Você está em Artigos

Conceitos Matemáticos Inseridos na Educação da Primeira Infância: Diagonais que Perpassam o Desenvolvimento dos Pequenos Estudantes (página 4)

Mais adiante está o quarto processo que chamamos de sequenciação. Ele é o ato de fazer suceder a cada elemento um outro sem considerar a ordem entre eles. Nesta ação a ordem dos fatos não interfere nos resultados, o que é totalmente contrário à seriação. A quinta ação mental, busca ordenar uma sequência seguindo um critério estabelecido, ou seja, a ordem irá influenciar consideravelmente nos resultados obtidos. Entretanto, os educadores de modo geral, fazem muita confusão entre estes dois conceitos. Muitos solicitam aos educandos uma sequência numérica na ordem crescente ou decrescente, como se a ordem entre os numerais fosse condição para a existência de qualquer sequência, e quando a criança não realiza a atividade observando a "ordem" o docente diz que estar tudo errado. Uma incompreensão conceitual por parte do ensinante.

O penúltimo processo é a inclusão, ou seja, o ato de fazer abranger um conjunto por outro. Assim as crianças conhecerão as partes menores e poderão agrupá-las em partes maiores; incluirão dentro de uma categoria maior os seus membros. Conseguirão diferenciar subconjuntos dos conjuntos, assim poderão estabelecer a relação elemento/ conjunto (relação de pertinência) e a relação conjunto/ conjunto (contém e não contém/ está contido e não está contido). Ou seja, inclusão é o ato de generalizar. É importante que seja suscitada a inclusão social durante as aulas na educação da primeira infância, visto que as crianças estão inseridas num mundo em que as pessoas menos favorecidas estão constantemente sendo excluídas das oportunidades de terem uma boa escola, uma boa moradia, saneamento básico, acesso à cultura, ao lazer e tantos outros direitos que, não só a Constituição do nosso país nos favorece, mas fazem parte da dignidade humana. Nesse sentido, o ato de generalizar não está filiado ao de rotular, nem tampouco criar estigmas, mas, sobretudo resistir à alienação do sujeito social e assim lutar contra a submissão do ser humano ao capital (LESSA; TONET, 2008).  

Por último, vem a conservação que possibilita aos aprendentes perceberem que a quantidade não depende da arrumação, forma ou posição dos elementos, em virtude de que a quantidade é imutável estando onde estiver. Não importa o local que se coloca os elementos, sendo um recipiente largo ou longo, estreito ou comprido, se há um litro de qualquer que seja o líquido este sempre será um litro. De um ponto de vista social este conceito não se aplica, em razão de que as lutas de classe buscam a eliminação da conservação social, da reprodução do status quo (ibidem). É importante que os estudantes percebam esta luta e compartilhem com esses embates. Entretanto, sozinhos não o farão, então é necessário que os educadores tenham compreensão sobre tal fenômeno e busquem em suas práticas pedagógicas, desde a escolha do livro didático até uma simples atitude dentro ou fora da sala de aula, confrontos que possibilitem a discussão e a posterior compreensão de que não devemos servir de massa de manobra, nem tampouco utilizar os demais para tal estado, haja vista que somos seres que vivemos em sociedade e precisamos respeitar as opiniões de todos, sem ser preciso aceitá-las.

Por intermédio de Lorenzato (2006, p. 27)
 
Convém ainda salientar que os processos aqui descritos não estão restritos a um determinado campo de conhecimento, na medida em que podem interagir com qualquer situação do cotidiano. Na verdade, eles são abrangentes e constituem-se num alicerce que será utilizado para sempre pelo raciocínio humano, independentemente do assunto ou tipo de problema a ser enfrentado.

O caminho escolhido por cada educador para o desenvolvimento desses processos mentais básicos vai se constituindo a partir de sua visão gnosiológica, ou seja, a entendimento que possui ou possuirá sobre o conhecimento; ontológica, a compreensão de Homem; e axiológica que consiste na concepção de valores. O nosso trajeto é calcado pela abordagem histórico-dialética que entende o Homem como um ser histórico e dinâmico, o conhecimento como produção histórica e de caráter não material e os valores como perpetuação de ideias para a superação das desigualdades sociais. Assim, a abordagem que permeia todo este trabalho ver a educação

[...] como sendo uma prática inserida no contexto das formações sociais que resulta de condicionamentos sociais, políticos e econômicos, reproduzindo, de um lado, as transformações sociais, mas, de outro dinamizando e viabilizando as transformações ao garantir aos futuros cidadãos o efetivo acesso ao saber (FIORENTINI; LORENZATO, 2007, p. 66).

Tendo em vista esses dizeres não poderíamos deixar de manifestar nossa comunhão ao programa desenvolvido por Ubiratan D'Ambrosio chamado de Etnomatemática. Porque percebemos que os temas matemáticos não possuem um fim em si mesmo, sua existência está ligada a uma questão abrangente, de caráter multicultural, assim, mediante D'Ambrosio (2005, p. 44) a Etnomatemática dar ênfase ao pensamento qualitativo. Para ele, uma abordagem etnomatemática "[...] raramente se apresenta desvinculada de outras manifestações culturais, tais como arte e religião [...]" e sempre está atrelada a um tema maior, de caráter ambiental ou de produção. Em face disso, a etnomatemática se enquadra impecavelmente num entendimento multicultural e holístico de educação.

Mas o que vem ser a Etnomatemática? Para D'Ambrosio a Etnomatemática é um programa de pesquisa em história e filosofia da matemática, com inconfundíveis implicações pedagógicas e se constitui de dimensões conceitual, histórica, cognitiva, epistemológica, política e educacional . O autor deixa claro que a etnomatemática, fazendo uso dos instrumentos de natureza matemática, possibilita uma abordagem crítica da realidade. Ela é parte do cotidiano das crianças, jovens e adultos, em virtude disso, segundo D?Ambrosio (2005, p. 17), o objetivo da Etnomatemática "[...] é procurar entender o saber/ fazer matemático ao longo da história da humanidade, contextualizando em diferentes grupos de interesse, comunidades, povos e nações [...]". Em razão disso é essencial que o docente corporifique tais conceitos básicos da matemática desenvolvidos na educação da primeira infância, os campos conceituais e os conceitos físico-matemáticos sabendo elaborar situações que desenvolvam os processos metais básicos para a aprendizagem da matemática.

Anterior   Próxima

Voltar para a primeira página deste artigo

Como referenciar: "Conceitos Matemáticos Inseridos na Educação da Primeira Infância: Diagonais que Perpassam o Desenvolvimento dos Pequenos Estudantes " em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 18/05/2024 às 06:20. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/matematicaprimeira/index.php?pagina=3