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Leitura no Primeiro Ano das Séries Iniciais: uma construção de significados (página 3)

Observa-se, assim, que a concepção de alfabetização tem se ampliado no cenário sócio-educacional, estimulando práticas escolares diferenciadas uma vez que tais questões, de uma forma ou de outra, chegam à escola.

Consequentemente, a escola precisa pensar a alfabetização como processo dinâmico, como construção social, fundada nos diferentes modos de participação das crianças nas práticas culturais de uso a escrita, transcendendo a visão linear, fragmentada e descontextualizada presente nas salas de aula onde se ensina/aprende a ler e a escrever.

É importante registrar que a criança, no transcurso do dia-a-dia, vivencia usos de escrita, percebendo que se escreve para comunicar alguma coisa, para auxiliar a memória, para registrar informações. E que da mesma forma  recorremos à escrita, através da leitura, para, também, obter-se informações, e buscar entretenimento. É hora, então, de a escola parar de simplesmente ensinar a escrita, para dar espaço a uma escrita dinâmica, explorando as idéias, as emoções, as inquietações, escrevendo e deixando escrever. (Kramer, 2000).

O processo de alfabetização, em contrapartida as palavras da autora ao longo do tempo, tem sido organizado e orientado por metodologias propostas muitas vezes por formas errôneas. Um exemplo claro desse erro se dá em relação às cartilhas, que trazem um conhecimento elaborado sem levar em consideração o contexto em que a criança se encontra inserido. Essas supõem que os alfabetizandos detêm os mesmos conhecimentos e as mesmas experiências com a escrita, melhor dizendo, presumem que as crianças chegam à escola sem construções teórico-prática a respeito do ler e do escrever.

Por essa razão, a proposta escolar de alfabetização tem o mesmo ponto de partida sem considerar os diferentes níveis ou graus de inserção da criança no mundo letrado, no contexto social.

A questão que irá nos deter a partir de agora se remete exatamente à contradição entre as necessidades de aprendizagem do contexto social e o ensino escolar, entre a teoria e a prática, ou seja o que a escola ensina e o ato de ler.

Sobre a leitura no contexto social

Há um discurso recorrente de que o brasileiro ainda lê muito pouco. Com base em observações na conjuntura histórica, percebe-se que até décadas  atrás, a metade da população era praticamente analfabeta. Muitos dos que sabiam assinar o nome, não eram capazes de ler e compreender uma mensagem escrita - eram chamados de analfabetos funcionais.

 Para o pesquisador Foucambert, em sua obra A Leitura em questão (1994), se constitui texto-base para as reflexões a seguir, "Analfabetismo é o desconhecimento das técnicas de utilização da escrita; iletrismo é a falta de familiaridade com o mundo da escrita, uma exclusão em relação ao todo ou a parte desse modo de comunicação." (p.18).

Assim, podemos considerar que todos nós, em algum campo do conhecimento, somos iletrados, um a vez que desconhecemos ou não nos familiarizamos com tais conhecimentos, porém todos somos de alguma forma letrados em outras áreas na medida em que  aprendemos a dominar as técnicas de usos sociais da escrita.

No entanto, há que se considerar que o conceito de alfabetização, historicamente, vem sofrendo alterações determinadas por revoluções sociais tecnológicas. 

Para o referido pesquisador, na primeira metade do século XX, com o advento da revolução industrial iniciada no fim do século XIX, o conceito de analfabetismo no mundo era o resultado de ausência de escolarização.

 No Brasil, os últimos anos do século XX se fez marcado pela evolução da Educação. Educação esta, que tem acompanhado a história do ensino no mundo, havendo, é claro características que lhes são próprias.

Bock (2002) afirma que o desenvolvimento da industrialização foi fator decisivo das grandes mudanças ocorridas na educação e em particular as crianças pequenas nos séculos XIX e XX.

Para a referida autora, a industrialização deslocou o local de trabalho da casa para a fábrica, transformando, com isso, os espaços desta e das cidades. Na casa, os espaços tornaram-se restritos, cada um de seus membros teve que se adaptar a essa nova realidade. Na cidade, houve a perca de espaços, a organização urbana abriu espaço à existência das fábricas. Assim o trabalho ingressou na esfera pública e na esfera familiar, deixando lacunas, que atingiram principalmente as crianças, uma vez que a família tendo que trabalhar, não podia mais, sozinha, exercer a função de cuidar e preparar seus filhos para o trabalho e para a vida social. Entretanto, de acordo com Gadotti (1991, p. 61):

O atendimento às crianças em idade pré-escolar não é apenas uma exigência do desenvolvimento industrial. Ele supõe uma concepção da infância na sociedade de classes e depende da forma como cada sociedade está organizada e do papel assumido pela criança no interior das diferentes classes sociais.


Essa análise nos remete ao entendimento da dinâmica das sociedades, do comportamento dos indivíduos de cada sociedade que, mesmo sofrendo influência interna e externa, assume contornos próprios. A visão de mundo, o sistema produtivo vigente em cada sociedade naturalmente "ditará" as regras de organização dessa sociedade. Como a história da humanidade tem registrado uma grande influência e por que não dizer consolidação das práticas capitalistas, a tendência mundial acabou por submeter aos seus mecanismos.

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Como referenciar: "Leitura no Primeiro Ano das Séries Iniciais: uma construção de significados" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 27/04/2024 às 14:53. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/leitura/index.php?pagina=2