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A Aprendizagem Escolar Diante do Déficit de Atenção (página 4)


III- O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E SUAS INTERVENÇÕES

Em crianças diagnosticadas com TDAH, é necessária a ajuda de todos os envolvidos no processo para o desenvolvimento cognitivo, entre eles especialistas, médicos, professores, coordenadores pedagógicos e pais como cita Viaro (2008), sendo necessários vários tratamentos e intervenções para que haja sucesso escolar.

Entre as intervenções, a de organizar o ambiente doméstico e escolar da criança contribui na redução dos problemas ligados à hiperatividade. Alguns fatores importantes podem dificultar o aprendizado das crianças com TDAH, de acordo com Hallowell e Ratey (1999). Eles relatam o drama do distúrbio de aprendizagem agregado ao déficit de atenção (DA) encontrado na persistência do indivíduo para "funcionar" cognitivamente, como também nas desordens que o indivíduo enfrentar em relação à linguagem e ao pensamento, na criatividade, em leituras, assim como na articulação das palavras, e em suas formas de expressão com sentimentos e prazeres. Em controvérsia, existem os prazeres proporcionados por mudanças fantasiosas e criativas.
 
Dentre os transtornos de algumas crianças com dislexia, podem tropeçar em palavras e errar páginas, porém podem se superar quando encontram atividades motivadoras ou que despertem sua curiosidade. Para tal, é imprescindível evitar situações vergonhosas que possam afetar a autoestima. Ainda segundo o autor, muitas vezes os distúrbios de aprendizagem relacionam-se ao problema neuropsicológico, que interfere no desempenho escolar.

São vários os distúrbios que interferem na aprendizagem, como o retardo mental, a dislexia, os transtornos de linguagem, dificuldades de aprendizagem no hemisfério direito (problemas com matemática, caligrafia, artes e cognição social), autismo e memória adquirida (decorrentes de traumatismo craniano ou convulsão). Assim como estes, o transtorno de déficit de atenção, que em companhia de outros transtornos, como a dislexia ou distúrbio de memória adquirida, ou por dificuldade específica de aprendizagem relacionada à matemática (discalculia), ortografia, também interferem no processo ensino-aprendizagem.

Afetando as áreas da cognição, o TDAH intensifica as dificuldades de aprendizagem, mas não impede a função cognitiva. O distúrbio de aprendizagem mais comum é a dislexia, distúrbio que interfere na leitura e escrita da criança. De acordo com Hallowell & Ratey (1999, p.203), "os cérebros de crianças disléxicas parecem ser diferentes dos cérebros normais, possuem nódulos anormais no córtex cerebral que podem interferir no modo como o cérebro percebe e processa os fonemas ou partículas sonoras que formam as palavras". Assim, o processamento fonológico indevido compromete a leitura, ortografia e escrita, caracterizando em dislexia. Por sua vez, o TDAH apresenta atenção irregular, impulsividade e inquietude, que dificulta a leitura, podendo confundir-se com a dislexia. Assim, estes dois distúrbios podem se confundir ou ocorrer de forma independente.

A dificuldade de audição também podem interferir na capacidade cerebral, apresentando dificuldade na percepção do som captado pelo cérebro, devido à dificuldade do córtex cerebral em interpretar o som, dando sentido a ele. O mecanismo Presente no DA (déficit de atenção) ainda é uma incógnita, porém com certeza ele não é um mau comportamento derivado da opinião do indivíduo. Estudos neurobiológicos afirmam que a síndrome parte do sistema nervoso central.

Ainda no século XIX, e antes disso, pela falta de comportamento os professores respondiam aos problemas desafiadores impostos pelas crianças portadoras de TDAH, se tornando controladores e autoritários, adquirindo comportamento defensivo e negativo durante suas interações.

