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Anafalbetismo Feminino no Brasil e no DF - Um Estudo Exploratório da Realidade de uma Senhora de 89 Anos (página 5)

A alfabetizadora que estava cursando faculdade de Pedagogia e teve uma disciplina chamada de Educação de Jovens de Adultos (EJA) que ajudou ampliar o seu conhecimento e perceber que um adulto não aprende da mesma forma que uma criança. Daí ela pode verificar por que muitas vezes a senhora não se desenvolvia e que na realidade estava apenas decorando, não havia uma aprendizagem significativa e mais, uma barreira que surgiu, foi o fato de os filhos e netos tentarem ajudar utilizando novamente o método tradicional, percebe-se que a alfabetizadora ficava sem jeito de falar e os seus familiares acharem que ela agora que estava fazendo faculdade sentia-se superior a eles e queria ser a detentora da verdade.

A alfabetizadora passou a buscar com sua professora da disciplina de Educação de Jovens e Adultos (EJA) como deveria realizar este processo ajudando a senhora a ser alfabetizada. Ao compartilhar sua experiência como professora da EJA proporcionando uma aprendizagem voltada para sua idade de forma contextualizada baseada no Método Paulo Freire.

A forma de ensino utilizada pela alfabetizadora foi de acordo com as idéias de Paulo Freire que consiste nas palavras geradoras que têm sentido para a aluna, tornando a aprendizagem significativa. Uma das maiores dificuldades que percebeu-se neste processo foi que a alfabetizada conseguisse segurar o lápis, pois sua mão estava muito dura e ela expressava que a estava perdendo tempo porque ela não se achava capaz. Então a alfabetizadora em todo tempo foi motivada a não desistir.

Durante as aulas a senhora geralmente ficava conversando sobre sua vida particular com a alfabetizadora e acabava às vezes contando coisas que aconteceram no seu passado familiar e escolar ao ponto de se emocionar com algumas lembranças. Foi muito divertido quando a professora perguntou para ela se em "jabuti" tinha "F" e ela respondeu que sim. Depois quando a alfabetizadora retornou na palavra jabuti "ela pensou um pouco e disse tem Filhote de jabuti tem F".  Foi muito engraçado e a professora disse para ela a senhora está muito esperta, está vendo como eu digo que a senhora vai conseguir e riram juntas. Para nós o raciocínio dela foi muito interessante e até surpreendente.

Podemos perceber que como a alfabetizadora tinha um bom relacionamento com a senhora, ela sentia-se bem à vontade e com isso às vezes a aula acabava sendo um momento de desabafo e aconselhamento onde em várias vezes a filha dela dizia "Mamãe não é hora de falar e sim de estudar" e falava para a professora "tem que falar se não vão ficar ai a tarde toda com ela porque a mamãe não para de falar".  O relacionamento das duas, alfabetizadora e alfabetizada, era algo como amigas onde a aluna sentia-se à vontade nas aulas. A aula acontecia no período da tarde por causa da visão da alfabetizada que já estava um pouco prejudicada e que no período matutino para a senhora era muito cedo porque ela tomava remédios que causavam muito sono e havia dias que mesmo a tarde a aluna ainda estava com muito sono.

Com isso a alfabetizadora às vezes tinha que mudar a metodologia e ir falando ou perguntando ao invés de tentar escrever ou visualizar através de livros que os próprios netos deram para que ela utilizasse, para aprender a ler escrever conforme o método tradicional.

Teve alguns momentos que foram muito difíceis já que quando a alfabetizadora estava preparada para dar sua aula ao chegar à casa da senhora ela estava reclamando que não tinha conseguido dormir a noite, estava sentido dor no corpo e uma vez relatou que ao tentar arrumar seu quarto subiu num banco de madeira e sua coluna estralou daí a alfabetizadora mandava que ela se deitasse e foi lendo ou fazendo perguntas sobre o conteúdo que seria visto naquele dia.  

Foi feito questionários para os alfabetizadores de adultos e uma entrevista informal com a alfabetizada. Nos questionários que foi obtido respostas a maioria dos alfabetizadores têm o Ensino Superior e também estavam atuando na área, todos já atuaram em outras modalidades de ensino. Observamos que em sua maioria, eles participaram ou estão participando de programas de alfabetização de adultos.

Na pergunta em relação o que motivou alfabetizar adultos em boa parte foi à vontade de ajudar as pessoas a sanarem as falta de saber ler e escrever e a troca de experiência entre alfabetizador e alfabetizado. As respostas foram um pouco diferentes, mas tinham o mesmo objetivo de alfabetizar, isso é algo muito bom se cada um fizesse sua parte e compartilhar com o próximo o mundo seria diferente e menos egoísta.

A experiência que mais marcou foi algo relacionado com o aprendizado o aluno, contudo apenas um disse ser o curso de formação para alfabetização e essa pessoa que possui apenas o Ensino Médio, só que isso não é ruim, mas a sua escrita tem vários erros ortográficos. Quem pode ajudar muitas vezes não quer e aquele que possui alguma dificuldade quer. O que fazer?

Na entrevista realizada com a alfabetizada, ela declarou nunca ter freqüentado uma escola antes, pois seus pais a ensinavam em casa com gritos e surras e relatou que sua mãe abandonou a família quando ala ainda era criança. O pai achava que ao aprender ler e escrever ela e as irmãs iriam arrumar namorados e escrever "cartinhas". Ela disse quer estudar, mas pelo fato de trabalhar em casa de família não a deixaram e só saiu para casar aos 19 anos com um homem mais velho que já tinha 13 filhos e era viúvo. Podemos imaginar o quanto essa senhora sofreu por ver seu sonho adiado.

A.R. de 89 anos disse que "quando sua esposa o estava ensinando ele se distraiu e quando ela gritou eu bloqueei as letras já estavam entrando na minha cabeça", depois ficou viúva e foi criar os filhos em outro lugar e trabalhando na roça com o filho mais velho. Ela teve 11 e mais 3 abortos do esposo que morreu quando ela estava grávida da caçula.

Observamos que a alfabetizada ainda não alcançou seu objetivo, pois reconhece as letras, mas ainda não sabe junta-las e já tem o desejo de tirar a carteira de motorista após aprender ler e escrever. Foi muito gratificante esta experiência de alfabetização, contudo não foi concluída.  

  5 - Considerações Finais - Um sonho no mundo da leitura pode ser realidade amanhã 

 Notamos então que para muitos o que pode ser simples e insignificante é um tesouro valioso e com essa senhora podemos aprender a valorizar as pequenas coisas, porque senão soubéssemos ler e escrever provavelmente estaríamos à margem da sociedade e excluídos sem ter a oportunidade de ter uma vida melhor. Para ela o fato de aprender não vai mudar o seu passado sofrido e cheio de privações, mas de hoje em diante ela poderá tomar suas decisões conscientes e sem estar tão vulnerável e dependente dos outros.

Foi difícil observar este processo, pois muitas vezes os encontros tiveram que ser adiados porquanto sua filha tinha que sair, outra vez a senhora viajou e ficou um mês fora e notamos que a alfabetizadora estava preocupada se a alfabetizada não iria esquecer já que não estava praticando e sendo acompanhada, mas para sua surpresa ao regressar, ela recordava de tudo e demonstrava esse tempo em que passou fora serviu para descansar sua mente para aprender com mais facilidade.

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Como referenciar: "Anafalbetismo Feminino no Brasil e no DF - Um Estudo Exploratório da Realidade de uma Senhora de 89 Anos" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2025. Consultado em 22/10/2025 às 04:39. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/anafalbetismofeminino/?pagina=4