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Gestão Democrática e Participativa: Educar com a Participação de Todos (página 4)

Escola, comunidade e família.

Ao levar em conta os avanços tecnológicos; as transformações sociais, econômicas, culturais; e as diversas formas de violência cometidas contra o ser humano na vida diária, é que juntos, família e escola, numa parceria a favor dos alunos e filhos da comunidade escolar, se empenham para resgatar, valorizar e fortalecer laços fraternos. Segundo Marques (1987)

O trabalho em grupo por sua dinâmica gera uma maior gama de possibilidades, o que facilita a busca da qualidade. (...). Uma administração é à força das ideias capaz de revigorar as pessoas, no cotidiano, para uma produtividade em que elas acreditam. (MARQUES, pp. 66-67).

Ciente de que os pilares Escola-Família-Igreja, que antes norteavam a vida do cidadão, encontram-se enfraquecidos, tomou-se consciência de que a responsabilidade da escola aumentou, e muito. A escola cabe agora muita das obrigações da família e da igreja e o desempenho de um papel muito mais complexo, orientado por novas demandas sociais. Cortelazzo chama a atenção para a importância da participação dos vários integrantes da sociedade na escola:

A família, as instituições religiosas, as instituições culturais, esportivas, sociais, as organizações não governamentais, enfim, toda sociedade civil tem um papel formal ou informal, explícito ou tácito na educação de cada um de seus integrantes e tem que dar contas de que não pode abdicar desse dever para um Estado que não tem se apresentado eficiente e eficaz no exercício desse dever (CORTELAZZO, 2005, p. 219)

Os espaços educacionais com a existência de uma comunidade transformam-se em espaço de construção de um trabalho articulado entre diversas organizações. Um trabalho que possibilite o desenvolvimento de uma cultura cotidiana, fundada no sentimento de fazer parte, de pertencimento a uma família, a uma escola, a uma comunidade, a uma nação. Uma cultura que fortaleça laços e relações e promova valores como solidariedade, respeito e generosidade.

A escola deve abrir suas portas para a promoção efetiva do espaço democrático escolar que almejamos, possibilitando aos cidadãos o entendimento de um novo espaço de gestão escolar. Destaca Faria Filho que com

As mudanças das últimas décadas na família, seja em face das constantes e, às vezes, radicais alterações observadas na escola, bem como da consequente discussão (e incertezas) acerca do lugar dessas instituições na formação das novas gerações, observa-se hoje uma exaltação da necessidade de se estabelecer um efeito diálogo entre a escola e a família (FARIA FILHO, 2000, p. 6).

Consideramos, ainda, que para o pleno exercício da democracia é fundamental que as pessoas priorizem o diálogo, pois é por meio deste que se oportuniza a concretização do papel de cada um na sociedade.

O diálogo deve ser direito de todos, onde cada um possa expressar o que pensa e a sua forma de agir, com humildade; pois cada um trás sua verdade, sendo que buscar a compreensão da verdade maior é ponto em comum para todos. Oportuniza a construção da história e implica a esperança de um encontro pedagógico que sustente um mundo melhor. Aliás, segundo o pensamento Libâneo,"O conceito de participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar". Segundo Paro (2002):

A escola, assim, só será uma organização humana e democrática na medida em que a fonte desse autoritarismo, que ela identifica como sendo a administração (ou a burocracia, que é o termo que os adeptos dessa visão preferem utilizar), for substituído pelo espontaneísmo e pela ausência de todo tipo de autoridade ou hierarquia nas relações vigentes na escola. PARO, 2002, p.12).

Assim é de fundamental importância à ação em rede de todos os envolvidos, e o entendimento do papel que cada um contribui com o coletivo; pois
 
O conceito de participação se fundamenta no de autonomia, que significa a capacidade das pessoas e dos grupos de livre determinação de si próprios, isto é, de conduzirem sua própria vida. Com a autonomia opõe-se às formas autoritárias de tomada de decisão, sua realização concreta nas instituições é a participação. (LIBÂNEO, 2004, p. 102.)
 
