2. O desenho e o processo de alfabetização
A partir dos estudos realizados é possível dizer que existe uma estreita relação entre a evolução da escrita e a do desenho. Para Ferreiro citada por Ribeiro (2007) a aprendizagem da língua escrita á a construção de um sistema de representação, assim como o desenho. A aprendizagem, nesse enfoque, converte-se na apropriação de um novo objeto de conhecimento, ou seja, em uma aprendizagem conceitual. [...] para conhecer os objetos, é preciso agir sobre eles de maneira a decompô-los e a recompô-los. (PIAGET, 1948, p.8)
[...] para que a criança se aproprie do sistema de representação da escrita, ela terá que reconstruí-lo, diferenciando os elementos e as relações próprias ao sistema, bem como a natureza do vínculo entre o objeto de conhecimento e a sua representação. (PILLAR, 1996, p.32)
As pesquisas realizadas por Emília Ferreiro indicam que cada sujeito, no processo de construção da escrita, parece refazer o caminho percorrido pela humanidade, qual seja: Pictográfica: forma de escrita mais antiga que permitia representar só os objetos que podiam ser desenhados: desenho do próprio objeto para representar a palavra solicitada. Ideográfica: consistia no uso de um simples sinal ou marca para representar uma palavra ou conceito: uso de símbolos diferentes para representar palavras diferentes. Logográfica: escrita constituída por desenhos, referentes ao nome dos objetos e não ao objeto em si.
Assim como as primeiras civilizações faziam inscrições na pedra e a "escrita" representava o próprio objeto, para Ferreiro citada por Ribeiro (2007), a criança associa o significante ao significado. Sendo assim, considerando a escrita como sistema de representação, a autora observa que [...] quando uma criança começa a escrever, produz traços visíveis sobre o papel, e além disso, e fundamentalmente, põe em jogo suas hipóteses acerca do significado mesmo da representação gráfica. (RIBEIRO, 2007,p. 40)
Na pesquisa realizada por Emília Ferreiro e Ana teberosky (1999) sobre a aquisição do sistema de escrita, concluiu que havia níveis nesse desenvolvimento. Os níveis descritos pelas autoras são: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.
O nível Pré-silábico I, em m que a criança acredita que escrever é reproduzir ou imitar os traços da escrita do adulto. Nesta etapa a criança pode ter a intenção de produzir marcas diferenciando desenhos de letras ou outros códigos, mas sua escrita ainda não pode funcionar como um veículo informativo.e Pré-silábico II. Se a forma básica de escrita que a criança tem contato for letra de imprensa, fará rabiscos separados, com linhas retas e curvas; se for letra cursiva fará rabiscos ondulados.
No nível pré-silábico II a criança já usa letras ou criam pseudoletras, quando ainda não dominam as letras convencionais do nosso alfabeto para escreverem algo. A criança pensa que é possível ler nomes diferentes com grafias iguais; Posteriormente a criança nega esta sua hipótese, porque acredita que, para ler nomes diferentes, eles devem ser escritos com letras diferentes.
Ainda de acordo com Ferreiro e Teberosky (1999), a criança passa por uma fase em que ocorre o que denomina eixo quantitativo da escrita. A criança, de um modo geral, exige um mínimo de três letras para o escrito ser uma palavra. As palavras como pé, sol, rua, lar e outras, segundo ela não poderão ser lidas porque tem poucas letras. São rejeitadas, em função do critério interno de quantidade. O adulto que, normalmente, lê artigos, preposições, conjunções e outros, jamais suspeitariam desse critério que a criança utiliza. Daí a ênfase de Emília Ferreiro no sentido de que o processo de alfabetização tem que ser visto do ponto de vista de quem aprende (aluno) e não daquele que ensina (professor).
Segundo as autoras, a criança pode vir a passar por momentos onde afirmam que para que se possa ler ou escrever uma palavra, torna-se necessário, também, variedade de caracteres gráficos. As palavras que possuem letras iguais são também rejeitadas. A criança acredita que "não servem para ler". De acordo com este critério de variedade, para possibilitar a leitura, é preciso haver letras variadas nas palavras.
Outro ponto a ressaltar, é que numa determinada fase, a criança não separa letras de números. Costuma, às vezes, escrever colocando numerais junto às letras, já que ambos envolvem linhas retas e curvas. A característica observada é que a criança acredita que os nomes das pessoas, animais ou objetos devem ter nomes grandes. Por conseguinte, as coisas pequenas terão nomes pequenos. É o que chamamos de realismo nominal lógico.
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