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Análise de 1940 a 1970: Espaços e Desafios das Mulheres Construtoras da Educação no Município de Codó-Ma (página 2)

AS ESCOLAS NORMAIS E A FEMINIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO

A criação das escolas normais inicia uma nova etapa no processo de institucionalização da profissão docente, demarcado por um dualismo: de um lado, o controle estatal se faz mais restrito; de outro, os docentes, de posse de um conhecimento especializado, melhoravam o seu estatuto sócio-profissional.

No Brasil, esse processo de institucionalização da formação docente teria início a partir da década de 30 e 40 do século XIX, com o surgimento das primeiras escolas normais provinciais, a serem citadas, da província de Minas Gerais (1835), da província do Rio de Janeiro (1835), da província da Bahia (1836) e da província de São Paulo (1846), criadas por consequência do Ato Adicional de 1834. No entanto, apesar do pioneirismo, durante todo o século XIX, esse tipo de formação se caracterizaria por um ritmo alternado de avanços e retrocessos, de acordo com Luciano Mendes de Faria Filho (2007), em seu artigo Instrução elementar no século XIX.

Na década de 30, quando surgiram as primeiras escolas normais no Brasil, já havia em muitas províncias algumas escolas de meninas. Ao que tudo indica, destinavam-se mais ao ensino de prendas domésticas, às orações e aos rudimentos de leitura. As mulheres deveriam aprender a ler e escrever e fazer as quatro operações. A concepção de um currículo diferenciado relacionava-se ao papel reservado à mulher numa sociedade de costumes patriarcais e aos preconceitos quanto à sua capacidade intelectual.

O sexo feminino fazia parte do imbecilitus sexus, ou sexo imbecil. Uma categoria à qual pertenciam mulheres, crianças e deficientes mentais e eram comuns a pronúncia de ditados preconceituosos contra a mulher, retratados e potencializados aqui no Brasil, desde a colônia pelos portugueses, como por exemplo, "mulher que sabe muito é mulher atrapalhada, para ser mãe de família, saiba pouco ou saiba nada". "A mulher honrada deve ser sempre calada", "Contente-se com as contas do rosário", do poeta português Gonçalo Trancoso, conhecido como um zeloso moralista e praticante de uma supersticiosa religiosidade da época. Portanto, desmerecendo a capacidade intelectual do sexo feminino.

No século XX, a escola sofre processos de profunda e radical transformação. A educação abre um lugar para as massas, pois, a escola ao nutrir-se de um forte ideal libertário, dá vida a novas experiências escolares, impondo-se como instituição-chave da sociedade democrática. Assim, a prática educativa voltou-se para o sujeito mais humano, onde apareceram então, em nossa história, novos protagonistas: a criança, o deficiente e a mulher, dando vida a um processo de socialização destas.
Segundo Heloisa VILLELA (2007):

O novo estatuto social feminino no magistério fez também emergir mecanismos de controle e discriminação contra as mulheres e enraizar ideologias de domesticidade e maternagem [...] Entretanto, como contrapartida feminina, essa ideologia foi utilizada como um elemento de resistência, pois, atacando tal discurso, as mulheres desimpediam o caminho para sua rápida inserção profissional (p.120).

De acordo com Constância Lima DUARTE (2007) "Os novos ventos trouxeram educadoras portuguesas e francesas para as meninas das famílias mais abastadas e, lentamente, foi deixando de ser uma 'heresia social' o ato de se instruir e ilustrar alguém do sexo feminino" (p. 293). Assim, temos estas educadoras como as primeiras preceptoras na educação feminina no Brasil, vindas de várias partes da Europa, eram encomendadas por famílias ricas, que inicialmente, e por um longo tempo, moraram e educaram nas casas de muitas famílias de elite.

A bandeira de luta pela educação das mulheres foi abraçada por aquelas que haviam conseguido romper o preconceito e destacar-se. Num espaço de cinco décadas, uma profissão quase que exclusivamente masculina tornar-se-ia prioritariamente feminina, sendo que a formação profissional possibilitada por essas escolas teria papel fundamental na luta das mulheres pelo acesso a um tratamento digno e remunerado.
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Como referenciar: "Análise de 1940 a 1970: Espaços e Desafios das Mulheres Construtoras da Educação no Município de Codó-Ma" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 19/04/2024 às 08:43. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/analise_1940_1970/index.php?pagina=1