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Avaliação Educacional: um Estudo das Perspectivas Tradicional e Construtivista na Visão Docente (página 3)

VISÃO TRADICIONAL DA AVALIAÇÃO

Os exames e as provas escolares como práticas de avaliação foram empregados a partir do século XVII, no que se acordou chamar de "Pedagogia Tradicional". No entanto, segundo Moretto (2005, p. 92), "a memorização certamente tem seu lugar no processo da aprendizagem." Podemos dizer que as práticas de avaliação sob a forma de exames e provas, usadas em colégios católicos da Ordem Jesuítica e em escolas protestantes, a partir do século XVII tinham como centro a memorização, a punição do erro e a busca do acúmulo de informações. A avaliação tradicional, que está centrada em provas, notas e boletins, ainda predomina na maioria de nossas escolas. Mas esse processo vem sofrendo muitas mudanças e, aos poucos, vêm surgindo novas experiências.

A verdade é que há um sério descrédito em relação às escolas inovadoras e o sistema de avaliação é um dos focos principais de críticas da sociedade, uma vez que se constitui em componente decisivo na questão resultados, ou seja, produto obtido, em educação. (HOFFMANN, 2008, p. 13)

Portanto, é preciso compreender que avaliar é muito mais do que aplicar um teste, uma prova, fazer uma observação. O essencial não é mais saber se um aluno merece ter aquela nota, ou aquele conceito, mas fazer da avaliação um instrumento, auxiliar em um processo de conquista do conhecimento. É necessário estacionar a ideia de que o aluno precisa pagar por suas tarefas de aprendizagem.

As funções da avaliação no campo da prática escolar é o de compreender as funções específicas, explícitas ou implícitas, da avaliação da aprendizagem escolar no contexto da educação, sempre relacionando essas funções a uma determinada concepção de educação. (ISCHKANIAN, 2014, p. 10).

Então cabe ao ensino tradicional que o professor transmita o conhecimento ao aluno. Mas se fosse no ensino construtivista o professor seria o mediador desse conhecimento, na verdade a ênfase seria dada ao aluno, não ao professor. Para um ensino de qualidade é preciso ultrapassar as barreiras do tradicionalismo para que a sociedade deixe de ser alienada das suas reais condições e busque uma "revolução" através da educação. A avaliação mediadora, de acordo com Hoffmann (2008), exige que se preste muita atenção no aluno, que passe a conhecer a criança, ouvir suas considerações, propor-lhe perguntas novas e desafiadoras, guiando-o por um caminho voltado à autonomia moral e intelectual, pois estamos vivendo um momento caracterizado por uma infinidade de fontes de informação. Por isso que a busca coerente de uma concepção educativa possa ser prática. Sá fala que:

A visão da concepção pedagógica é a busca pela essência do homem e para realizar as suas inferências coloca o professor como o centro de todo o processo educativo, mantendo a visão no desenvolvimento do intelecto, na imposição da disciplina como parte fundamental para o sucesso educacional, na memorização dos conteúdos como forma de apropriação dos conhecimentos tidos como essenciais. (SÁ, 2014, p. 02)

O conceito da avaliação somativa tem como objetivo normalizar o registro, ou seja, uma forma de expressar por meio de notas ou conceitos sobre o comportamento do aluno. "A avaliação possui funções diferentes e que devemos usá-las de acordo com as necessidades da escola, do professor ou do aluno". (ISCHKANIAN, 2014, p. 10)
Podemos falar que há vantagens e desvantagens na avaliação somativa:

As vantagens da avaliação somativa permitem que o aluno perceba seu progresso através de um resultado mais fácil de ser lido: o resultado numérico. Esse instrumento de avaliação também serve como uma amostragem do que foi ensinado e aprendido, verificando o quanto os alunos incorporaram os objetivos propostos e fornecendo informações que permitem que o estudante passe ou não para o próximo nível. Além disso, a avaliação somativa atende a uma demanda da sociedade que pede provas documentais de aprendizado. (OLIVEIRA, 2015, p. 02)

Então podemos dizer que a sociedade e a família precisam de um documento que classifique o aluno ao final do ano letivo. Com isso ele deve memorizar o conteúdo do ano inteiro, e o conhecimento de indivíduo onde fica?

Desvantagens da avaliação somativa é que, por ser uma amostragem do que foi aprendido, uma pessoa que não esteja se sentindo bem no dia da avaliação, por motivos diversos, pode ter um desempenho inferior ao que normalmente teria ou superior porque decorou um monte de coisas na véspera. Nesses casos, o resultado jamais será 100% fiel ao desempenho real do aluno. Uma avaliação somativa acaba medindo o momento da "fotografia', então pode sair nebulosa. (OLIVEIRA, 2015, p. 02)

Fica claro que ainda temos que evoluir muito no sentido da compreensão sobre a prática de avaliação, mas se o professor entender que avaliação e um processo contínuo, ele cria estratégias e critérios para sua prática de avaliar o aluno em sala de aula. Portanto não podemos deixar de falar do Enem /Pisa, por serem as mais importantes avaliações de larga escala, no contexto brasileiro e mundial, respectivamente.

A partir de 1998, o ENEM passou a ser aplicado anualmente e seus critérios se delineavam na avaliação por competências. Até 2008, o exame avaliava cinco competências e 21 habilidades contidas em uma matriz de referência. Três áreas de conhecimento eram avaliadas - Linguagens e Códigos e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias - através de 63 questões denominadas "interdisciplinares" e "contextualizadas" (BRASIL, 2005).
      
