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Inclusão na Práxis (página 2)


Quando não existe um inter-relacionamento, entre crianças deficientes ou não, um individualismo é gerado em todas as crianças. Ao contrário, quando os relacionamentos acontecem com tranquilidade, há um crescimento de ambas as partes, abrindo espaços para novos relacionamentos e troca de experiências que resultam em uma nova aprendizagem.

O objetivo da inclusão é dar oportunidade para desenvolver a autoidentidade, não apagando as diferenças, mas valorizando as individuais, que proporcionam parcerias e levam os alunos a "assumir sua própria educação em suas próprias vidas". Quando as escolas incluem todos os alunos, a igualdade é respeitada e promovida como um valor social, com os resultados visíveis da paz e da cooperação.

Evidenciam-se as reivindicações dos deficientes e de seus famíiliares, que hoje não estão focadas apenas nas escolas: há grande cobrança em todos os setores da sociedade, como nas empresas, nas áreas de lazer, nos transportes coletivos e nos carros adaptados às necessidades especiais.

Para a inclusão ocorrer, de fato, é preciso que todos os sistemas sociais se adequem, de forma que sejam eliminados os fatores que excluem certas pessoas do seu ambiente. Além disso, todas as formas de discriminação devem ser combatidas, o esforço da sociedade deve ser no sentido de acolher as pessoas. No entanto, essa inclusão reivindicada só irá ocorrer quando a sociedade for capaz de entender que ela própria precisa ser modificada.

A luta pelos direitos, respeito e valorização das diferenças têm levado a sociedade a acolher as pessoas. Atualmente é bastante visível e crescente o movimento inclusivista, alimentado pela adesão dos setores da sociedade que não podem omitir-se ou fugir dessa realidade que há muito tempo saiu da teoria e começou a ser colocada em prática no meio social.

A inclusão, tão almejada pelos deficientes, não pode significar algo a ser vivido no futuro, mas expressa uma necessidade urgente de ser trazida para o presente. Pois, como evidenciam claramente os autores Gaio e Rosa:

"A pior deficiência é a deficiência da alienação, que leva os membros de uma sociedade que têm olhos, ouvidos, cérebros em perfeitas condições, enfim, corpos biologicamente perfeitos, a verem, a não ouvirem, a não entenderem e nem pensarem nas necessidades dos seres humanos. Estes que nascem ou se tornam diferentes em sua estrutura corporal, são igualmente capazes e gritam por liberdade moral e social." (GAIO, ROSA, 2004, p. 172).

As pessoas deficientes definitivamente não aceitam mais serem ignoradas, até porque isso significa excluir uma grande parte da sociedade. Na realidade,  essas pessoas querem fazer todas as atividades possíveis e imaginárias. Por isso, medidas diversas estão sendo tomadas no sentido da adequação dos sistemas escolares às necessidades dos alunos. Tais medidas serão implementadas nas seis dimensões de acessibilidade: arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental, programática, atitudinal.

Inclusão é viver a igualdade na diferença, integrar na diversidade, consiste em pensar no outro, que se apresenta como uma realidade que se impõe, gradativamente, no dia a dia; um outro concreto, com identidade, com história e com constituição afetivo-emocional própria.

Entendemos, também, que a mudança de pensamento é inevitável. Ao se discutir e refletir sobre a inclusão, constitui fator importantíssimo lembrar que essas pessoas já sofreram no passado, sobretudo por causa de falta de informação. Por isso há uma grande luta não só por parte dos deficientes, bem como por educadores e pela sociedade, pois esses já entenderam que é preciso aprender a conviver com as diferenças a partir da corporeidade, considerando cada pessoa na sua especificidade.

Faz-se necessária uma mudança pedagógica na escola, a qual tem o poder de transformação da realidade. Ela se torna responsável, juntamente com seus profissionais, pela inclusão e não apenas pela integração.

A escola quer incutir uma formação de cidadãos pertencentes e transformadores da sociedade, sendo estes deficientes ou não. Januzzi  ousa afirmar:

 "...que a educação é pensada como contribuição essencial para a transformação social". Colocando a instituição escolar num patamar de transformadora da realidade. (JANUZZI, 2004, p. 189)

De acordo com a mesma autora "a escola tem papel importante e mesmo com as condições adversas do contexto econômico-político-ideológico tem função específica, que, exercida de forma competente, deve possibilitar a apropriação do saber por todos os cidadãos".

Com base em uma educação voltada para as necessidades de um tempo e lugar, dedicada à formação da cidadania, bem como à preparação tecnológica, haverá a influência de uma transformação social. Preparando não deficientes, mas pessoas com algumas limitações, que possuem todas as capacidades de aprender, se forem fornecidas condições necessárias a esse fim. Tais pessoas irão, de fato, apropriar-se desse desafio a fim de obter os conhecimentos necessários à vida e à transformação social.

Em outras palavras, preparar um ser humano que possa trabalhar e viver em sociedade, sentir-se útil a si mesmo, produzir. Na realidade quem ganhará mais com isso é a própria sociedade capitalista. Então por que não oferecer essas condições, embarcando  em um projeto ousado e transformador?

Sabe-se que vivemos em uma sociedade injusta, onde alguns podem usufruir do progresso, mas Januzzi

"defende o direito à socialização, à distribuição, ao usufruto desses progressos para todos. A modificação desejada, reivindicada, não é somente da escola ou sistema de ensino, mas, sobretudo de uma organização social injusta."(JANUZZI, 2004, p. 191)

A escola, quando analisada no seu caráter formador, deve usar de ensino diversificado para criar oportunidades individuais para as pessoas deficientes, atendendo às diferenças e às necessidades de cada um, e também visando a igualdade, equidade. Assim, há de se preparar  todos os alunos, iguais e especiais, para que sejam capazes de conhecer a realidade, atuando com todos em  transformação da sociedade.

Passando por um momento "civilizado", onde existem confrontos entre uma minoria populacional com grande parte da riqueza, dos conhecimentos e da tecnologia concentrados, e uma maioria vivendo em condições degradantes, sofrendo com o desrespeito, a violência e a total agressão aos direitos humanos. Diante disso, surge aqui um grande desafio educacional: lutar para modificar a organização social do país.

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Como referenciar: "Inclusão na Práxis" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 06/05/2024 às 18:53. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/inclusaopraxis/index.php?pagina=1