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A Relevância do Uso de Jogos e Brincadeiras como Recurso Pedagógico para o Desenvolvimento da Criança. (página 5)

O brincar criativo, simbólico e imaginário está sendo ameaçado pela interferência da indústria cultural e, consequentemente, pela falta de compreensão dessa necessidade no ambiente escolar. Tendo em vista que os brinquedos já são fabricados com determinadas regras, com instruções de como devem ser utilizados. Dessa forma tentam estabelecer certas regras que a criança deve seguir. Mas Vigotski (1998, p. 127) nos revela que "[...] a criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição em que a criança começa a agir independentemente daquilo que vê [...]", como, por exemplo, um pedaço de pau, para ela se tornar uma boneca e um cabo de vassoura se transforma em um cavalo; assim a criança pode dar outros significados aos objetos e jogos de acordo com sua ação e imaginação.

Esse estudioso, ao se referir o termo brinquedo, enfatiza a atividade, ao ato de brincar, pois caracteriza que a criança desenvolve-se através da atividade de brinquedo, e que somente neste sentido é que o brinquedo pode ser considerado uma atividade condutora que desencadeia o desenvolvimento da criança.

Em relação ao brinquedo educativo, Kischimoto (2009, p. 37) nos chama atenção para algumas considerações quando eles assumem uma função lúdica e educativa

1. Função lúdica: o brinquedo propicia diversão, prazer e até desprazer, quando escolhido voluntariamente.
2. Função educativa: o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo.

Ainda na visão dessa autora, o uso do brinquedo/jogo para fins pedagógicos, é de grande relevância para o processo de ensino e aprendizagem, e para o desenvolvimento da criança. Ao permitir a ação intencional (afetividade), a construção de representações mentais (cognitivo), à manipulação de objetos e desempenho de ações sensório-motoras (físico) e a trocas de interações (social), estará contemplando as várias maneiras de representação da criança ou suas múltiplas inteligências, assim contribuindo para a aprendizagem e para o desenvolvimento infantil.

A fantasia da criança precisa de liberdade para desenvolver suas habilidades, dando oportunidade de vivenciar o mundo, as formas e a qualidade de tudo que existe, dessa forma é preciso que o educador ouça e veja o que se expressa no brincar infantil, já que através do brincar a criança estrutura sua capacidade de julgamento, de agregar valores, princípios e regras.

Brincando e jogando, a criança aplica seus esquemas mentais à realidade que a cerca, aprendendo-a e assimilando-a [...] reproduz as suas vivências, transformando o real de acordo com seus desejos e interesses. Por isso pode-se dizer que através do brinquedo e do jogo, a criança expressa, assimila e constrói a sua realidade (RIZZI; HAYDT, 1998, p. 15).

A importância da brincadeira para as crianças, não representa o mesmo para o adulto que a caracteriza como divertimento, recreação, ocupação do tempo livre, afastamento da realidade.  Pelo contrário, para os pequeninos o brincar não é ficar sem fazer nada, mas é uma atividade de caráter sério, que possibilita o desenvolvimento de potencialidades, descobrem papéis sociais, limites, experimenta novas habilidades, aprende a viver e avança para novas etapas de domínio do mundo que os cerca.

O brincar para a criança é como se fosse sua linguagem secreta, e que mesmo que o professor não entenda é preciso que respeite e fique atento, para oferecer possibilidades e condições de jogos e brincadeiras que desenvolvam um canal de comunicação. Conforme o RCNEI (1998, p. 27, v. 1), a brincadeira

É uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com aquilo que é o não - brincar. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da diferença existente da brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se [...]

Portanto, é necessário que as aulas sejam recheadas de atividades lúdicas, com um ambiente agradável, e se possível que o educador se caracterize, de forma que estimule as crianças a se expressarem, a fugirem do mundo real, e serem sérias em seu mundo lúdico. Como afirma Brougère (1998, p. 147) "[...] É importante deixar a criança viver em seu universo lúdico e não fazê-la entrar à força na realidade para a qual encontrará, por si mesma, a passagem no devido momento [...]".

Umas das grandes dificuldades de se trabalhar os jogos na instituição infantil, e em especial nas creches, é o fato dos educadores já levarem pré-estabelecidas as regras que as crianças devem seguir para realizar determinada atividade, ignorando qualquer ação que os pequeninos venham a fazer, como recriarem outras formas de se expressarem. Tendo em vista que a criança tem essa capacidade de criar e recriar regras de acordo com os seus desejos e suas fantasias. Não se afirma que as atividades que envolvem os jogos sejam trabalhadas sempre de forma livre sem nenhuma intervenção do educador, pelo contrário, tem atividades que precisam dessa intervenção, mas existem outras que podem ser realizadas de forma livre, e que as crianças podem desenvolver suas habilidades.

A criança tem uma grande capacidade de desenvolver suas forças livremente, mas se impusermos tarefas demais, e se colocarmos suas forças sempre a serviço do trabalho prático, estaremos violentando a natureza da criança. E dessa forma ela perderá o gosto pelo jogo porque não conhece mais diversão nele.  Vale destacar que é um recurso que oferece à criança bons meios de desenvolver suas faculdades intelectuais e sensitivas (BROUGÈRE, 1998).

Brincar é um importante recurso pedagógico que estimula e desenvolve as funções mentais superiores, as funções psicomotoras e participa no processo de construção do conhecimento, onde a criança pode assumir outras personalidades, representando papéis como se fosse um adulto, outra criança, um boneco, um animal etc., pode atribuir significados diferentes aos objetos que normalmente já possuem, envolver-se em trama ou situações imaginárias, realizar ações que representam as interações, os sentimentos e conhecimentos presentes no ambiente em que vivem. Desse modo o RCNEI (1998, p. 29, v. 1) corrobora que

[...] cabe ao professor organizar situações para que as brincadeiras ocorram de maneira diversificada para propiciar às crianças a possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e companheiros com quem brincar ou os jogos de regras e de construção, e assim elaborarem de forma pessoal e independente suas emoções, sentimentos, conhecimentos e regras sociais.

Utilizar brincadeira/jogo no âmbito da educação infantil é conduzir para o processo de ensino e aprendizagem condições de elevar e potencializar a exploração na construção do conhecimento, a partir do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação ativa e motivadora. É também um recurso que possibilita, através da observação, constituir uma visão de desenvolvimento das crianças em conjunto ou em particular cada uma, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como de suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais.

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Como referenciar: "A Relevância do Uso de Jogos e Brincadeiras como Recurso Pedagógico para o Desenvolvimento da Criança. " em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 19/05/2024 às 10:51. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/usodejogosebrincadeiras/index.php?pagina=4