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Da Educação Inclusiva ao Planejamento Educacional Inclusivo: Exercícios de um Professor Autista em Formação (página 3)

3 EXERCITANDO UM PLANEJAMENTO EDUCACIONAL INCLUSIVO PARA O COMPONENTE ARTES

A última solicitação do trabalho que resulta nesse texto era que montássemos um breve planejamento educacional inclusivo. No planejamento pedagógico deve-se definir os objetivos e as estratégias que serão orientadores do processo ensino-aprendizagem. Nele, pede-se que sejam identificados, minimamente: tema, período em que o projeto será trabalhado; séries ou anos que serão contemplados pelo projeto; objetivos; justificativa; metodologia; avaliação das atividades realizadas; referências. Com base nisso, apresento a proposta a seguir, que tem como assunto a "Semana da Arte Moderna".

Tema a ser trabalhado: Artistas visuais da Semana da Arte Moderna
Período em que o projeto será trabalhado: três aulas
Séries ou anos que serão contemplados pelo projeto: 1º ano do ensino médio

Objetivos do projeto
Objetivo geral:
Conhecer a Semana da Arte moderna e obras de arte visual relacionadas a referido movimento
Objetivos específicos:
-     Entender o contexto do país na época da Semana da Arte Moderna
-     Apresentar as artes visuais de artistas plásticos como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret e outros
-     Refletir sobre diversidade, preconceito e discriminação
-     Estimular o processo criativo dos estudantes.

Justificativa do projeto
A BNCC prevê entre o desenvolvimento da habilidade de "analisar e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluindo suas matrizes indígenas, africanas e europeias, de diferentes épocas, e favorecendo a construção de vocabulário e repertório relativos às diferentes linguagens artísticas". Assim, o projeto se justifica porque a Semana da Arte Moderna faz parte do nosso patrimônio cultural e no movimento a ela relacionado é proposta a incorporação de elementos de matriz indígena e africana como parte da identidade cultural do povo brasileiro.

Metodologia Estratégica
O conteúdo será apresentado em slides com poucas frases e um maior número de fotografias das obras de artes visuais dos participantes da Semana da Arte Moderna.
Primeiro será empregada preleção-dialogada para apresentar o contexto histórico, explicando o que estava acontecendo na economia e na vida social e cultural na época. Depois, os principais artistas que participaram desse movimento também serão apresentados, bem como as suas obras.
Se na turma houver estudantes com deficiência visual, como tecnologia assistiva será entregue a esses alunos uma folha com as principais obras em questão contornadas por barbante, para que, por meio do tato, eles possam acompanhar e participar da discussão.

Na hora de apresentar os autores das artes visuais, também será abordada a questão da mulher naquela época e o fato de que a Anita Malfatti tinha uma deficiência no braço direito. Como ela foi vítima de muito preconceito por ser mulher, ter uma deficiência física e ter desenvolvido problemas emocionais, nessa hora será trabalhada a acessibilidade atitudinal, porque vamos  refletir sobre a diversidade, o preconceito e a discriminação, destacando que a diversidade é uma coisa comum entre os seres humanos e que todo mundo tem algo a oferecer.

Na segunda aula os alunos serão divididos em grupos que poderão escolher entre recriar livremente uma obra visual da Semana da Arte Moderna ou fazer uma fotografia encenando a obra escolhida. Para isso, o professor ficará atento com a mediação dos grupos tomando cuidado para ninguém ficar excluído ou mesmo ser discriminado dentro do grupo.
Na terceira aula os grupos vão apresentar seus trabalhos visuais e destacar o que mais gostaram no conteúdo e o que tiveram mais dificuldade de compreender, para que possa ser feita uma recuperação de aprendizagem caso isso seja necessário.

Avaliação das atividades realizadas
As atividades serão avaliadas pelo envolvimento dos alunos, pela qualidade da interação nos grupos e pelo produto final

Referências a serem encaminhas aos estudantes
AIDAR, L. Semana da Arte Moderna. Toda Matéria.
DIANA, D. Anita Malfatti. Toda Matéria.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Optei pelo curso de Artes Visuais com a intenção de um dia me tornar professor de Artes, por isso pensei em um planejamento educacional inclusivo envolvendo a temática. Nesse planejamento, que teve como assunto a Semana da Arte Moderna, destaquei na metodologia uma tecnologia assistiva para alunos com deficiência visual, a mediação do professor ao formar grupos, que é uma coisa fundamental para alunos que estejam no espectro autista, como eu, e a acessibilidade atitudinal, que eu desconhecia e descobri que é um trabalho que precisa ser feito pela escola para melhorar a maneira como as pessoas percebem quem é diferente delas ou quem destoa, por algum motivo, da maioria.

Ao realizar esse trabalho dei-me conta de que, mesmo tendo estudado em boas escolas segundo o entendimento corrente na cidade onde vivo, em nenhuma delas havia projetos assim por iniciativa institucional. O que houve de mais próximo se deu sempre por iniciativa isolada de um ou outro docente atento ao fato de que todos temos direito ao aprendizado e a sermos tratados com respeito no ambiente escolar. Se a escola não se comprometer, institucionalmente, a discutir e ensinar sobre o direito a aprender sendo exatamente quem se é, onde as pessoas vão aprender que não têm o direito de discriminar quem é diferente delas?

REFERÊNCIAS  
BRASIL. Lei no. 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Brasília, 2012.
BRASIL. Lei no. 13.146 de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, 2015.
DIVERSA. Educação Inclusiva na Prática. Disponível em: https://diversa.org.br/. Acesso em: 10 abr. 2022.
GIL, J. Plano Nacional de Educação (verbete). In: OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, A. M. C.; VIEIRA, L. M. F. Dicionário: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010.
GUTIERREZ, S. Professores Conectados: trabalho e educação nos espaços públicos em rede. 2010. 277 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-graduação em Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, 2010.
MORAES, L. A educação especial no contexto do Plano Nacional de Educação. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2017.
PEREIRA, D. O Profissional de Apoio na rede estadual de ensino de Minas Gerais. 2021. 202fs. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-graduação em Educação. Universidade de Uberaba. Uberaba, MG, 2021.
PEREIRA, D.; MÁRQUES, F.T. A Educação Especial e as Políticas Públicas na Perspectiva da Educação Inclusiva. Revista Profissão Docente, v. 20, n. 44, 2020.
SOUSA, I. V. de. Educação especial no Brasil: percursos e avanços. In: SOUSA, I. V. de. (org.). Educação Inclusiva no Brasil: história, gestão e políticas. Jundiaí: Paco Editorial, 2019.

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Como referenciar: "Da Educação Inclusiva ao Planejamento Educacional Inclusivo: Exercícios de um Professor Autista em Formação" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 06/05/2024 às 08:45. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/educacao_inclusiva_planejamento/index.php?pagina=2