Assim, os professores podem afetar ainda mais a interação e adaptação da criança portadora de TDAH, o que certamente comprometerá suas conquistas pedagógicas e consequentemente as conquistas sociais e acadêmicas do educando, pois adotando esta metodologia o professor tende a reduzir a motivação para o ensino-aprendizagem e diminuir a autoestima. 

É preciso que os educadores estejam preparados, com intervenções eficazes no ambiente escolar, atuando com criança com TDAH. O professor precisa atentar-se e preparar-se para receber possíveis sintomas de TDAH, inteirando-se do quadro de disfunção, solicitando ajuda e apoio da equipe pedagógica, especialistas, médicos e pais para criar estratégias que colaborem o desenvolvimento da criança com TDAH. Segundo Goldstein apud Viaro (2008, p. 213), que apresenta orientações no desenvolvimento da atenção e da linguagem no ambiente escolar:
1) proporcionar estrutura, organização e constância (sempre a mesma arrumação das cadeiras, programas diários e regras claramente definidas);
2) colocar a criança perto de colegas que não a provoquem (perto da mesa do professor, na parte de fora do grupo);
3) elogiar, encorajar e ser afetuoso (essas crianças desanimam facilmente);
4) dar responsabilidades que elas possam cumprir, fazendo com que se sintam necessárias e valorizadas.
5) proporcionar um ambiente acolhedor, demonstrando calor e contato físico de maneira equilibrada;
6) nunca provocar constrangimento ou menosprezar o aluno;
7) favorecer oportunidades sociais e proporcionar trabalho de aprendizagem em grupos pequenos, pois em grupos menores as crianças conseguem melhores resultados;
8) comunicar-se com os pais da criança porque, geralmente, eles sabem o que é melhor para o seu filho;
9) diminuir o ritmo do trabalho e parcelar as tarefas (tarefas de cinco minutos cada trazem melhores resultados do que duas tarefas de meia hora);
10) adaptar suas expectativas relativas à criança, levando em consideração as diferenças e inabilidades decorrentes do TDAH;
11) recompensar os esforços, a persistência e o comportamento bem sucedido ou bem planejado;
12) proporcionar exercícios de consciência e treinamento dos hábitos sociais da comunidade (uma avaliação frequente sobre o comportamento da criança consigo mesma e com os outros, ajudará bastante);
13) estabelecer limites claros e objetivos;
14) facilitar o frequente contato aluno/professor, pois auxilia em um controle extra sobre a criança e possibilita oportunidades de reforço positivo e incentivo a um comportamento mais adequado.
Para o autor, construir estratégias é uma etapa que exige conhecimento e habilidades seguidos de ajustes e modificações frequentes. Para tanto, é preciso apoio especializado, auxílio de profissionais e contato frequente de família, onde devem ser expostos sucessos e insucessos do educando. O profissional precisa estar seguro do que se faz e se conscientizar de seus limites, assim como os do educando.

Como já foi dito, o educando com TDAH desenvolverá e poderá apresentar dificuldades sociais e escolares devido ao processo inadequado daquilo que lhe foi dito ou percebido, provocando sofrimento e ferindo a autoestima. Segundo Viaro (2008), as causas etiológicas do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade são irregulares, causados por fatores genético-familiares, diferenças biológicas e psicossociais e complicações no parto, como pós-maturidade e sofrimento fetal, baixo peso e hemorragia ao nascimento.

Alguns estudos mostram como causa do TDAH fatores ambientais, como presença de transtornos mentais nos pais, baixo nível de educação materna, pobreza, filhos de pais solteiros, conflito paternal crônico, abuso sexual e outros trazem grande influência no diagnóstico da vida da criança. O DA se localiza na biologia do cérebro e do sistema nervoso central, acarretando o mau funcionamento do sistema, provocando comportamentos de hiperatividade, distraimento e impulsividade.

O processo de aprendizagem ocorre dentro e fora da escola. Os pais são agentes responsáveis nas condições emocionais, na educação e no comportamento de seus filhos.

