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A Educação de Jovens e Adultos: Estudo das Motivações Mobilizadoras Determinantes da sua Permanência em Sala de Aula (página 2)



2  A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: dados históricos

Compreende-se por educação de jovens de adultos o processo de alfabetização que inicia-se com alunos maiores de 18 anos, que por algum motivo não tiveram acesso ou não concluíram seus estudos. Uma vez que a educação de jovens e adultos está regulamentada, pela resolução nº01/2000 CNE parecer 11/2000 CNE/MT e pela resolução nº180/2000 CEE/MT onde garante, entre outros, o ensino a todos os cidadãos que não tiveram oportunidade de estudar em idade adequada.

[...] A palavra clássica "pedagogia" se aplica a educação de crianças como estabelece a etimologia. De acordo com Jiménez Ortiz, o conceito de Andragogia é um neologismo proposto pela UNESCO em substituição a palavra pedagogia, para designar a ciência da formação dos homens, de maneira que não haja confusão com a educação de crianças, sendo uma educação permanente. (CAZAU, 2001, apud Florentino, 2007, p.06)

    Porém, para que a Educação de jovens e Adultos que se propõe a preparar o indivíduo para que este possa viver em sociedade, atuando de forma participativa no meio, principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho, deve ainda passar por grandes transformações, necessita de mudanças.
    Sendo assim, a Educação de Jovens e Adultos deve, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, buscar a socialização entre práticas pedagógicas e práticas administrativas, afim de proporcionar de forma satisfatória ao cidadão condições voltadas especificamente para sua alfabetização, buscando não apenas torná-lo letrado, mas contribuindo para que o mesmo, conheça através da alfabetização princípios éticos, morais, deveres e direitos dentro de uma sociedade.

...o alfabetismo tem o poder de promover o progresso social e individual; seu pressuposto é a crença de que o alfabetismo tem, necessariamente, consequências positivas, e apenas positivas: sendo o uso das habilidades e conhecimentos de leitura e escrita necessária para "funcionar" adequadamente na sociedade, participar ativamente dela e realizar-se pessoalmente, o alfabetismo torna-se responsável pelo desenvolvimento cognitivo e econômico, pela mobilidade social, pelo progresso profissional, pela promoção da cidadania. (SOARES, 2004, p. 35)

    No entanto, essa sociedade de forma geral é injusta com o seu iletrado, na maneira que trata esse sujeito.
A Lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996 da Educação de Jovens e Adultos apresenta em sua SEÇÃO V, DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada aqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.
1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,consideradas as características do aluno, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.
1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se ao:
I - no nível de conclusão do ensino fundamental para os maiores de quinze anos;
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de quinze anos;
III - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoitos anos.
2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais são aferidos e reconhecidos mediante exames.
Paulo freire tem sido referencia para as reflexões acerca da educação de Jovens e Adultos, no entanto esta modalidade de ensino vem buscando concretizar o ideal de um Brasil alfabetizado, muito antes de seu surgimento.
    O Brasil vem a muitos anos lutando para extirpar o analfabetismo de jovens e adultos no país, inúmeros foram os projetos e campanhas para que a erradicação. No entanto, por um longo período, surgiram variadas nomenclaturas para campanhas semelhantes que não alcançaram o objetivo esperado.
    Somente na primeira metade do século XX, após incansáveis movimentos de massas populares que pediam por melhores condições e direitos sociais de cidadania, é que o Governo Federal atuou de maneira severa e a Educação de Jovens e Adultos torna-se parte de uma política de educação nacional.
    Na década de 40 a criação do Fundo nacional de ensino Primário (FNEP), do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisas (INEP), lançamento da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA) e surgimento das primeiras obras, destinadas ao ensino supletivo é que a educação de jovens e Adultos, ganha espaço e firma-se como questão nacional. Segundo Moll (2001, p.27) "O movimento de redemocratização do país, a partir de 1945, depara-se com 56% da população adulta (15 anos e mais) analfabeta."
    Em 1946 o Brasil passa de um modelo agrícola para modelo industrial, o que gerou a necessidade de uma mão de obra qualificada e alfabetizada, Por isso o MEC lança em 1947 a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA) que visava não só alfabetizar, mas também qualificar o trabalhador. Esta campanha foi desenvolvida no meio rural e urbano.
    Nos anos 50 foi criada a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), esta marca uma nova etapa sobre a Educação de Jovens e Adultos, pois seus organizadores compreendiam que alfabetizar adultos não traria benefícios e buscavam atentar-se para a alfabetização de crianças e jovens, visto que este "benefício" ainda poderia ser de grande valia e transformação em sua vida. Campanha que foi extinta em 1963. Segundo Pinto (1982, p 81), "É uma tese errônea e cruel admitir que se deva condenar os adultos à condição perpétua de iletrados e concentrar os recursos da sociedade na alfabetização da criança, mais barata e de maior rendimento futuro."
Em 1964 foi criado um dos últimos programa de alfabetização de adultos, que tinha como referencial o método freiriano.  No entanto, a repreensão do governo no ciclo militar pôs fim a estas e outras campanhas.  Freire, professor, escritor, que lutou arduamente contra o analfabetismo de jovens e adultos, cria sua própria concepção de alfabetizar, que ficou conhecido como "método Paulo Freire ou método Freiriano".

Exilado, esteve na Bolívia e depois no Chile, onde por quatro anos trabalhou junto ao serviço de extensão cultural do governo de Salvador Aliende desenvolvendo o mesmo tipo de atividade e pesquisa que realizava no Brasil. Sua experiência do exílio pode ser qualificada como profundamente pedagógica, pois lhe possibilita questionar Brasil, compreendê-lo melhor, compreender o que havia feito, e oferecer sua contribuição a outros povos. (MOLL, 2001, p.94).

