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As Práticas Educativas na Educação de Jovens e Adultos (página 3)


Na EJA apenas o falar bonito, não é o mais importante muito menos o suficiente, o professor deve usar historias reais com pessoas reais, trazendo à tona as realidades dos educando. Podemos usar como exemplos alunos pedreiros que tem que lidar diariamente com soma de quantidade de materiais utilizados em construções ou a dona de casa que lida diariamente com serviços domésticos, com quantidade de ingredientes usados em um bolo, quanto irão gastar no supermercado. Nada impediria que o professor tomasse um desses exemplos do cotidiano de cada aluno, usando a favor da aprendizagem do aluno, pois este se sentiria mais a vontade, sentindo que ele realmente é o foco do esforço do professor. O professor deve respeitar a autonomia de cada aluno, sua linguagem, sua cultura, pois um dos papéis do professor é o respeito pela identidade do seu educando.

Principalmente se tratando da EJA, o professor deve usar o bom senso, muitas vezes esse aluno pode não conseguir entregar um trabalho na data certa, em decorrência das atribulações, responsabilidades diárias. Freire (1996, p. 25):

vigilância do meu bom senso tem uma importância enorme na avaliação que, a todo instante, devo fazer de minha prática. Antes, por exemplo, de qualquer reflexão mais detida e rigorosa é o meu bom senso que me diz ser dão negativo, do ponto de vista de minha tarefa docente, o formalismo insensível que me faz recusar o trabalho de um aluno por perca de prazo, apesar das explicações convincentes do aluno, quanto o desrespeito pleno pelos princípios reguladores da entrega dos trabalhos.

O professor é quem está ali para orientar o educando, é preciso que professores e alunos formem um vínculo de amizade, é através desse vínculo que se torna possível à aprendizagem.

É a realidade desses educandos que por muitas vezes cruel, que o professor deve lutar em prol, fazendo sempre o possível para que haja essa mudança, o professor precisa fazer com que esses alunos vindo de lugares com poucos recursos, pouco visto pela sociedade reconheçam que essa realidade pode ser mudada, mas para isso é preciso que reconheçam seus direitos e o professor deve fazê-los tomar posse desses reconhecimentos. O que de forma alguma o professor deve é se acomodar, aceitar que a realidade é essa mesma, que não pode ser mudada.
 
De nada adianta o professor pregar direitos iguais para todos, se nem ao menos dá o direito ao aluno que está ali presente de escolher o que deseja aprender, como se o professor é quem fosse o centro das atenções.

O professor deve provocar a curiosidade no educando, fazendo-o ir à busca de novos desafios que mais tarde tornarão novos conhecimentos. Ser educador é entrar no mundo do educando, redescobri-lo, ajudando a suprir suas necessidades.

O educador deve pensar constantemente em sua prática educativa, no seu papel de fazer com que o aluno aprenda de forma eficaz.

A preocupação do professor não deve ser de fazer com que o os alunos dominem conhecimentos tradicionais, mas conhecimentos que realmente façam sentido. É de grande importância que o professor não pense no aluno da EJA como alguém ignorante sem conhecimento sobre o mundo, portanto os conteúdos não devem ser ensinados da mesma forma que se ensina crianças, outro exemplo que podemos tomar são as cantigas e parlendas usadas na alfabetização de crianças, podendo ser substituídas por poesias, mais apropriadas para os leitores mais velhos. Freire (1976, p. 46) faz uma reflexão sobre o assunto:

 "A asa é da ave. Eva viu a uva, o galo canta, o cachorro ladra, são contextos linguísticos que, mecanicamente memorizados e repetidos, esvaziados de seu conteúdo enquanto pensamento-linguagem referido ao mundo, se transformam em meros clichês".

Freire (1976, p. 48) ainda cita que: "Um processo de alfabetização dessa natureza reforça a mitificação da realidade, fazendo-a opaca e embotando a consciência dos educandos com palavras e frases alienadas".

