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Análise de 1940 a 1970: Espaços e Desafios das Mulheres Construtoras da Educação no Município de Codó-Ma (página 4)

Maria Alice Machado

Filha de Marcelino da Cunha Machado e Raimunda Viana Machado, nasceu em 13 de Janeiro de 1910 na cidade de Altos- PI e faleceu em 05 de Fevereiro de 2000. Iniciou o curso primário em Altos, posteriormente concluído em Teresina, onde também cursou o Pedagógico na Escola Normal Antônio Freire.

Em 1931, começou sua longa jornada. Foi lecionar em Beneditinos, Piauí, em substituição a sua ex-professora, Hilda Ribeiro, esposa do Juiz de Direito daquela Comarca. A satisfação do pessoal de Beneditinos durou pouco, pois, em 1933 foi transferida para Natal, hoje Monsenhor Gil- PI. A cidade de Beneditinos fez um abaixo-assinado, mas o Diretor de Instrução Pública, Dr. Benedito Napoleão, não o aceitou, alegando que sua presença em Natal era de suma importância para a educação daquele povo. Dali, em 1934, foi transferida para Miguel Alves, permanecendo até meados de julho de 1935.

Não era fácil ser escolhido professor. Falou Maria Alice numa entrevista a Revista Leia Hoje (2000):

"O governo publicava no Diário Oficial do Estado, as vagas existentes, por cadeiras, onde quer que as houvesse. Só em povoados, designava-se 1ª entrância; vilas, 2ª entrância e cidades, 3ª entrância. Os concorrentes enviavam dois envelopes; no primeiro dava-se preferência a entrância, no segundo colocava-se o curriculum e o diploma, mencionado as cadeiras pretendidas. Após 45 dias, o governador, somente ele, abria os envelopes, nomeava os vencedores para suas respectivas entrâncias."

Somente em Julho de 1935, Maria Alice chega a Codó a pedido do chefe político Honorino Silva, para lecionar no Grupo Escolar Colares Moreira. Porém em 1937, foi transferida para Picos, mas, ainda retorna a Codó em Agosto de 1938, onde atuou como diretora.

Entre os alunos de Maria Alice Machado, segue uma lista de nomes importantes na história de Codó, posteriormente professores, donos de escolas, médicos e políticos da cidade, a citar, Reinaldo Zaidan, Pedro Saads, Sebastião Murad, Julio Salem, Biné Figueiredo, Renê Bayma, Maria Eliza Saads, Maria Alice Machado Veras, entre tantos outros. Na administração de Reinaldo Zaidan, a professora foi homenageada, dando o seu nome a uma das ruas de nossa cidade. Também na administração de Dr. Antônio Joaquim Araújo, foi construída a Escola Municipal Maria Alice Machado. Essas homenagens constituíram uma forma de demonstrar o apreço pelo comprometimento e seriedade do trabalho desta docente para com o estudante codoense.

Numa conversa com o professor Carlos Gomes, ela assim respondeu ao ser elogiada por ele:

"Professor, não fui e nem sou competente. Não fiz nada a mais e nem melhor que as minhas colegas. Se hoje voltasse a escola, não saberia mais dar uma aula. Já estou um pouco esquecida. Hoje, aposentada, vivo procurando recordar na memória, a grande saudade que sinto do grande número de filhos que tive, os quais são meus queridos ex-alunos."

Neide Magalhães

Filha de Jonatha Mesquita Magalhães e de Aledes Pereira Magalhães nasceu em Caxias onde realizou os seus primeiros estudos e se diplomou em Professora Normalista em 1938. Exerceu vários cargos públicos na área da educação, a citar, Secretária de Educação do município de Codó, Diretora Regional de Educação e por longos anos Diretora do Grupo Escolar Raimundo Muniz Bayma, quando se aposentou.

Mãe do médico e ex-prefeito da cidade de Codó Antônio Joaquim Araújo Filho, do engenheiro Danilo Celso Magalhães Araújo, Raimundo Leonel Araújo e de Cleide Maria Magalhães Araújo. Faleceu em 4 de Fevereiro de 1990.

