permitir um leque de possibilidades, afinal a graduação em administração poderia ajudá-lo a se destacar no mercado, independente de que área fosse, pois segundo ele, na vida precisamos aprender a administrar seja o tempo, as finanças ou até mesmo um relacionamento.

Concordei com suas colocações. Ele realmente desejava aquilo e meu papel enquanto docente da disciplina Fundamentos da Matemática no curso de administração era justamente auxiliá-lo a aprender a administrar as finanças. No entanto, o que o jovem não contava era que, no curso de precisamos retomar noções básicas de estatística, matemática financeira, probabilidades, progressões, equações e funções.Nas primeiras aulas, o jovem informou que tinha muita dificuldade em matemática e que ao escolher um curso no ensino superior, procurou por um que, no seu entendimento não teria que estudar matemática.

Ao ser questionado sobre sua insegurança e medo acerca da matemática ele relatou que sempre teve dificuldades, nunca conseguiu entender e fazia um esforço comunal para conseguir "passar de ano". Em seu relato, apontou que seus professores de matemática eram antipáticos, rígidos e com uma postura muito séria. Confessou que nunca aprendeu matemática, só se preocupava em atingir a "média" para não ser punido pelos pais e professores. Sua preocupação era passar nas avaliações, não ficar em recuperação e não ter nota "D" no boletim.

Sempre fui uma professora de matemática esquisita, ainda conto nos dedos, não sei realizar uma conta mentalmente, preciso de papel e lápis para efetuar cálculos e se me perguntarem qual a metragem de um espaço, vão ter que esperar um bocado de tempo. Então, entendi muito bem o que se passava com o jovem aluno.

Na primeira avaliação ele não atingir a tão esperada "média". Na segunda avaliação, ele teve um mal súbito e tivemos que suspender o processo de avaliação daquele dia para socorrê-lo. Na recuperação, ele confessou que mudaria de curso, iria pedir transferência para Educação Física, sua segunda opção de formação. Não consegui ficar quieta, não controlei meus impulsos e o informei que assim como na vida é fundamental aprender a administrar o tempo, as finanças e os relacionamentos, também é imprescindível saber matemática. Não temos como fugir, a matemática está presente em nossas vidas, ao financiar um veículo ou casa, ao pagar o cinema, ao atravessar a rua e até mesmo na Educação Física.

O jovem cabisbaixo perguntou o que havia de errado com ele. Se você se sente assim ou conhece alguém que vivenciou uma situação parecida, saiba que não é mera coincidência e não são os únicos.

Nos últimos anos tive a oportunidade de lecionar em todos os ciclos da educação: ensino fundamental, ensino fundamental II, ensino médio, EJA (educação de jovens e adultos), graduação e pós-graduação, em todos esses ciclos, independentemente da idade, encontrei crianças, jovens e adultos que diziam ter dificuldades, medo ou não gostavam da matemática.  O que muitos desconhecem é que talvez a dificuldade ou o não gostar, pode ir além das forças individuais e compreensão. Pode estar relacionado a Ansiedade Matemática.

Diariamente aprendemos, nas mais diversas situações estamos sempre criando conexões afetivas, sensórias e neurais. A aprendizagem nunca se esgota e sempre se recria. O ser humano aprende desde cedo e uma de suas primeiras experiências de aprendizado formal é a escola. Por isso me apaixonei pela área educacional, especificamente o campo da educação matemática.

É ali na escola que tudo acontece, as primeiras turmas de amigos, a organização social, as transformações culturais, a disseminação do saber, o desenvolvimento intelectual, físico e emocional. Juntamente com toda essa descoberta ocorre também alguns contratempos como: cobrança de tarefas; testes; novas posturas; avaliação de atitude, sua e do outro.

Tudo isso influencia no aprendizado e desenvolvimento da criança, que precisa desde cedo, aprender a criar estratégias e utilizar instrumentos para se tornar protagonista de seu desenvolvimento. Contudo, para que esse processo de descoberta e desenvolvimento aconteça é necessário que exista uma interação social, um mediador, treinamento, empatia e afetividade.

Nesse sentido, alguns teóricos como Vygotsky, Piaget e Wallon, tem contribuído grandemente, com diversas teorias que fundamentam o desenvolvimento e aprendizado da criança. Esses pesquisadores impactam o modo de refletir acerca de teorias sobre o pensamento, linguagem e emoções, apresentando como o processo intelectual funciona e como o conhecimento acontece, a partir da interação da criança com o mundo que a cerca.

Sabemos que não há uma única teoria quanto a aquisição do conhecimento, entretanto, enquanto psicopedagoga e professora de matemática, percebo que muitas dessas teorias se complementam e são fundamentais para conhecer a criança, são esses pressupostos que nos dão embasamento para repensar o contexto escolar. Estudar o processo de aprendizagem e suas dificuldades permiti abranger os vários campos do conhecimento, buscando integrá-los de forma que os conteúdos e os fracassos escolares passaram a ser diminutos frente ao desenvolvimento biopsicossocial da criança.

A Ansiedade Matemática é apontada como uma fobia, aversão, medo e a atitudes negativas frente a atividades relacionadas com a matemática. Acredita-se que a causa seja cultural, ou seja a propagação de homens são melhores que mulheres no quesito aprendizagem da matemática, que a matemática é difícil, que só existe uma solução correta para as atividades propostas, no uso de metodologias impróprias, na agressividade verbal do professor e no uso de controle aversivo por parte dos professores e pais podem reforçar as emoções negativas dos estudantes diante da matemática.

Os estudos acerca da ansiedade matemática são, em grande parte, internacionais, contudo, o cenário brasileiro vem se modificando e, atualmente, encontram-se alguns grupos de estudos que se dedicam à ansiedade matemática. Grande parte das pesquisas internacionais aponta que os pais, professores e até mesmo o estudante reconhece a importância da matemática na vida cotidiana, acadêmica e profissional.

Desse modo não tem como fugir de atividades que envolvam a matemática. Contudo, as atitudes negativas frente a matemática e as crenças negativas podem incidir sobre o modo como os estudantes aprendem e lidam como a matemática. Como é o caso do estudante mencionado no início desse artigo. A cobrança excessiva dos pais e professores, acabaram levando o estudante a querer fugir da matemática partindo para um curso de Administração.

A matemática é um tópico de extrema importância e que pode e deve ser estudado em vários campos, ajudando estudantes, professores e pais a questionarem os fenômenos matemáticos. Nessa perspectiva para conhecer mais sobre a matemática e as pesquisas acerca do processo de ensino e aprendizagem, os estudantes podem procurar pelo campo da educação matemática, uma área que se preocupa dentre outros fatores, com a formação do professor e com os diversos aspectos do processo de ensino e de aprendizagem da matemática de estudantes do ensino regular e da educação especial.


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Como referenciar: "A matemática e sua implicação na escolha da carreira" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 05/05/2024 às 03:13. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/textos/index.php?id=90