O ensino da EJA não deve ser pautado num conteúdo instrumentalista, mas dialógico. Grande parte dos programas da EJA no Brasil apresentam materiais didáticos é nessa perspectiva que deve ser feita reflexões se realmente o conteúdo ali proposto é adequado para aqueles alunos, se forem conteúdos que ao invés de motivar, dificultam a aprendizagem do aluno, é quase certo que esse aluno perderá o interesse e desistirá de terminar os estudos e isso vai gerando mais defasagem escolar. Souza (2011, p. 117), afirma que:

Numa concepção instrumental de educação, a preocupação central é que o aluno domine os conhecimentos escolares tradicionais. Na concepção dialógica, a preocupação central é que o aluno possa trabalhar com os conhecimentos que tenham significado sociocultural, e dessa lógica os conteúdos emergirão do mundo cotidiano e ganharão complexidade à medida que forem debatidos no grupo. A educação e a alfabetização constituem, portanto, o ato de conhecimento que emancipa e que motiva para realização de ações modificadoras do meio.


O professor da EJA deve ter uma boa formação para está atuando com esses alunos, os conhecimentos que ele tem em educação infantil, por exemplo, não se aplica a EJA ou se aplica parcialmente. Souza (2011, p. 133) diz que:

Ao educador cabe informar-se. É assim que poderemos ter um mundo melhor, desatando os "nós" da educação e fortalecendo-nos como seres humanos que pensam, criam e recriam conhecimentos. Educação como ato de conhecimento implica disposição para fazer diferente, pensar diferente e construir algo novo.


O professor deve está sempre atento às necessidades do aluno, olhar para esse aluno, procurando entendê-lo, ouvi-lo, sempre discutir com os alunos e outros profissionais da área o melhor caminho a ser tomado, assumindo com profissional libertador, respeitando-o, valorizando-o, sempre com intenção de trazer melhorias a esse educando, fazendo com que o mesmo pense criticamente sobre todas as situações onde possa intervir.

Quando não se leva em conta as especificidades do aluno da EJA ele acaba por perder a motivação porque sente a escola como algo muito distante da realidade do seu dia a dia.
O professor não deve ter um papel de quem ocupa uma posição de comando, mas de um profissional que atua de forma competente fazendo com que de fato esses alunos aprendam. Freire (1976, p. 49) aponta que:

Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos demanda, entre educadores e educando, uma relação de autêntico diálogo. Aquela em que os sujeitos do ato de conhecer (educador-educando; educando-educador) se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido. Nesta perspectiva, portanto, os alfabetizandos assumem desde o começo mesmo da ação, o papel  de sujeitos criadores. Aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas de refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem [...] Enquanto ato de conhecimento, a alfabetização, que leva a sério o problema da linguagem, deve ter como objeto também a ser desvelado  a relações dos seres humanos com o mundo.


O educador precisa mostrar interesse pelo conhecimento, ou seja, em cada vez mais buscar novos conhecimentos e mostrando interesse pelo aluno, pois os alunos da EJA sendo maior parte das vezes pessoas com poucos recursos, tendo que trabalhar muitas vezes excessivamente para dar sustento à família, essas pessoas precisam de uma atenção especial, de um encorajamento por parte do educador, possibilitando sempre interesse em mudar o rumo da sua historia.  Souza (2011, p. 142) cita que:


Respeitar o educando a si próprio como sujeito do conhecimento. Ou seja, adotar a postura de sujeito pensante, criativo. Superar as atitudes de mera repetição de conteúdos que muitas vezes nem foram compreendidos. O educando possui um conjunto de experiências que podem ser conhecidas e reconhecidas no processo educativo. Por sua vez, o educador possui experiências e capacidade para problematizar os relatos trazidos pelos educandos, além de criar um ambiente propício à dialogicidade em sala de aula. A valorização da cultura dos educandos e da própria sociedade como constitui fonte de problematização dos conhecimentos.