É necessário esclarecer de que o DA e decorrente de disfunções cerebrais, amenizando assim a sensação de culpa, fazendo com que estes por sua vez tornem-se parceiros em estratégias para a melhoria do desempenho escolar e em relacionamentos sociais da criança.

Segundo Rubinstein (1999), muitos profissionais trabalham referindo-se a aprendizagem humana, tema que propõe varias abordagens, pois, este processo de ensino aprendizagem envolve vários fatores e tentativas de explicação.

A ciência por sua vez, classificou e nomeou seus fenômenos, analisando os fracassos cognitivos. Assim, a pedagogia, buscando analisar e tratar as DAs na tentativa de cumprir com seus objetivos, buscou planos de trabalho mais orientado, enfatizando recursos pedagógicos, buscando melhorar o atendimento, auxiliando o aluno com dificuldades.

Chassagny, apud Rubinstein (1999)  nomeia este processo de readaptação como ultra pedagogia, sabendo que a prática relaciona-se com ideias de uma sociedade industrializada e objetivava a qualidade buscando padronizá-la.

Entretanto alguns reeducadores observaram as dificuldades que eram superadas não apenas pelas atividades, mas também devido à relação estabelecida entre o reeducador e o individuo. Hoje é sabido que, no ambiente educacional, não se devem voltar apenas para as dificuldades pedagógicas, onde a linguagem se destaca, pois é o primeiro quadro de dificuldade em que o fracasso se manifesta. O processo ensino-aprendizagem apresenta-se como uma relação de transferência entre os envolvidos onde o educador deve acreditar na possibilidade de mudança do indivíduo e as transformações devem encontrar chances de ocorrer.

Ainda segundo Rubinstein (1999), no ser humano a capacidade de mudança como condição é vital, é a forma de manter o seu equilíbrio, diante dos fracassos escolares e obstáculos em sua vida social. O profissional da educação deve assumir o papel de tolerante mediador nesta condição, adotando medidas planejadas para  desencadear o potencial de aprendizagem.

No âmbito de aprendizagem, o educando precisa assumir o papel de "diferente", aproveitando as possibilidades, assim como se refere Pain (1996), neste processo os objetivos nas práticas educacionais precisam dar à criança a vontade de aprender, haja vista que em algum momento ela perdeu este sentimento. Esta intenção funciona como uma alavanca na construção dos sujeitos, então a importância das metodologias e instrumentos corretos e adequados.

O conhecimento não é imprescindível aos seres humanos, mas se lhe for imposto como carinho e amizade, este pode ser desenvolvido. É por meio da aprendizagem que o indivíduo é inserido na cultura. Para que se possam compreender as dificuldades, é fundamentalmente necessário o conhecimento e a compreensão do processo de aprendizagem.

O indivíduo aberto à aprendizagem e inserido em um contexto sociocultural demanda de objetividade (inteligência) e subjetividade (desejo) para aprender. Este processo engloba as estruturas orgânica e corporal. Qualquer tipo de transtorno neste sistema causa modificações na busca do reequilíbrio, assim este trabalho foi realizado com a finalidade de entender todo este contexto.

Em resumo, o processo de ensino-aprendizagem é complexo e demanda de componentes na compreensão das dificuldades, exigindo uma capacidade na consideração de múltiplos fatores, haja vista que parte das dificuldades sejam devido à falta de interesse, o que reduz a necessidade de aprendizagem, consequência das experiências vividas pelo sujeito de acordo com relação socioculturais.

Para Garcia (1988) "o ser humano é como um centro de perspectiva, as coisas irradiam de si e, ao mesmo tempo em que é o núcleo de seu próprio universo, aquele que acredita ser o ápice da "criação" é o que altera e compromete a natureza, os outros e a si mesmo".  Assim, em suas interpretações, o indivíduo mescla a realidade com seus pensamentos. O TDAH provoca muitos conflitos na vida de indivíduos que são portadores desta dificuldade, devido às relações interpessoais instáveis e o baixo desempenho escolar, resultando em relacionamentos conflituosos familiares e sociais, isto devido ao conjunto de patologias psiquiátricas que podem se associar ao transtorno, como depressão, transtornos de ansiedade, transtornos de humor bipolar e de personalidade e alterações de conduta na idade adulta.