Maria Elisa Machado Veras


Filha do casal Alay da Cunha Machado e de Maria Rita Araújo Machado. Cursou o primeiro grau menor no Grupo Escolar Colares Moreira e o primeiro grau maior em Teresina-Pi, na Escola Normal Antonino Freire. Diplomou-se em Professora Normalista pela Escola Normal Antonino Freire, após um curso realizado de 1969 a 1971.

Carmem Palácio Lago

A menina Carmem, de família humilde, nasceu na manhã de uma quinta-feira, 17 de outubro de 1912, no povoado Bonfim, no município de Codó, filha de José Raimundo Lago e Hermínia Palácio Lago. Iniciou os seus estudos aos sete anos na antiga Escola Estadual Singular, mais tarde Escola Ferreira Bayma, atualmente Unidade Escolar Colares Moreira. A ilustre Mestra Filomena Catarina Moreira foi a sua primeira professora. Concluiu com brilhantismo o antigo primário, na sua terra natal.

Parou os estudos por algum tempo, devido não existir Curso Ginasial em Codó. Cedo, ainda, começou a lecionar como ?professora leiga?, na Escola Gomes de Sousa, criada na gestão do prefeito Ramos Pires. Em 1935, foi para São Luis reiniciar os estudos; preparou-se para o Exame de Admissão, sendo aprovada com excelentes notas. Com dois anos apenas, cumpriu toda a carga horária correspondente ao antigo ginásio. Em 1941, conclui com destaque o Curso Normal.

Já diplomada em 1942, retornou a Codó, passando a lecionar em várias escolas na sede, inclusive na zona rural (Povoado Cocos). Em abril de 1947 a Escola Luis Rêgo passou a denominar-se de Grupo Escolar João Ribeiro, onde lecionou por algum tempo, até ser designada diretora da referida escola, substituindo a professora Marita Bayma. Em 1952 foi fundadora do antigo Ginásio Codoense; membro do Conselho da CNEC local. Além de Professora de História do mesmo colégio até a década de 1970, teve uma participação muito significativa na criação da Escola Normal Ginasial de Codó, em 1965 e foi escolhida como diretora. Em 1984, a Escola Normal Ginasial de Codó recebeu uma nova denominação, de Colégio Imaculada Conceição de Maria e continuou na sua direção por muito tempo.

Sendo filha de político, não fugiu a regra. Atuou como vereadora na legislatura 1965 a 1970, e representou com muita dignidade e altruísmo a mulher codoense na Câmara Municipal. Ainda, como política, foi candidata à vice-prefeita em 1982 na chapa encabeçada por José Inácio Guimarães Rodrigues, defendendo sempre a sigla partidária do PMDB. Professora Carmita, como era chamada carinhosamente, mesmo aposentada, continuou falando sempre em Educação, sua filosofia de vida. Na administração do Prefeito Antonio Joaquim, a ilustre professora foi homenageada com a construção de uma escola, à Rua Valter Zaidan, ostentando o seu nome.

Luiza D'lly Alencar de Oliveira

Nasceu na cidade de Água Branca, filha de Luis Carlos Alencar e de Adália Anália Alencar. Casada com Evanildo Gomes de Oliveira. Dedicada aos estudos, iniciou a sua formação escolar no Grupo Colares Moreira. Em seguida, cursou o Ginásio Codoense e o 2º Grau na Escola Técnica de Comércio do Maranhão, onde concluiu o curso Técnico em Contabilidade e na Escola Normal Codoense concluiu o Normal e o quarto Adicional (1970/1980). Constam no seu currículo outros cursos de formação e diversas funções públicas desempenhadas, como por exemplo: Curso Superior em pequena Licenciatura em Pedagogia em 1984 e Licenciatura Plena em Pedagogia, cursado já no campus VII da Universidade Federal do Maranhão, em Codó, concluído em 1994.

