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A Poesia Infantil na Escola

Autor: José Luiz Marques
Data: 02/09/2010

Introdução

Na sociedade contemporânea estamos diante de uma escola que funciona em muitos os casos como mais um modelo de produção capitalista. Não é possível ignorarmos as profundas transformações que esse modelo de educação operou e tem operado no mundo da leitura e da literatura infantil e suas conseqüências em relação ao consumo estético e utilitário dos textos e dos livros.

Nem por isso devemos nos conformar com a idéia de que a literatura infantil e, em especial a poesia, se degradou diante dessa fria lógica e desacreditarmos, por exemplo, que um texto poético possa contribuir para que a criança descubra sua capacidade de relacionar e concretizar idéias, de fazer suas conexões e, principalmente, por mais paradoxal que isso venha a ser, para que ela, inserida no mercado material, perceba, por meio do imaginário que o texto infantil suscita e acorda (Postic, 2001), um processo cumulativo de conhecimentos que a auxilia  na construção de sua própria  humanidade.

O objetivo, então, deste artigo é discutir como a poesia infantil pode ser trabalhada em sala de aula a partir da perspectiva de fugir das técnicas tradicionais do ensino centradas na semiologia e na análise sistêmica, ou seja, aquelas que inscrevem o texto literário na época de sua produção e de seus principais juízos de valor e de características que interessaram a essa época.

A título de questionamento desse modelo de ensino, tentamos, neste trabalho, valorizar os possíveis diálogos entre o sujeito leitor e os textos a partir do seu próprio cotidiano, entendendo esse cotidiano desde o mundo contemporâneo até os impasses individuais vividos pela criança nos arredores de cada texto.         

Segundo Lajolo (1994, p.32), a literatura constitui modalidade privilegiada de leitura em que a liberdade e o prazer são virtualmente ilimitados. É preciso lembrar que a literatura infantil é uma ciência em trânsito com outras ciências e que o prazer, a motivação da aprendizagem podem residir justamente na travessia de ciência para ciência, da disciplina técnica para a liberdade da expressão.

Segundo a autora:

Talvez não se tenha refletido ainda o bastante sobre alguns traços que modernas pedagogias e certos modelos de escola renovada imprimiram à educação, principalmente no ensino da literatura. Nesse sentido, urge discutir, por exemplo, o conceito de motivação, porque é em nome dele que a obra literária pode ser completamente desfigurada na prática escolar. Propor palavras cruzadas, sugerir identificação com uma ou outra personagem, dramatizar textos similares que manuais escolares propõem é periférico ao ato da leitura, ao contato íntimo e profundo que o texto literário pede.

A poesia infantil e a escola. 

Embora a literatura infantil tenha florescido na Europa do século XVII, no Brasil a poesia infantil emergiu como texto dedicado à criança somente no inicio do século XX (Bordini, 1986).

Em especial como texto clássico e, muitas vezes, como texto pedagógico, a poesia então ganhou espaço nos bancos escolares, impressa e veiculada por meio de frases justapostas, ou seja, denominada como textos verticais, aqueles que se apresentam por meio de uma ou duas frases, como Você quer fazer a lição, por que não espera o Chiquinho?, em cartilhas como a Cartilha da Infância,  de Thomaz Galhardo (1935)  e a Nova Cartilha Analytico Synthética,  de Mariano de Oliveira (1943 - 3ª ed.). 

Em primeiro momento, a linguagem poética desses textos parecia se articular no sentido da construção de uma cidadania burguesa e, muitas vezes, voltada ao controle do comportamento da criança à luz daquilo que era considerado, na época, como certo ou errado aos olhos de uma sociedade civilizada e republicana que emergia ante ao lema de nossa bandeira - ordem e progresso.

Assim, destacamos abaixo fragmentos de um texto de Olavo Brás dos Guimarães Bilac, (Poesias Infantis, 1904) , poeta brasileiro considerado nacionalista por seus vários textos homenageando o Brasil do século XIX e a língua verdadeiramente portuguesa.  

Meu filho, termina o dia
a primeira estrela brilha
  Procura a tua cartilha
 E reza a Ave Maria! 

(...)

- Hoje pratiquei o bem;
Não tive um dia vazio,
  Trabalhei, não fui vadio
    E não fiz mal a ninguém.

(Bordini. Maria da Gloria. Poesia Infantil. SP. Ática, 1986, p.p.8-9 )

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Como referenciar: "A Poesia Infantil na Escola" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 19/04/2024 às 14:00. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/poesiainfantil/index.php?pagina=0