Para os estudiosos deste transtorno, os pacientes com TDAH desenvolvem alterações específicas na função cognitiva nomeada como Função Executiva (FE), que coordena a memória imediata e a verbal, coordena também a auto regulação dos afetos e possibilita a análise do próprio comportamento. Assim, alterações neste mecanismo resultam no prejuízo destes impulsos, dificultando a aquisição de informações, o que pode interferir em respostas verbais aos estímulos.

O TDAH compromete o comportamento e acarreta no mau funcionamento da função executiva. Graeff e Vaz (2006) relatam que indivíduos com TDAH demonstram dificuldades na percepção objetiva da realidade, de sistematização e concentração, com o desempenho de tarefas de forma rápida, porém superficial com relação a outros indivíduos. Assim, ao desempenhar a razão com dificuldade, as falhas do pensamento lógico e do controle geral da impulsividade acabam afetando o o auto controle emocional. Nessa perspectiva, na rotina do indivíduo com TDAH, é muito importante a motivação que em determinadas situações pode ser controladas pela natureza sensorial, aonde o limite conduzido pelas alterações do ambiente influencia em suas respostas com o meio.

A natureza de alterações comportamentais e suas causas, sendo elas ambientais ou neurofisiológicas, interferem nas mudanças de um sistema frente à condição simulatória, resultando em alterações temporárias, diferente da aprendizagem em que são consideradas mudanças permanentes, pois por meio dela o indivíduo pode perceber acontecimentos com clareza. Assim, os homens equipados e limitados transformam o mundo à sua maneira, classificando e definindo suas mudanças e os seres que o compõem.

Compreendemos que qualquer contexto pode ser entendido de forma particular, na interpretação do mundo que o homem compõe, de algum modo é preciso estudar a complexidade da questão em entender o universo da criança com TDAH, onde a aprendizagem está abaixo de suas capacidades sensoriais, ficando submissa ao estado motivacional do indivíduo e da carga genética que por meio de interações e estímulos, modifica-se de acordo com seu ritmo individual.

Não se pode considerar e valorizar apenas uma habilidade cognitiva da criança com TDAH. É necessário levar em conta todas suas supostas capacidades. Assim, integrando às características do ambiente a que pertence e suas funções é possível obter formas comportamentais que possibilitem a busca da sobrevivência.

O grande desafio é a modificação do contexto escolar, permitindo que sejam educadas todas as crianças, para que haja uma educação inclusiva verdadeira. Para tal, não apenas as políticas públicas devem ser consideradas e tampouco somente as regras pedagógicas. Tais mudanças precisam valorizar ações sociais dos educandos, com todos os envolvidos no contexto familiar e escolar.

A família divide as responsabilidades na abordagem pedagógica relacionada à criança com TDAH. Assim, os professores precisam se capacitar, estar conscientes sobre TDAH e adotar a família como interlocutores, impondo-lhe a tarefa que lhes cabem, fazendo as cobranças devidas. Com relação ao TDAH, na atualidade devem ser promovidas as necessidades de cada estudante com TDAH, sem que haja uma generalização na categoria educação especial.

Assim, consideramos que mesmo com o diagnóstico possa existir uma variabilidade no comportamento e na posição individual de cada indivíduo diante dos muitos contextos que lhe podem ser impostos, e a garantia de uma educação de fato especial, considerando as necessidades não somente dos educandos, mas de sua família, deve ser o respeito a essa individualidade.
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Como referenciar: "A Aprendizagem Escolar Diante do Déficit de Atenção" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 30/04/2024 às 00:17. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/deficitatencao/index.php?pagina=3