O profissional da EJA quando se perguntar o que é analfabetismo jamais deve ter responder que isso é totalmente culpa do indivíduo e não culpa de suas condições de vida. Por muitos anos esses indivíduos não tiveram oportunidades de estudar, até a década de 1960 era aproximadamente metade da população era analfabeta e isso não se devia a própria vontade do indivíduo, havia impedimentos muito maiores que isso, existia pouquíssimas condições de vida para que de fato pudessem ser alfabetizados.
E por muito tempo se empregou a ideia que gente analfabeta era incapaz de fazer algo certo, eram vítimas de preconceito, como se servissem apenas para trabalhos braçais e não para pensar. Durante muitos anos mesmo quando o governo se conscientizou que para haver uma sociedade civilizada era preciso acabar com analfabetismo, ainda assim, a forma de ensino era muito limitada, baseada apenas em memorização, não era uma intenção verdadeira de fazer com que essas pessoas pensassem criticamente. Segundo Souza (2011, p. 21):

Durante muito tempo, a EJA teve o intuito de superar o atraso daqueles que não sabiam ler nem escrever, adotando uma concepção instrumental de educação, sem levar em conta a experiência de vida dos trabalhadores. Havia o interesse político de "erradicar" um dos males do subdesenvolvimento, mas não o de provocar rupturas para superação dos reais problemas sociais estruturais da sociedade brasileira, como concentração de terras.

O aluno da EJA ao ser inserido no contexto escolar precisa se sentir auto realizado, é preciso que tenha suas necessidades atendidas, pois esses alunos ao se sentir excluídos acabam desistindo de frequentar as aulas provocando cada vez mais atraso escolar, isso faz com que a EJA continue sendo uma modalidade para jovens e adultos que não terminaram os estudos, quando realmente todos deveriam concluir os estudos no ensino regular.

É preciso explorar o máximo possível o universo desses alunos, possibilitando uma aprendizagem significativa, fazendo com que esses alunos pensem de forma crítica, transformadora. Pois os alunos da EJA foram marcados por grande processo de exclusão que por muitas décadas não puderam ter acesso à escola por vários motivos, por interesses políticos, por mais da metade da população pertencer a zona rural e ter difícil acesso a escolarização.

A alfabetização de jovens e adultos não deve ser a mesma ensinada a crianças, pois essa concepção tradicional de tratar alunos com grande experiência de vida como criança não deve ser exposta a essas pessoas, pois diferente das crianças, já possuem grande conhecimento do mundo, é preciso haver uma aproximação grande entre aluno e professor. Todos os conhecimentos sobre letramento devem ser aplicados a EJA, deve-se alfabetizar letrando. Souza (2011, p. 130), diz que:

Concepção tradicional de ensino é alfabetização de adultos é caracterizada como semelhante à educação das crianças, e passa a existir uma preocupação excessiva com técnicas de ensino; os conteúdos são descolados da realidade social dos educandos; há distanciamento entre professor e aluno, bem como uma concepção técnica da oralidade, da escrita e da leitura, sendo estas últimas compreendidas como processo de decodificação de símbolos.

O professor deve possibilitar o aluno para que ele tome posse da leitura e da escrita de forma ampla, onde possa dominar plenamente. O aluno da EJA precisa ter possibilidades de se inserir no universo do mundo letrado, onde o aluno se sinta realizado.

Contudo isso o educador deve entrar numa concepção de ensino que, valorize esse aluno, fazendo-o sentir-se valorizado, capaz de aprender, de até ensinar. Portanto cabe ao professor transformar a vida desses alunos, com um trabalho sério em prol da melhoria de vida dessas pessoas, que muito tem para ensinar.

Facilitando a aprendizagem desse aluno, sempre trabalhando o dia a dia deles, com conteúdos conhecidos para que possam familiarizar os conteúdos com sua vida cotidiana, para que se sintam nesse universo da EJA ao invés de sentirem-se fora de todo esse contexto criado para esses alunos.

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Como referenciar: " As Práticas Educativas na Educação de Jovens e Adultos" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 28/04/2024 às 05:08. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/as_praticas_educativas/index.php?pagina=2