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As Práticas Educativas na Educação de Jovens e Adultos (página 2)


AS PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

O professor continua sendo indispensável em sala de aula sendo necessária sua presença, porém não para uma mera transmissão de conteúdos, pois se torna fundamental que o professor na EJA seja um educador democrático, sempre reforçando as capacidades críticas de seus educando, incentivando suas capacidades possibilitando que o aluno tome posse de novos conhecimentos.

O educador da EJA precisa por obrigação ser um ser investigador, que saiba explorar o lado crítico do aluno, ser humilde para entender as necessidades de cada um, afinal o sujeito da EJA traz um diferencial consigo, um deles é sua vasta experiência de vida.
Transmitir um conteúdo pronto é um ato simples que muitos poderiam fazer, mas ensinar vai muito além de transmissão de conteúdo, é ensinar o sujeito educando a pensar criticamente, a buscar.

Na EJA é imprescindível professores com conhecimentos sobre os assuntos a serem tratados nessa modalidade, professores com auto senso de crítica que possibilite que seus educando também se apropriem o máximo possível do conhecimento, pois muitas vezes há diversos profissionais intelectuais, leitores ativos que apenas repassam fielmente o que está nos livros. Esses alunos precisam de professores que entendam sobre sua realidade que não repasse apenas os mesmos conteúdos que estão nos livros de forma mecânica sem se preocupar com o cotidiano desse aluno, é necessário ensinar os educandos de forma dialética com intenção de possibilitar que os educandos tomem posse da leitura e da escrita e que pensem criticamente.

A leitura que é feita apenas por fazer ou apenas com intuito de memorizar se torna ineficiente, pois o ato da leitura exige muito mais, é necessário ler e contraler. Demo (2007, p. 23), nos mostra que:

O desafio social da leitura detém, como nódulo central, a habilidade de contraleitura, porque é com ela que podemos, com base na habilidade de brandir a autoridade do argumento, não só ir além do argumento e da autoridade, mas principalmente cultivar o saber de pensar melhor e intervir. Ler significa tanto compreender significados quanto atribuir significados alternativos ao mundo, emergindo o leitor/autor.

O aluno já traz um conhecimento, devido sua experiência de vida, o educador precisa usar esses conhecimentos já existentes e transformá-los em novos conhecimentos. Pinto (200, p. 99) traz sua contribuição afirmando que:

No âmbito das técnicas de ensino, é possível apresentar ao educando imagens de seu próprio modo de vida para que ele possa observar, discutir e abrir caminho para a reflexão crítica. Dessa forma, a "alfabetização decorre como consequência imediata da visão da realidade, associando-se a imagem da palavra à imagem de uma situação concreta".

Todo e qualquer tipo de ensino exige pesquisa por parte do educador, é através dela que surgem novas buscas de conhecimentos, novos saberes, novos pontos de interrogação, é nela que também nos apresenta respostas de nossos questionários.
É necessário que o professor entre na realidade do aluno, pois em grande maioria a EJA são alunos que vem de classes populares, de lugares que pouco é visto pelos olhares dos poderosos. É preciso que através da realidade que o aluno se encontra inserido, ensiná-lo a fazer críticas de situações que devem ser mudadas. Souza (2011, p. 114) diz que:

Na concepção dialógica/ problematizadora da educação e da EJA existe uma preocupação com o desenvolvimento da consciência política, mediante o trabalho coletivo e a valorização da prática social dos sujeitos do processo educativo. Assim, a alfabetização não deixa de ser a aquisição de um padrão convencional de escrita, leitura, ortografia etc., porém torna-se também a busca pela interpretação dos conteúdos ideológicos que envolvem as palavras e o discurso. Do mesmo modo, a continuidade dos estudos é uma forma de caminhar em direção à prática de emancipação humana.

 Durante muito tempo foram discutidos os melhores caminhos para erradicar o analfabetismo, a EJA foi marcada por interesses políticos, Souza (2011, p. 116) cita que:

Durante muito tempo, a educação de adultos esteve à margem do debate sobre a educação pública. Ao longo do século XX, o analfabetismo foi tratado como um mal que assolava a sociedade e que precisava ser erradicado, era preciso diminuir a "ignorância" e formar um "coletivo eleitoral" que viesse responder aos interesses da elite política, segundo o ideário político daquele momento.


