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Uma Reflexão sobre a Inclusão de Pessoas com Necessidades Especiais (página 6)



É, no entanto, possível perceber, nitidamente, que o projeto inclusivo implantado pelo governo (do Paraná), na época, não serviu para nada além de diminuir o percentual de "analfabetos", pois o que de fato houve foi uma exacerbação do "analfabetismo funcional", ou seja, houve um aumento do número aqueles que aprenderam a redigir o próprio nome, mas que não dão conta de interpretar um texto ou uma notícia de jornal sequer, havendo inclusive outros que, como posto no relato, mal sabem se expressar oralmente. Segundo um aluno entrevistado pela pesquisadora mencionada: "No projeto só aprende o básico do básico. O projeto só serve para aprender a escrever o básico para o governo dizer: 'não têm mais analfabetos'." (RIPPEL, 2007, p. 250).

Não é preciso muito esforço mental para perceber que sempre foi essa a meta de quem implantou esse sistema de inclusão dessa forma. Em outras palavras, sempre foi objetivo do governo manter a população na ignorância, porém sem que ela percebesse, pois é mais viável e mais lucrativo do que contar com pessoas entendidas e com senso crítico da realidade.

Segundo os entrevistados:

Esc2/32: Falta a coluna principal: "o ensino". Dão tudo pronto, resumido e já com as respostas. Não se aprende. [...]
Esc7/145: Quem fez projeto aprende muito picado. Aí não tem base. Não tem prova, é só fichas.
Esc7/152: Perdemos toda noção de estudo normal. Só sei o básico para viver.
Esc7/176: Não ensinam no projeto o que o mercado de trabalho exige. No projeto só te empurram para frente.
Esc7/190: Não aprende o mínimo no projeto. É só para pegar um papel (certificado).
Esc13/291: Falta o básico. É muito rápido. Não é o suficiente para enfrentar o mercado de trabalho.
Esc13/292: Não aprende suficiente para aprender a ligar um computador. O máximo que aprende é limpar um computador.
Esc15/316: O projeto confunde todo conhecimento na cabeça. Em vez de ensinarem, eles confundem o aluno.
Esc16/355: Nem pensa. No projeto não deu para aprender nada. Não tem explicação. Este projeto desanima o jovem para ir para o ensino médio.
Esc16/335: Porque o projeto foi lançado como meio de diminuir gastos. Quanto mais a pessoa fica na escola mais gasta. Eles queriam jogar o aluno para frente e esquecer o que ela vai ser lá na frente. Se a pessoa é empurrada para frente, ela não vai saber, vai ter que procurar em outros meios. (RIPPEL, 2007, p. 250).


Apesar de a maioria estar inerte, alguns ainda têm consciência da sua situação após terem participado de um projeto desse escalão. Prova disso é o relato acima, que salienta a angústia de seus frequentadores, dizendo nada menos que o projeto serviu apenas para continuar mantendo-os na exclusão social.

CONSIDERAÇÔES FINAIS

Como visto na discussão apresentada, é inaceitável que sejamos condizentes com dada situação, onde o discurso é de inclusão, mas a prática é excludente da forma até denominável de cruel, de uma forma que acaba por "podar" o indivíduo no que lhe é essencial na vida, o seu intelecto, sua forma de pensar e de agir no contexto da sua vida.

Essa realidade precisa ser transformada. A inclusão não deve dar-se somente para aqueles que apresentam alguma necessidade especial física ou mental. Deve abranger também os que apresentam déficit intelectual de aprendizagem, que somam, por sinal, um número significativo nas escolas, assim como os que são desprovidos de uma situação digna de vida (sem saúde, sem saneamento básico, sem moradia, etc.).

As escolas precisam de mais recursos e, além disso, o governo precisa preparar melhor os profissionais. Com isso as empresas saberão como aprimorar seu relacionamento com esse público, o que, consequentemente, trará maiores benefícios para todas as partes. Em outras palavras, é uma rede que deve ser bem planejada desde o seu início para que se desenvolva da melhor forma possível e não da maneira como vemos.

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Como referenciar: "Uma Reflexão sobre a Inclusão de Pessoas com Necessidades Especiais" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 18/05/2024 às 20:39. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/pessoaspnes/index.php?pagina=5