Agricultura e Ensino na Amazônia do Século XIX: A Escola de Primeiras Letras na Colônia Benevides (página 4)
Nos dizeres dos administradores a prática extrativa era o principal obstáculo para a propagação do ensino na região. Dentre as atividades extrativas, a borracha aparecia com a grande vilã, por afastar as crianças das escolas durante o verão, ou seja, no segundo semestre de cada ano, quando intensificava os trabalhos de extração do látex. Nesse caso, o diretor de instrução pública do Pará em 1877, Joaquim Pedro Corrêa de Freitas, lamentava que em boa parte das escolas fosse pouco concorrido à freqüência de alunos devido o período de colheita da borracha, quando os povoados eram abandonados por muitos de seus habitantes. Os estudos sobre a instrução nas diversas localidades do Pará, incluindo as escolas implantadas nos núcleos coloniais, realizado pela diretoria de instrução pública confirmariam que a atividade extrativa seria o grande obstáculo para o desenvolvimento do ensino. Sobre a questão Joaquim Pedro Corrêa de Freitas identifica que nos locais "em que são mais disseminadas a população, menos frequentadas são as escolas"; outra observação é quanto aos lugares em que a população "entrega-se a extração da borracha"; nesse espaços as escolas, em certa época do ano, "ficam quase despovoadas", ao passo que as escolas implantadas em localidades que vivem da lavoura e da pesca, "estas tem grande número de alunos matriculados, e a frequência nos diversos meses do ano é quase sempre a mesma".
Em 1883 as observações das autoridades provinciais quanto à relação entre a prática extrativista e a educação permaneciam caracterizadas pela contrariedade. Nesse caso, o então visitador de escolas públicas Joaquim Maria Nascentes de Azambuja identificava na atividade extrativa o principal motivo do constante deslocamento das populações pelo interior da província, impossibilitando uma regular frequência dos alunos nas escolas públicas. Afirmava, então, que a "população move-se em busca de um pretendido Eldorado"; "move com açodamento, arrastando consigo mulheres, filhos, agregados, tudo deixando, abandonando as casas de sua residência"; situação que para Joaquim Azambuja eram os fatores responsáveis pela dizimação dessa população, assim como pela falta de estabilidade de seus habitantes; o que "inviabilizaria a implantação de escolas públicas em populações com semelhantes práticas que mais lembravam selvagens do que povos civilizados" (AZMBUJA, 1885, p. 46).
Ao que tudo indica, até o final do século XIX, a "vida nômade" provocada pela extração e fabricação da goma elástica, assim como a colheita de vários produtos, em muito importunará os gestores de instrução pública no Pará. Nesse caso, a população é acusada de viver embrenhada nas matas, onde "as vistas do governo, a ação benéfica e a regular administração da justiça dificilmente podem chegar". Julião Honorato Miranda e Antonio Manuel Gonçalves Tocantins, engenheiros na época à serviço da província do Pará, identificam na criação de estradas e a conseqüente facilitação da comunicação entre as localidades, como uma das soluções para este isolamento; sendo ainda defendido a fixação dos "errantes habitantes da Pará" em espaços de colonização agrícola; o que em parte "facilitaria a educação de seus filhos".
Considerando estas questões diríamos que combater as práticas indígenas era um dos propósitos das escolas na Amazônia. Nesse caso, no espaço dos núcleos coloniais a presença das instituições de ensino marcava um embate entre ações costumeiras dos colonos e os discursos de civilidade empreendidos pelo governo provincial que tinha na estrutura administrativa da colônia e nos professores seus representantes mais diretos. Nesse caso, a escola era utilizada como instrumento de defesa de valores e interesses do governo provincial; valores que não apenas estavam relacionados à idéia de respeito às leis e as autoridades locais, ou ainda a princípios e valores cristãos, há de se considerar que esses espaços eram também utilizados para divulgação de idéia quanto a superioridade da prática agrícola em relação a extrativa; numa visível demonstração da necessidade de ampliar as áreas de produção de alimentos na província e assegurar a permanência dos colonos nessas áreas de cultivo.
Tratava-se, portanto, de um embate entre as representações do que se considerava como selvagem e atrasado e o que era concebido como moderno e civilizado. Nesse caso, os discursos oficiais, quase sempre opunham, quando discutiam a instrução pública na Amazônia, a atividade agrícola da prática extrativa; nesse caso, recomendavam veementemente o domínio do cultivo sobre a coleta. Estes debates apresentavam um cenário amazônico de luta pelo avanço do progresso e da civilização sobre a natureza e a barbárie de seus habitantes, os índios, os caboclos, os mestiços. Esta oposição, guardadas as devidas proporções, não deixava de afetar a educação da população e a solução apontava para aquilo que consideravam como "vitória das armas da vida civilizada". Os engenheiros Corrêa de Miranda e Gonçalves Tocantins eram enfáticos na idéia de que a educação mais regular só se viabilizaria com a opção pela lavoura. Neste aspecto, a lavoura implicava na mudança considerada fundamental quanto aos hábitos dos colonos na província do Pará; uma vez que, através da agricultura, estes deixariam a "vida errante" em que estavam habituados.
Embora a lavoura fosse vista como um importante elemento de garantia de fixação do colono em determinada área, pois ao contrário do extrativismo não vai exigir os constantes deslocamento das populações pelo interior da província, na Colônia Benevides, a agricultura vai ter um outro efeito quando relacionado à criação de espaços de instrução pública. A pouca presença de crianças freqüentando o núcleo colonial, associado à baixa freqüência dos que haviam se matriculado era atribuído pelos professores, conforme apontamos anteriormente, à falta de interesses dos pais que deixam de enviar seus filhos, preferindo levá-los para o trabalho na lavoura.
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