Exerceu também funções em escolas particulares do município, a citar, professora por duas vezes na Escola Santa Filomena (Associação das Irmãs Missionárias Capuchinhas- O Convento) pela primeira vez em 1972 e a segunda em 1986. Luiza D'lly enquanto Secretária de Educação e Cultura do Município de Codó criou a 1ª bandeira de Codó por ocasião dos 75 anos da cidade, para ser hasteada em 16 de Abril de 1971 e o hino codoense, diga-se de passagem, com uma bela letra e melodia.

Observando a história e o perfil destas ilustres professoras nascidas ou não em Codó na temporalidade de 1940 a 1970, podemos destacar alguns fatores importantes desse período, que nos chamam a atenção. Primeiro, a maioria destas professoras eram indicadas ou como prefere dizer o professor Carlos Gomes, "eram apadrinhadas" pelos governantes. Muitas vezes, iniciavam sua carreira no magistério ainda "leigas" e só depois, já com experiência em sala de aula adquirida, é que iniciavam uma formação em colégio normal. Como exemplo, podemos citar Luiza D'lly, que iniciou carreira apenas com o curso de contabilidade, sem noções de didática e do perfil de professor, que foi segundo ela adquirindo pouco a pouco. Esse "foi um grande desafio". A única professora a passar por um concurso público de que temos conhecimento, foi Maria Alice Machado, como citado acima em uma de suas falas. Outro fator que merece um olhar especial, é que estas professoras, justamente por serem "apadrinhadas" eram pessoas com um bom nível econômico.

Sobre as disciplinas oferecidas no curso normal cursadas por elas, podemos destacar: Português, Matemática, História Brasileira e Maranhense, Geografia Brasileira e Maranhense, Física, Química, Biologia, Metodologia Geral, Desenho pedagógico, Prática de Ensino, Artes aplicadas, Recreação e Jogos, Música e canto, Metodologia da Linguagem, Metodologia do Cálculo, Metodologia das Ciências, Psicologia Geral Educacional, Sociologia, Filosofia, Administração, Higiene e Educação Moral e Cívica. Essas disciplinas compunham um currículo destinado à formação ideal de acordo com a época vigente para a atuação em sala de aula, com caráter conteudista e muitas vezes, oferecidos com escassez de materiais didáticos.

Enquanto regentes de sala de aula, cumpriam o Programa de Instrução Pública com o seguinte desenvolvimento: Leitura e Interpretação, Linguagem Oral, Linguagem Escrita, Cálculo, Ciências Físicas Naturais, Ciências Sociais, História e Instrução Cívica, Música e Canto, Técnicas Manuais, Educação Física, Atividades do pelotão de saúde, Clube agrícola e Cooperativa Escolar.

Os principais desafios enfrentados pelas normalistas deste tempo foram a precarização de espaços, de material didático, de transportes e também, talvez o mais difícil, de convencimento as muitas famílias pobres do município sobre a importância da educação para o desenvolvimento da cidade. Salientamos neste momento, o quadro de discentes da época, filhos da então elite da cidade; hoje, médicos, advogados, prefeitos, vereadores e muitos e memoráveis professores. Ainda assim, as normalistas venciam os desafios e conseguiam aos seus passos trabalhar por uma educação de qualidade. Sobre este desempenho, encontramos nos manuscritos soltos do Grupo Escolar Colares Moreira, o seguinte elogio de um inspetor do Estado, talvez chamado, pela leitura da velha anotação, Amancio Matos, datado em vinte de Agosto de 1942: "É digno de louvor o trabalho das professoras do grupo escolar Colares Moreira pela sua eficiência e ordem nos serviços da estatística educacional".

Em relação ao status social de ser professor, percebemos um reconhecimento diferenciado dos dias de hoje. Ser professor significava realmente para a sociedade, ser instrumento de mudança e símbolo de respeito, pois, ao ensinar/instruir, o aluno aprendia e reconhecia o professor como um mestre. Exemplos desse prestígio são as escolas do município, que ostentam em suas fachadas os nomes de algumas das professoras aqui citadas.

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Como referenciar: "Análise de 1940 a 1970: Espaços e Desafios das Mulheres Construtoras da Educação no Município de Codó-Ma" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 17/05/2024 às 03:13. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/analise_1940_1970/index.php?pagina=3