A escola não deve pensar que o seu único dever é transferir conteúdos aos seus alunos sem um objetivo, sem uma intencionalidade, não é esse o professor que a escola realmente precisa, é preciso que a escola tenha educadores que vão muito além de transmissores de conteúdos, pois é obrigação do professor levar o aluno a pensar criticamente, sobre as problemáticas que lhes são apresentadas.

Ao ensinar o professor também deve proporcionar ao aluno o direito a liberdade de expressão, ou seja, permiti-lo fazer indagações, ou até mesmo discordar. O aluno não precisa sempre concordar com o professor, aliás, discordar também faz parte da formação crítica do aluno, afinal o professor está ali para fazê-lo sujeito crítico, pensante, dono de sua vida e não um sujeito submisso, pois é na escola umas das principais instituições onde o aluno será sendo encaminhado para vida, para exercer seus direitos e deveres de cidadão, de nada adiantaria se o professor tirasse o direito do aluno de se expressar, concordar ou não, tirando o direito de dar sua opinião, sendo na escola um dos principais lugares onde se fala em democracia.

O professor ao ensinar um conteúdo ao aluno não deve fazê-lo perder sua identidade cultural, mas preservá-la, pois faz parte desse aluno. Freire (1996, p. 23) ressalta sobre sua importância:


A questão da identidade cultural, de que fazem parte a dimensão individual e a de classe dos educandos cujo respeito é absolutamente fundamental na prática educativa progressista, é um problema que não pode ser desprezado. Tem que ver diretamente com a assunção de nos por nós mesmos. É isso que o puro treinamento do professor não faz, perdendo-se e perdendo-o na estreita e pragmática visão do processo.

Todo e qualquer conhecimento que o aluno traz consigo de forma alguma deve ser desconsiderado ou desvalorizado, um simples gesto do professor pode despertar quase que de forma mágica o interesse no aluno.

Muitas vezes esse aluno da EJA, já com certa idade, pouco tempo de estudo e pouco tempo para estudar, precisa de um incentivo, de uma palavra amiga do professor, é preciso entrar mais afundo na vida do educando, com real interesse, fazê-lo sentir-se interessante, útil, buscando conteúdos apropriados a esses alunos, Dalla Vale (2011, p. 144) diz que:

Como primeira recomendação, é preciso compor uma proposta pedagógica adequada a esse grupo etário tão distinto entre si, mas tão diferenciado do grupo de crianças em idade de alfabetização. Cabe, então, caracterizar o perfil do aluno dessa modalidade de ensino.

Por terem pouco frequentado a escola já não se sentem valorizado, é na escola que vão buscar essa valorização, portanto o professor não deve ser um mero transmissor de conhecimentos, está ali somente por estar, para cumprir uma obrigação, pois seu dever vai muito, além disso. O aluno já está frequentando as aulas por querer mudar sua realidade muitas vezes sofrida, árdua, mesmo diante de tantas dificuldades ele mostra esforço para aprender a ler, escrever, calcular.

Nesse sentindo que o professor precisa se adequar as necessidades dos alunos, possibilitando uma melhor aprendizagem, baseado em aulas claras e objetivas, trabalhando o universo do aluno, uma vez que na EJA não se deve optar por modelos tradicionais onde era o aluno quem deveria se adequar ao professor.

 É preciso que o professor busque no aluno as metodologias os conteúdos a serem trabalhados, de forma que o faça sentir-se envolvido nas aulas, onde ele mesmo consiga criar uma autonomia afim de que leve também para fora das aulas, que leve para vida.
Ser professor da EJA é entrar afundo na vida desses alunos, no seu cotidiano, é explorar nesse o aluno o que ele tem de melhor, é quebrar mitos e preconceitos, é prepará-lo de forma diferenciada para vida. É necessário que o professor faça uma reflexão crítica sobre sua prática.

Freire (1996, p. 25) fala sobre seu pensamento a respeito do docente:

O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser "educado", vai gerando coragem.

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Como referenciar: " As Práticas Educativas na Educação de Jovens e Adultos" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 17/04/2024 às 21:15. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/as_praticas_educativas/index.php?pagina=1