A autonomia é uma conquista coletiva defendida pelos colegiados, conselhos escolares e unidades executoras. É preciso obter de cada um deles, de cada profissional de educação, estudantes, pais e comunidade, o compromisso com a qualidade de ensino, e esta qualidade se concretiza na formação do estudante. Só pode formar cidadãos autônomos a escola que é, dentro dos parâmetros possíveis, independente e autônoma na gestão do seu projeto pedagógico e dos seus recursos administrativos, financeiros, de pessoal e materiais.

Torna-se autônoma a escola que, primeiro, situa e adapta seu projeto pedagógico à realidade local, incorporando e buscando compreender os valores culturais, as práticas sociais, os costumes e manifestações artísticas de sua comunidade, adquirindo uma identidade. Compreendemos, a partir disso, que uma gestão escolar que atenda à sociedade contemporânea faz-se com participação e democracia.

A democracia é um processo contínuo de construção e de reconstrução, faz parte do cotidiano de uma sociedade e, portanto, é infinita. Em um processo democrático quanto maior for à participação popular mais força um movimento adquire, sobretudo em relação aos direitos do cidadão no que se refere ao exercício da cidadania. As instituições escolares devem ser, portanto, espaços que promovam a oportunidade do exercício da democracia.

No Brasil, a própria Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) determinam a participação dos pais para a efetivação do processo da gestão democrática nas escolas. Entretanto, mais do que o cumprimento de uma determinação legal, a busca pelo fortalecimento dessa parceria colaborativa se apresenta, no atual contexto social, como um dos poucos caminhos viáveis para que escolas e famílias consigam superar as dificuldades que vêm enfrentando na educação de seus filhos/alunos. Pode-se assim traduzir a busca pela promoção de uma parceria permanente entre família e escola como um esforço com interesses mútuos envolvidos - um caminho de colaboração de mão dupla.

E vamos além: é lógico afirmar que o equilíbrio do processo educacional depende atualmente do papel complementar desempenhado pelas famílias e pela escola, uma em relação à outra. Ao tratar da relação entre escola e família, Faria Filho, (2000), chama a atenção pelo fato de que, desde as primeiras décadas do século XX, os professores denunciavam o afastamento da família em relação à escola. Para essas instituições, havia um desinteresse dos pais para com a educação dos filhos, principalmente entre os mais pobres.

Naquele mesmo contexto, com o advento da psicologia, o ideário da Escola Nova começou a ser difundido. Desse modo, a vida familiar da criança começou a ser de interesse da escola e, constata Faria, a relação entre escola e família passa a ser uma constante:

Há uma clara consciência da importância da família na educação, que aparece das mais diversas formas e no interior de textos que tratam de assuntos variados. Há, no entanto, uma constante: a relação entre escola e família é, sempre, relacionada às mudanças sociais em curso, à vida na cidade e à necessidade do concurso de ambas para a formação do cidadão-trabalhador, higiênico e ordeiro. (FARIA FILHO, 2000, p. 4)

A escola e a família assumiram a responsabilidade pela civilização, ou seja, os professores não deviam ensinar apenas a escrever e ler; deveriam transmitir também os padrões morais, os valores da vida social. A escola passou a completar a tarefa do lar, a formação do caráter, o respeito à disciplina necessária para a harmonia e a estabilidade sociais. A família, por outro lado, completaria o trabalho da escola auxiliando seus filhos no aprendizado das lições.

É fundamental que nesse processo de mudança a escola busque união entre família, gestores, comunidade, educadores, alunos e demais funcionários, para que cada um sinta-se responsável em transformar a educação. A instituição educativa no cumprimento do seu papel e na efetivação da Gestão Democrática, precisa não só criar espaços de discussões que possibilitem a construção coletiva do projeto educativo, como também criar e sustentar ambientes que favoreçam esta participação.

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Como referenciar: "Gestão Democrática e Participativa: Educar com a Participação de Todos" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 18/05/2024 às 14:45. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/gestao_democratica_participativa/index.php?pagina=3