Nem mesmo o exílio fez com que Paulo freire deixasse de desenvolver seu conceito  de alfabetização usando palavras geradoras, no exterior, que antes de serem analisadas em um contexto dialético, eram analisadas em contexto de vivência do educando, e aplicadas de forma que ele se identificasse dentro deste contexto. Foi com certeza um dos maiores avanços no que se refere a educação de jovens e adultos. A fim de divulgar seu "método" de alfabetização, Freire buscou auxílio junto aos governantes, porém, não aspirava finalidades políticas. Todavia, muitos aproveitaram para fazer-lhe críticas. Seu método espalhou-se rapidamente por todo país, e influencia educadores até os dias atuais.
     Freire era contrário ao método utilizado em cartilhas, onde o educando deveria conhecer as sílabas e orientado pelo professor, passavam a juntá-las e criar palavras, frases soltas, sem sentido para o mesmo.

Assim, quando Paulo Freire se insurge contra as lições que falam de Evas e de uvas a homens que ás vezes conhecem poucas Evas e nunca comeram uvas, não está se insurgindo contra o "método" que, das "palavras geradoras" Eva e uva, tira a "família va- ve- vi- vo- vu", porque ele também propõe que das "palavras geradoras" tijolo ou favela se tirem as "famílias" ta- te- ti- to- tu, fa- fé- fi- fo- fu; está se insurgindo, isto sim, contra a distância entre Evas e uvas e a experiência existencial do alfabetizando, que empilha tijolos e mora em favela; está se insurgindo contra a alfabetização considerada apenas aquisição de uma técnica mecânica de codificação/decodificação, e não como ato de reflexão, de criação, de conscientização, de libertação. Portanto: não é o método que é novo, não é um método de alfabetização que Paulo Freire cria, é uma concepção de alfabetização, que transforma fundamentalmente o material com que se  alfabetiza, o objetivo com que se alfabetiza - enfim: o método com que se alfabetiza. (SOARES, 2004, p.119)

    O educando então, apenas memorizava e repetia este "ritual" quantas vezes fossem necessárias. Sendo assim, não desenvolvia seu senso crítico e não adquiria conhecimento intelectual. Freire acreditava que o educando adulto devesse aprender usando palavras de seu vocabulário diário, assim a construção do conhecimento estaria ligada a realidade do aluno, teria sentido para ele.

Mas Paulo Freire criou; e criou muito além de um método: criou uma nova concepção de alfabetização no quadro de uma, também nova, concepção de educação.  Não apenas uma concepção de educação como diálogo, que disso, realmente não foi ele o inventor (terá sido Sócrates?), mas uma concepção de educação como "prática de liberdade" educação como "conscientização", e disso, realmente, foi ele o inventor (...); mas uma concepção de alfabetização da cultura, como oportunidade de reflexão sobre o mundo e a posição e o lugar do homem nele. (SOARES, 2001, p38 apud SESI, 2003, p 20)

    Em 1964 com a tomada do poder, o golpe militar oprimiu todos os movimentos com ações sociais, temendo-se a liberdade democrática, inclusive o método freiriano. Para substituí-lo, em 1967 foi lançado o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), que funcionou até 1985 e foi um dos mais conhecidos.
Totalmente avessa ao método freiriano o MOBRAL buscava alfabetizar o adulto passando-lhe mensagens apelativas que apresentavam uma sociedade perfeita, moderna, onde ele seria inserido.
    A seguir foi criada a fundação Educar, extinta em março de 1990 no início do governo Collor. Década em que as autoridades pouco contribuíram em investimentos para a Educação de Jovens e Adultos.
     De acordo com relatório da comissão internacional sobre a educação para o século XXI, da UNESCO, a educação deve ser um meio que conduza a transformação não somente do educando, no que diz respeito ao seu crescimento intelectual, mas de toda uma sociedade visando o seu desenvolvimento em amplitude harmoniosa, exclusão de preconceitos, melhores condições de vida, sem violência e sem guerras. Entre os acordos firmados em Dacar durante encontro de educação, dois dizem respeito á Educação de jovens e Adultos, são eles:
    "garantir que as necessidades básicas de aprendizagem dos jovens sejam satisfeitas de modo equitativo, por meio de acesso a programas de aprendizagem apropriados;
    atingir, até 2015, 50% de melhoria nos níveis de alfabetização de adultos, em particular para as mulheres, em conjunção com o acesso equitativo à educação básica e continuada de adultos."
    Em 2003 foi criada a Secretária Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo, cuja meta era erradicar o analfabetismo durante os quatro anos de mandato do governo Lula. Para tanto foi lançado o Programa Brasil alfabetizado, que visa não só a educação de adultos, como também a formação de alfabetizadores. Visto que este é de extrema importância neste processo de alfabetização. Sabe-se que atualmente o Brasil ocupa o 15º lugar no ranking de analfabetismo em lista onde incluem-se 22 países da América latina. O maior percentual observado dentro do país abrange adultos com 25 anos ou mais, com taxa de 12,5%. Entre eles, estão inseridos negros, nordestinos e pessoas com renda salarial baixa.
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Como referenciar: "A Educação de Jovens e Adultos: Estudo das Motivações Mobilizadoras Determinantes da sua Permanência em Sala de Aula" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 19/04/2024 às 17:30. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/ejaestudo/index.php?pagina=1