Segundo artigo publicado na página da Editora Saraiva:

No mês de janeiro deste ano, a imprensa divulgou e comentou com voracidade os resultados do Enem 2014.  De 6,2 milhões de estudantes que fizeram o exame, apenas 250 conseguiram alcançar a nota máxima, com 1000 pontos. Por outro lado, 529.373 tiveram nota zero na redação e não poderão participar dos programas que aceitam a nota do Enem. Os piores resultados concentram-se na rede estadual de ensino, em todo o país. Em abril de 2014, foram divulgados os resultados do PISA, no qual os jovens brasileiros, na prova de leitura, ficaram na 55ª posição do ranking de leitura, abaixo de países como Chile, Uruguai, Romênia e Tailândia. Segundo o relatório da OCDE, parte do mau desempenho do país pode ser explicada pela expansão de alunos de 15 anos na rede em séries defasadas. A análise do relatório mostra que quase metade (49,2%) dos alunos brasileiros não alcança o nível 2 de desempenho na avaliação que tem o nível 6 como teto. Isso significa que eles não são capazes de deduzir informações do texto, de estabelecer relações entre diferentes partes do texto e não conseguem compreender nuances da linguagem. (CEREJA, 2015)

Assim podemos entender o quão caótica é a situação dos exames em larga escala no Brasil, que além de definirem o futuro acadêmico dos estudantes, ainda rotulam os países como mais ou menos competentes. Por isso uma nova abordagem é necessária.

VISÃO CONSTRUTIVISTA DA AVALIAÇÃO

Construtivismo, na visão de Becker (1992, p. 88), é a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento.

Então pensar em avaliação construtivista é ser coerente e ter uma concepção de educação numa perspectiva de construção do conhecimento, que considera o aluno como sujeito e centro de toda a ação educativa. Segundo Luckesi (2000, p. 1):

O ato de avaliar, devido a estar a serviço da obtenção do melhor resultado possível, antes de mais nada, implica a disposição de acolher. Isso significa a possibilidade de tomar uma situação da forma como se apresenta, seja ela satisfatória ou insatisfatória agradável ou desagradável, bonita ou feia. Ela é assim, nada mais. Acolhê-la como está é o ponto de partida para se fazer qualquer coisa que possa ser feita com ela. Avaliar um educando implica, antes de mais nada, acolhê-lo no seu ser e no seu modo de ser, como está, para, a partir daí, decidir o que fazer.

Com isso o aluno é permanentemente acompanhado, pois a avaliação é entendida como um processo contínuo, diferente do sistema de provas periódicas do ensino convencional. Segundo os construtivistas, a avaliação tem caráter de diagnóstico e não de punição, de certo ou errado, de exclusão. Ou seja, o resultado disso é que a professora se autoavalia o tempo todo.

(...) a avaliação se constitui por múltiplos entrecruzamentos, de modo que também se formulam críticas ao caráter redutor dos modelos quantitativos e produtivistas, o que expressa a existência de outros significados para a avaliação no processo ensino-aprendizagem. Assumida como prática social complexa, a avaliação encontra fundamentos que remetem a um pluralismo epistemológico, expressão da multiplicidade do pensamento crítico no movimento de (re)articulação entre os sujeitos nos diferentes processos sociais de produção de conhecimento. Tal perspectiva conduz à reflexão sobre as relações entre o estabelecimento de hierarquias escolares, os processos sociais de subalternização de sujeitos e grupos sociais e os resultados traduzidos como fracasso escolar. Assim, emergem as dimensões reflexiva, dialógica e crítica da avaliação, visando à ampliação dos conhecimentos dos sujeitos e comprometida com a compreensão, aperfeiçoamento e realização da dinâmica pedagógica, e faz-se notar o caráter ético e político das decisões a ela articuladas. (ESTEBAN, 2010, p. 7).

Uma professora construtivista precisa ter uma mente aberta, atitude investigativa, sensu crítico. O modelo estrutural do currículo de um professor por competências deve contemplar a flexibilidade, a interdisciplinaridade e a contextualização. Como define Moretto (2005, p. 45): "Um dos fatores importantes para o sucesso no ensinar é o professor estabelecer clareza e precisão de seus objetivos de ensino".

No caso, Luckesi diz que:

Um processo verdadeiramente avaliativo é construtivo. Ao final de um período de acompanhamento e reorientação da aprendizagem, o educador poder testemunhar a qualidade do desenvolvimento de seu educando, registrando esse testemunho. A nota serve somente como forma de registro e um registro é necessário devido nossa memória viva ser muito frágil para guardar tantos dados, relativos a cada um dos estudantes. Não podemos nem devemos confundir registro com processo avaliativo; uma coisa é acompanhar e reorientar a aprendizagem dos educandos outra coisa é registrar o nosso testemunho desse desempenho. (LUCKESI, 2004. p. 04)

É fundamental pensar que avaliar não é mensurar, e não podemos misturar avaliação educacional como classificação do rendimento escolar. É importante dizer que a avaliação deixe de ser ferramenta de julgamento, seleção e exclusão social, portanto, que se torne instrumento para professores e gestores implicados com a construção coletiva de uma escola de qualidade para todos.

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Como referenciar: "Avaliação Educacional: um Estudo das Perspectivas Tradicional e Construtivista na Visão Docente" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 27/04/2024 às 02:38. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/avaliao_educacional_um_estudo_das_perspectivas_/index.php?pagina=2