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Leitura no Primeiro Ano das Séries Iniciais: uma construção de significados (página 4)

Este fenômeno, ou seja as práticas capitalistas reside nos mecanismos de uma sociedade  que excluem do processo de decisão e poder grande parte dos "cidadãos".

Para Foucambert, em uma sociedade hierarquizada com base em classes sociais, a falta de acesso ao mundo letrado reforça e realimenta as características excludentes dessa sociedade. Poucos são letrados (eruditos) enquanto muitos são apenas alfabetizados (sabem ler).

Mas tanto os alfabetizados quanto os analfabetos são frutos do mesmo processo de exclusão, que, por sua vez, resulta da exclusão de ambos das condições que lhes permitiriam participar ativamente do contexto no qual estão inseridos.

Observa-se que a escola, tradicionalmente, contrapõe ensinar a escrever com ensinar a ler, o que gera uma sociedade excludente dos poderes que a escrita e a leitura conferem aos que as dominam.

Significa dizer que a escola alfabetiza, mas não produz leitores capazes de, socialmente, exercer competências de leitura e escrita que os contextos sociais exigem.

Tal fenômeno impõe a escola repensar suas funções quanto ao ensino, especificadamente ao ensino e a aprendizagem da leitura e escrita adequando-os às demandas sociais, ou seja, o ensino como práticas sociais.

Considerando a questão estudada, defrontam-nos com uma emergência social, atribuída não só apenas à escola. Cabe a sociedade, vislumbrar práticas pedagógicas junto à escola, tentando reverter esse quadro de insastifação que permanece ativo aos dias atuais.

À escola e à sociedade impõem-se a urgência de recriar o conceito de alfabetizar para atender ao desafio de incorporar todos os alunos e cidadãos à cultura do escrito.
A esse sentido Lerner (2002, p. 17) aborda:


"Para formar todos os alunos como praticantes da cultura escrita, é necessário reconceitualizar o objeto de ensino e construí-lo tomando como referência fundamental as práticas sociais de leitura e escrita. Por em cena uma versão escolar dessas práticas que mantenha certa fidelidade à versão social (não-escolar), requer que a escola funcione como uma microcomunidade de leitores e escritores".


Tal reconceitualização implica fundamentalmente uma reflexão, não apenas sobre os textos que devem circular na escola, mas, sobretudo o que significa a leitura. Ler não significa apenas passar por algo escrito, ou fazer a versão oral do escrito.

Ler significa muito mais do que decodificar. Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa buscar respostas que podem ser encontradas na escrita, mas que para isso, é preciso ter acesso a essa escrita; significa um processo de interação entre texto e leitor. Ler significa construir uma resposta que integra conhecimentos prévios a novos conhecimentos que o texto escrito proporciona. A leitura é, portanto, um ato; um meio de interrogação para o qual não tolera a amputação de nenhum de seus aspectos. Ler é, essencialmente, criar significados.

É por meio da leitura que temos acesso a maior parte dos conhecimentos acumulados pela humanidade, ampliamos nossa visão de mundo, desenvolvemos a compreensão, a comunicação e o senso crítico.

 Assim colocando-nos em contato com um mundo simbólico e abstrato, a palavra escrita torna possível a vivência de realidades diversas e a descoberta de pessoas e idéias. A leitura é, portanto, portas para vivermos plenamente nossa cidadania, transformando a nós mesmos e a realidade que nos cerca.

Para a efetiva perpetuação da leitura como pratica social, se faz  necessário que a mesma seja embutida em âmbitos educativos diversos, em diferentes contextos, é utopia imaginar que haja receitas padronizadas que se apliquem para todas as exigências de leitura e que somente a escola é determinante de tal processo.

Modificar esta realidade é urgente, pois está em jogo não apenas condições favoráveis à sobrevivência nas sociedades modernas, mas também à construção da real democracia. A participação de toda a sociedade neste processo é determinante para a modificação do contexto.

Tais transformações operam-se legitimamente, não de forma solitária, mas no conjunto das relações sociais, tanto no sistema produtivo como na vida das coletividades, nos meios de informação, na participação política, no sistema educativo e na família.

Ao considerar estas instâncias como educativas, considera-se que, quando a consciência dos problemas se impõe, as soluções se espelham como possibilidades concretas.

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Como referenciar: "Leitura no Primeiro Ano das Séries Iniciais: uma construção de significados" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 09/05/2024 às 23:59. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/leitura/index.php?pagina=3